Folha de S. Paulo


Médico trava batalha de 8 meses para operar transgêneros no oeste dos EUA

O cirurgião tinha passado vários anos se preparando —lendo publicações médicas, encontrando pessoas para treinar, praticando em cadáveres—, até que só restava um obstáculo: obter a autorização para o procedimento médico que ele queria realizar em sua pequena comunidade na divisa dos Estados americanos de Washington e Idaho.

"Vaginoplastias", Geoff Stiller lembra de ter dito ao diretor-executivo do Hospital Regional de Pullman, referindo-se à construção cirúrgica de vaginas para mulheres transgênero. "Quero fazê-las no seu hospital."

Melina Mara/The Washington Post
O cirurgião Geoff Stiller visita Sarah Bergman, que se submeteu a uma vaginoplastia em Idaho
O cirurgião Geoff Stiller visita Sarah Bergman, que se submeteu a uma vaginoplastia em Idaho

Nove meses depois, ele lembra daquela conversa como o último momento em que seu pedido ainda parecia quase fácil. Ninguém ainda tinha citado versículos da Bíblia ou afirmado que a cultura estava eliminando a divisão entre homens e mulheres.

Outro médico de Pullman ainda não tinha enviado um e-mail para oito colegas de trabalho, que o reenviaram para todo o hospital, com o assunto: "Oposição à cirurgia transgênero". O hospital ainda não havia recebido centenas de cartas da comunidade.

O cirurgião ainda não tinha perdido nove quilos devido ao estresse, nem havia previsto que seu pedido poderia se transformar em algo mais para ele —uma luta não apenas por uma cirurgia, mas pelo que ele mais tarde chamou de "questão moral".

A única coisa que ele estava tentando fazer naquele primeiro dia era expandir sua carreira em uma direção que ele passara a considerar fascinante e muito necessária.

Várias dezenas de médicos americanos estavam realizando vaginoplastias, quase todos eles, até aquele ponto, em grandes cidades.

Mas Stiller, 47, era diferente daqueles médicos porque trabalhava em uma área rural de 60 mil habitantes, com cidades universitárias rodeadas por condados agrícolas conservadores.

Ele tinha passado a maior parte de sua vida profissional em cidades como essa, realizando apendicectomias, atendendo a emergências no meio da noite, correndo para o hospital em sua caminhonete.

Mas era exatamente por causa de onde trabalhava que ele tinha certeza de estar presenciando um movimento social —e médico— mais amplo. Mesmo aqui, uma série de pacientes transgênero chegava à sua sala de espera pedindo ajuda.

Uma paciente de mais de 60 anos, já ficando calva e grisalha, disse que acabara de decidir fazer a transição para o gênero feminino. Outra enrolou as mangas e mostrou ao médico que tinha feito cortes no próprio braço.

Outra ainda entrou pela primeira vez, trançando os dedos, quando o cirurgião se apresentou e disse: "Então, conte-me sua história".

"Eu vivo como eu mesma totalmente há cerca de dois anos e meio", disse ela.

"E a família? Aceita isso?", perguntou o médico.

"Não aprova. Não falo com eles há dois anos."

"Sinto muito", disse o médico, e então lhe perguntou como poderia ajudar.

Melina Mara/The Washington Post
O médico Geoff Stiller descansa após cirurgia em um hospital de Moscow, no Estado americano de Idaho
O médico Geoff Stiller descansa após cirurgia em um hospital de Moscow, no Estado americano de Idaho

Às vezes as pacientes queriam aumentar os seios. Outras, removê-los ou feminizar o rosto. Stiller oferecia esses procedimentos havia vários anos. Mas ele também tinha uma lista crescente de pacientes que se diziam interessadas em vaginoplastias.

Essa cirurgia era o passo final e mais importante na transição feminina —e nos últimos anos os planos de saúde haviam começado a cobrir seus custos. Ele só podia indicar um motivo pelo qual o procedimento não era mais comum: a falta de programas de treinamento.

