Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Ramo místico do Islã, o sufismo é alvo constante de extremistas

O ataque desta sexta (24) no Sinai vem engrossar uma longa lista de incidentes violentos contra aderentes do sufismo, o ramo místico do Islã praticado pelos frequentadores da mesquita atingida pelos terroristas.

Os sufistas, ou sufis, são alvo constante de extremistas islâmicos por praticarem uma disciplina interior de sua religião que é vista por muitos como herética. Santos são adorados, a música e a dança têm papel fundamental na união entre o fiel e Deus, como os famosos dervixes rodopiantes da ordem Mevlana na Turquia atestam.

Em sua maioria, eles fazem parte do ramo majoritário do muçulmanismo, o sunita, embora haja sufismo em áreas xiitas também —como o Irã, onde o governo é acusado de perseguir os fiéis.

AFP
Pessoas feridas dentro da mesquita após o ataque desta sexta-feira
Pessoas feridas dentro da mesquita após o ataque desta sexta-feira

Há inúmeros relatos sobre o uso de drogas como o haxixe, por algumas ordens sufistas, para atingir estados alterados de consciência na comunicação com o divino, e práticas mágicas e milagres não são incomuns em histórias contadas por todo o mundo islâmico.

Para estudiosos mais puristas do ramo, esses casos são minoritários e denotam degeneração do sentido original da ligação com Deus proposta pela via mística, além de ampliar o preconceito contra o grupo.

O sufismo ganhou essa denominação na mão de exploradores britânicos do século 19 —sufi é árabe para "quem usa lã", no caso andrajos simples de andarilhos religiosos, os "loucos de Deus" medievais que peregrinavam pela antiga Rota da Seda entre a China e o Ocidente. Foi uma forma ocidental de diferenciar as práticas muito comuns na Índia sob domínio de Londres, em especial onde hoje é o Paquistão, e também em partes do Afeganistão e ao longo de toda a Ásia Central, Turquia, chegando até o Norte da África.

Além de santuários, que os extremistas e mesmo ortodoxos mais moderados consideram condenável idolatria, os sufis são conhecidos por sua tolerância religiosa.

Nas áreas tribais do Paquistão, mesquitas e túmulos de santos foram destruídos sistematicamente durante o período em que o Taleban local e outros fundamentalistas travaram uma guerra aberta contra o governo, em 2008 e 2009.

Na política local, os sufistas ainda detêm influência, bastando procurar autoridades que usam a designação Pir (mestre) antes do prenome para identificar um líder importante oriundo do grupo.

No Egito, as principais ordens sufis estão concentradas no Cairo. Como ocorre perto da torre de Galata em Istambul, há performances públicas de dervixes rodopiantes em lugares como o centro Wekalet el-Ghouri, ao lado do popular mercado de Khan al-Khalili. Nos últimos anos, a segurança no local foi aumentada sensivelmente.

Em Nova Déli, na Índia, a mesquita-mausoléu Nizamuddin Dargah sempre tem fiéis entoando as hipnóticas melodias sufistas sob o olhar de guardas armados.


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