Folha de S. Paulo


Detido, ditador do Zimbábue se reúne com enviados da África do Sul

Themba Hadebe - 3.out.2017/Associated Press
O ditador Robert Mugabe durante encontro diplomático em outubro

O ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, 93, e o comandante das Forças Armadas, Constantino Chiwenga, 61, estiveram reunidos com representantes da África do Sul nesta quinta-feira (16).

Eles buscam uma solução para o impasse vivido pelo país após Mugabe ter sido detido por militares, nesta quarta (15). As fotos do encontro na residência oficial foram publicadas pelo jornal estatal "Herald". Nas imagens, além do ditador e de Chiwenga, também aparecem os ministros da Defesa e da Segurança de Estado dos dois países.

Zimbábue

Editoria de Arte/Folhapress

Não foram divulgadas informações sobre o conteúdo da conversa. Segundo fontes ouvidas pela agência Reuters, a pressão para que Mugabe aceite a oferta de uma saída honrosa é cada vez maior.

Um delas, que conversou com aliados do líder, contou que ele não planeja renunciar voluntariamente antes das eleições agendadas para o ano que vem. "É uma espécie de duelo, um impasse", disse.

O Exército defende que Mugabe, que comanda o Zimbábue desde sua independência em 1980, se retire sem alarde e permita uma transição pacífica para Emmerson Mnangagwa, o vice-presidente que o ditador demitiu na semana passada, desencadeando a crise política.

DETENÇÃO

Há 37 anos no poder e um dos líderes mais longevos e duradouros do mundo, Mugabe foi detido nesta quarta por um grupo de militares que se insurgiu contra o regime e ocupou as ruas da capital, Harare. Eles negam se tratar de um golpe de Estado.

Países vizinhos, como a África do Sul, já tentavam negociar com o grupo um diálogo para a transição do regime. Durante a manhã de quarta, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, disse que falou com Mugabe por telefone.

O ditador e sua mulher, Grace, 52, foram cercados pelos soldados de madrugada. Horas antes, centenas de membros das Forças Armadas haviam cercado Harare e tomaram prédios estatais, como a emissora pública ZBC.

O motim ocorre após uma disputa de poder no regime. Na semana passada, Mugabe destituiu seu vice, Emmerson Mnangagwa, 75, apoiado pelos militares para suceder o ditador. Dias depois, Mnangagwa deixou o país.

Também houve o expurgo de altos funcionários do regime ligados a Mnangagwa. O mandatário o acusou de planejar sua derrubada, inclusive com o uso de bruxaria.

O comando das Forças Armadas e parte da União Nacional Africana Zimbabuana, partido do regime, interpretou o gesto como a abertura do caminho para que a primeira-dama assuma o cargo na convenção da sigla, em dezembro.

Grace é apoiada pela juventude da agremiação, mas é impopular entre a população por seus altos gastos em meio à crise. Ela chegou a ser vaiada em um discurso, o que levou quatro pessoas à prisão.

A tensão escalou na segunda (13), quando o comandante Constantino Chiwenga exigiu que o ditador interrompesse os expurgos —uma reação inesperada dos militares, que o sustentaram nos últimos 37 anos.

"Devemos lembrar àqueles ligados aos atuais traidores que, quando tivermos que proteger nossa revolução, não hesitaremos em intervir."

A juventude do partido do regime disse que a nota do líder militar foi "calculada para prejudicar a paz nacional e incitar à insurreição". Após as Forças Armadas invadirem as ruas, o líder da facção partidária, Kudzanai Chipanga, pediu desculpas ao comando das tropas pela declaração.

Dissidentes do regime pedem que Mugabe deixe o cargo pacificamente. "O velho homem deve descansar", disse o ex-ministro Tendai Biti.


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