Mas os vídeos que ele assistiu mostravam uma cirurgia que mantinha os nervos dos órgãos masculinos para construir genitais femininos funcionais e sensíveis. Os livros de medicina transgênero que ele comprou, citando diversos estudos, chamavam a cirurgia de "a melhor maneira" de ajudar as pessoas com disforia severa.

"É a coisa certa a fazer", Stiller viu-se dizendo.

Antes que ele falasse com o diretor do hospital, pacientes da região que queriam fazer essa cirurgia só tinham uma opção: ir a outro lugar. Eles podiam voar para a Tailândia ou a Índia e pagar em dinheiro.

Podiam colocar seus nomes em longas listas de espera de cirurgiões nos Estados de Montana, Idaho ou Washington que ofereciam a cirurgia —algo que ele disse ao diretor do hospital de Pullman.

Stiller acreditava que não havia razão para que as pessoas tivessem de ir tão longe. E se, em vez de ir à Tailândia, os pacientes pudessem pegar seus carros e dirigir até o hospital?

*

A primeira pista de que isso não seria fácil veio três meses depois que ele apresentou a ideia ao diretor, na forma de um e-mail de outro médico.

"Estou lhe escrevendo para tentar desenvolver uma resposta aos planos do doutor Stiller", começava um e-mail de Rod Story, e sua carta agora estava nas mãos de quase todos os funcionários do hospital de Pullman.

"Não acho os dados convincentes...", ele tinha escrito.

"Contraria os bons tratamentos médicos..."

"É drástico e irreversível..."

E então: "Se você quiser se somar a meus esforços contra essa técnica cirúrgica, por favor entre em contato".

Assim como Stiller, Story tinha boa reputação na comunidade. Ao contrário dele, porém, não via a cirurgia como a coisa certa a fazer, mas como algo que desafiava sua crença mais básica como médico e um cristão evangélico reformado: que há diferenças imutáveis entre homens e mulheres.

Story, 43, sentira conflitos sobre se devia compartilhar amplamente sua opinião. Ele respeitava o colega e o considerava muito capacitado. Além disso, gostava de seu emprego. Era médico no Hospital Regional de Pullman havia oito anos, tratando pacientes não cirúrgicos e ajudando os cirurgiões antes e depois dos procedimentos.

Melina Mara/The Washington Post
O cirurgião Rod Story escreveu carta contra ideia de Stiller de operar transgêneros em Pullman
O cirurgião Rod Story escreveu carta contra ideia de Stiller de operar transgêneros em Pullman

Ele e sua mulher tinham nove filhos, uma casa espaçosa e reformada sobre uma colina, um grande quintal com mesa de piquenique e vista para quilômetros de campos de trigo e lentilha e outras colinas.

"Nosso plano de viagem ao pôr-do-sol", era como a chamava a mulher do médico, Jenny.

Mas também sentia que ele havia construído sua vida seguindo sua consciência, mesmo quando era inconveniente. Duas décadas antes, Jenny tinha engravidado. Eles ainda não eram casados. Story era um pré-estudante de medicina. Eles não tinham dinheiro para ter um filho.

Estavam grávidos e tinham cruzado um limite moral, e conversaram sobre cruzar mais um limite —fazer um aborto. Mas ele saiu temporariamente da escola e ela teve o bebê. O hoje cirurgião passou três anos trabalhando como zelador, juntando dinheiro e sentindo que havia preservado em parte o que ele acreditava.

Quando ouviu falar pela primeira vez nos planos de cirurgia de Stiller, não enviou o e-mail imediatamente.

Primeiro fez um pouco de pesquisa no Google. Inseriu palavras como "risco de cirurgia transgênero", e reuniu 40 links ligados a transgênero em seu computador. Concluiu que Stiller tinha razão em estar preocupado com os pacientes e errado em lhes oferecer a cirurgia. Story achou que eram pacientes com problemas mentais.

"É um transtorno dismórfico corporal", foi a conclusão a que chegou. "A pessoa tem uma percepção incorreta de seu corpo. Provavelmente o exemplo mais comum é a anorexia."

Era o dever do hospital proteger esses pacientes, e não facilitar seus desejos. Isso bastou para preocupá-lo, mas para piorar, segundo ele, o hospital não podia garantir que ele seria dispensado de preparar os pacientes para as operações.

