As bombas, os tiros e as explosões quase nunca são os elementos mais impressionantes para jornalistas que se aventuram nos campos de batalha. O som e a ferocidade dos combates, de certa forma, já estão contabilizados no pacote de expectativas que todo repórter leva consigo quando vai para o front.
Tirando a poeira a cair sobre rosto e o medo de que algo dê errado, tudo aquilo parece um conjunto de cenas repetidas de um filme ou de um momento que já se viveu.
| Fabio Braga - 23.mar.2015/Folhapress | ||
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| O casal Barzan Iso e Raushan Khalil é usado por Patrícia Campos Mello para retratar guerra na Síria |
O que impressiona de verdade é ver como a vida segue seu ritmo, ainda que próprio, diante e durante o caos de uma guerra. Sabe-se lá como, as pessoas, mesmo aquelas tão próximas de onde matar e morrer é um detalhe, continuam a perseguir seus objetivos mais simples, a realizar seus afazeres mais banais, a viver suas pequenas e grandes tragédias humanas.
Vivem ali, como os mesmos sentimentos de cada um de nós: a raiva, a inveja, a cobiça, o ódio, o amor.
| Lua de Mel Em Kobane |
| Patricia Campos Mello |
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"Lua de Mel em Kobane", livro da repórter da Folha Patrícia Campos Mello que chega às livrarias nesta quinta-feira (30), fala disso.
Conta uma dessas incríveis e insólitas histórias de resiliência humana diante de cenários apocalípticos.
Mas não só. É uma reportagem profunda sobre um momento e um lugar que ficarão marcados como a grande tragédia humanitária deste início de século. E é por meio de gente simples, com desejos e sonhos absolutamente terrenos, que essa história é contada.
MEIO MILHÃO
Repórter experiente, com passagem por diversas áreas de conflito, Patrícia percebeu logo a força da bela e trágica história de amor de Raushan e Barzan, um casal curdo unido pela guerra que devastou a Síria e parte do Iraque nos últimos seis anos.
É com eles que Patrícia mostra os impactos sobre a gente comum de um conflito brutal, que já deixou quase 500 mil mortos e está transformando profundamente a geopolítica do Oriente Médio.
Raushan e Barzan se encontram no exílio. Ele na Turquia, ela na Rússia, se conhecem por redes sociais e se apaixonam durante chamadas videofônicas. Declaram-se casados e juntos voltam para uma Síria destroçada a fim de defender uma cidade que se tornou símbolo na luta contra o Estado Islâmico.
Kobane, um povoado curdo na fronteira síria com a Turquia, foi palco da maior batalha e da maior vitória dos curdos contra os extremistas que queriam fazer do Oriente Médio um califado de costumes medievais.
No segundo semestre de 2014, logo após ter conquistado Mossul, a segunda maior cidade iraquiana, o Estado Islâmico concentrava seus esforços em tomar esta cidade de 50 mil habitantes.
Foram meses de batalhas, até que, com a ajuda da aviação americana e de curdos de outras partes da Síria e do Iraque, a facção terrorista foi expulsa. É nesse cenário pouco inspirador que os recém-casados Raushan e Barzan passam sua lua de mel.
Apesar de contar uma história de amor, o livro não trata de fantasias nem sonhos.
É um livro de repórter, com informações checadas à exaustão, compromisso histórico e graciosamente distante do maniqueísmo tão utilizado para explicar o Oriente Médio.
"Lua de Mel em Kobane" é também um guia para ajudar tanto leigos como aqueles familiarizados com a geopolítica local a entender parte desse conturbado confronto.
Como nas grandes histórias, o acaso deu uma mão à autora: Patrícia só encontrou os personagens de seu livro porque os planos de uma reportagem que preparava para a Folha falharam de uma hora para a outra.
O livro é, pois, a prova de que bons repórteres sempre estão atentos mesmo quando tudo parece ter dado errado.
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Lua de Mel em Kobane
AUTOR: PATRÍCIA CAMPOS MELLO
EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS
QUANTO: R$ 49,90 (E-BOOK R$ 34,90); 192 PÁGS.
QUANDO: LANÇAMENTO: 11.DEZ, ÀS 19H, NA LIVRARIA DA VILA (R. FRADIQUE COUTINHO, 915, SÃO PAULO)