"Eu precisava de conselhos", Story lembra que disse ao pastor Doug Wilson, fundador da igreja que ele frequentava. Wilson disse que parecia que "uma moral secularista e descrente estava sendo enfiada por nossas goelas".

"O que é um homem? O que é uma mulher?", disse Wilson. "O consenso compartilhado quase desapareceu. Esta é uma questão fundamental."

Ele enviou o e-mail e esperou um dia enquanto ele se espalhava pelo hospital. Então seu telefone tocou. Ele foi chamado para uma reunião com o diretor executivo do hospital, Scott Adams, e o diretor médico, Gerald Early.

Os três conversaram durante mais de uma hora, segundo anotações feitas por Story, e no final Adams se perguntou se o hospital estava avançando rápido demais. Ele chamou as objeções de Story de "o ponto de inflexão".

Melina Mara/The Washington Post
Lua sobe no céu nas casas próximas à Universidade de Idaho, em Moscow
Lua sobe no céu nas casas próximas à Universidade de Idaho, em Moscow

O que aconteceu depois disso foi um anúncio: enquanto Stiller realizava duas vaginoplastias de treinamento —supervisionadas por um cirurgião mais experiente de Los Angeles—, o hospital de Pullman disse que pediria a opinião do público, aceitando comentários de moradores durante três semanas.

O anúncio inicial do hospital foi um pequeno comunicado de imprensa com um endereço de e-mail, mas assim que o anúncio foi publicado no Facebook bastou para abrir uma cisão na comunidade.

"Esta cirurgia vai salvar vidas", escreveu um morador.

"Cortar nossos órgãos sexuais não muda os cromossomos", disse outro.

"Um hospital deve ser um lugar de cura e repouso, e não um lugar de turbilhão e conflito cultural."

"Façam a maldita cirurgia e digam a todos que cuidem de sua própria vida."

O hospital recebeu centenas de comentários, assim como milhares de assinaturas em abaixo-assinados concorrentes iniciados pela igreja de Wilson e por um reitor associado da universidade.

O hospital ouviu ativistas, ex-pacientes, a União Americana de Liberdades Civis, funcionários em apoio, funcionários em oposição.

Durante tudo isso, o doutor Stiller permaneceu em silêncio. "O caminho seguro", dizia, mas ele também estava escondendo sua raiva.

Ficou afastado da internet, pulou refeições, passou uma semana acampando com seus pais —"apoiadores de Trump ao máximo", como os chamou—, mas não conseguiu lhes contar que estava defendendo essas cirurgias. "Estamos recuando em questões sociais", pensou.

Stiller imaginou que conseguiria realizar vaginoplastias em algum lugar. Tinha pedido autorização a outro pequeno hospital —o Centro Médico Gritman, a 16 quilômetros de Pullman, do outro lado da divisa com Idaho.

Lá, os administradores não levaram em conta a reação do público. Pareciam dispostos a abrir as portas para a cirurgia.

Talvez Stiller não precisasse do Pullman, afinal. Mas quanto mais se estendia o debate mais ele percebia que não era a única questão. Ele achava que todo hospital, diante dessa opção, deveria chegar à mesma decisão. "Precisamos nos habituar a cuidar desses pacientes", disse.

Melina Mara/The Washington Post
O médico Rod Story brinca com sua filha, Lucy, 7, na casa da família em Moscow, no Estado americano de Idaho
O médico Rod Story brinca com sua filha, Lucy, 7, na casa da família em Moscow, no Estado de Idaho

Enquanto isso, Story publicou suas opiniões nas redes sociais. Certo domingo, entrou na igreja e descobriu que o sermão era sobre ele. "Pensem em Rod e Jenny Story neste momento", disse o pastor Ty Knight à congregação, e o médico sentiu todos os olhares se virarem para ele e sua mulher.

Story havia se sentido um pouco solitário quando escreveu a carta. Seu primeiro e-mail foi lido por quase todo mundo no Hospital Regional de Pullman, postado nas estações de enfermeiros, e só duas pessoas lhe haviam respondido.

Mas aquela era a comunidade médica, e esta era a igreja, e havia 120 pessoas nos bancos e mil outros membros de congregações afiliadas na área, e foi aqui finalmente que Story sentiu apoio.

"Há um grande pecado que está tentando entrar [na região], o de fazer cirurgia transgênero", disse o pastor. "Rod está fielmente defendendo a palavra de Deus."

*

Enquanto o hospital discutia o que fazer, Stiller compilava uma lista de pacientes que queriam a cirurgia, e este era o nome mais próximo do topo: Sarah Bergman, 33, que morava a 3 quilômetros do Hospital Regional de Pullman.

"O último passo", dizia Bergman.

Durante muito tempo, o desejo da cirurgia tinha sido o segredo pessoal de Bergman —algo que havia descoberto na internet quando pré-adolescente.

A certeza de que era uma mulher remontava até onde Bergman podia se lembrar: com 2 ou 3 anos começara a usar vestidos. Aos 6, parentes diziam que esse comportamento tinha de parar.

Aos 12, quando começou a ter pêlos no rosto, Bergman se recusou a ir à escola, inventando desculpas durante dois anos, e afinal se tornou uma desistente na oitava série nos subúrbios do Arizona, que não se sentia à vontade quase em nenhum lugar, a não ser sozinha em seu quarto.

O mundo on-line foi o único para Bergman durante quase dez anos. Comer tornou-se uma compulsão, assim como jogar videogames —com um avatar chamado Sarah. O medo de ser rejeitada pela família era obsessivo.

Bergman finalmente disse isso do modo mais forçoso possível, aos 23 anos e pesando 160 quilos, com uma barba escura, enquanto passava por um drive-through da lanchonete Wendy's com seu avô: ela era uma mulher.

"Eu estava simplesmente desesperada", disse ela. "Depois disso, passei a existir no mundo real."

Primeiro começou a comprar algumas peças de roupas femininas. Mas então conheceu um terapeuta. Começou a usar uma esteira rolante. Emagreceu. Passou a tomar estrogênio. Fez remoção dos pêlos faciais. As pessoas começaram a aceitar que ela era uma mulher.

Em um fórum transgênero on-line, Bergman fez amizade com uma artista, então viajou a Pullman para conhecê-la. Em quatro anos elas estavam casadas, e Bergman se matriculou na Universidade Estadual de Washington, formando-se em biologia molecular, quase dez anos mais velha que seus colegas.

Ela considerava Pullman "uma boa cidadezinha", onde ganhava dinheiro dando plantão noturno como vigilante em um campus e se sentia segura andando de volta ao seu apartamento às 2h. Pela primeira vez, disse ela, quase não importava que fosse uma pessoa transgênero.

Mas então veio o anúncio do hospital de Pullman e todos os comentários —não apenas enviados ao hospital, mas no Facebook. A mulher de Bergman, que também é transgênero, temia por sua segurança.

Melina Mara/The Washington Post
Geoff Stiller prepara dupla mastectomia como parte de uma cirurgia de reatribuição sexual em Moscow
Geoff Stiller prepara dupla mastectomia como parte de uma cirurgia de reatribuição sexual em Moscow

Talvez as mesmas pessoas que chamavam os transgêneros de "desvios" na rede social estivessem atrás delas na fila do supermercado. Talvez seus vizinhos fossem os que leram a entrevista de Story ao jornal da faculdade, onde ele disse que as vaginoplastias ofereciam "falsas esperanças".

Um dia, a mulher de Bergman abriu seu laptop e escreveu uma carta. "Caro doutor Story", começava, e descrevia o "mal" que ele havia feito "sob o disfarce do cristianismo".

"Moro na região de Pullman há quase seis anos", escreveu ela, "e até esse episódio sentia-me em paz provavelmente pela primeira vez na vida. O seu comportamento virou essa paz de ponta-cabeça."

Bergman leu a carta e disse que era forte. Mas também pensou que nem todo mundo precisava concordar em abrir a porta ao progresso.

A cirurgia era uma decisão pessoal, entre um médico e um paciente. E no caso dela própria tinha sido fácil. Havia estudado como funcionava a cirurgia. Pesquisou os critérios para os pacientes: um período exigido de um ano usando hormônios e vivendo como mulher e cartas de referência de especialistas em saúde mental.

Ela também tinha avaliado os riscos. Alguns novos órgãos genitais de pacientes não funcionavam. Bergman sentiu que podia encarar tudo isso.

A única parte que ela não tinha imaginado era que um cirurgião de sua cidade se interessaria por vaginoplastias. Era um cirurgião que ela conhecia e de quem gostava —que tinha realizado outros três procedimentos cosméticos para ela.

Bergman tinha pensado em procurar uma clínica perto de Filadélfia para a cirurgia. Mas decidiu esperar por Stiller. Tiveram duas consultas durante o verão, e então Bergman estava pronta.

"Se todo hospital oferecesse isso, não seria tão complicado", disse Bergman.

"Um dia", disse a mulher dela, "acho que todo mundo a fará."

"Um dia."

*

Sete meses depois da conversa de Stiller com o diretor-geral, depois de todos os comentários públicos, depois das assinaturas e abaixo-assinados, o Hospital Regional de Pullman teve uma reunião de diretoria em que anunciaria a decisão final.

As pessoas lotaram a sala de conferências, incluindo Story, e sentados na frente estavam os membros do conselho do hospital.

Os administradores tinham preparado um relatório, distribuído ao público, dizendo que os últimos meses tinham sido "polarizadores", mas que os que apoiavam a cirurgia superavam em muito os oponentes.

Dizia que a "cirurgia de reatribuição de gênero é uma prática médica crescente". Então o conselho de sete membros votou por unanimidade a aprovação a Stiller.

Story saiu da sala antes do fim da reunião, e minutos depois estava em sua casa, na frente do computador, e desta vez puxou um documento no qual havia começado a trabalhar —e que não tinha certeza até agora se seria necessário.
Ele modificou algumas palavras e o releu. "Lamentavelmente estou renunciando ao meu cargo", dizia, e então agradeceu ao hospital por oito anos de emprego. Disse que seu último dia seria 31 de dezembro de 2017.

Nas semanas seguintes, ele pensou no que faria a seguir. Sua mulher temia que novos potenciais empregadores pesquisassem seu nome e concluíssem que ele era preconceituoso. Talvez pudesse procurar antigos amigos médicos para conseguir outro emprego na cidade.

"Não recebi muitas ligações de volta", disse Story certa noite.

"Você não recebeu nenhuma ligação", disse Jenny.

"Nossa cultura está avançando meio fora de compasso conosco", disse Story.

"Meio?", disse Jenny. "É uma direção totalmente diferente. Não estamos mais na mesma estrada."

Para Stiller, a aprovação do hospital de Pullman demorou meses, mas ele se sentia pouco melhor do que se o hospital tivesse dito não. Sentia que abrir o debate ao público tinha sido muito agressivo.

Dias depois, o Centro Médico Gritman também lhe deu a aprovação final: o diretor do hospital disse que considerava as vaginoplastias "nada diferentes de qualquer outra linha de serviços que podemos oferecer à comunidade".

Era aquele hospital, e não o de Pullman, que estava realmente disposto a tratar pacientes transgênero, sentiu Stiller.

E foi lá que Bergman chegou em uma manhã antes de o sol nascer numa sexta-feira fria de outono, no mesmo dia em que Story se encontrou com um corretor de imóveis para procurar um consultório particular.

Bergman caminhou até o segundo andar do hospital, colocou chinelos, um avental e esperou uma batida na porta do quarto de espera.

"Bom dia", disse o doutor Stiller ao entrar.

Ele se agachou junto ao leito de Bergman para ficar na altura dos olhos dela.

"Tem alguma dúvida?", perguntou.

"Quanto tempo o senhor acha que vai demorar?", perguntou ela, e ele disse cinco ou seis horas.

Ele sorriu. "Podemos correr e fazer em uma, se você quiser."

"Já passei por todo o nervosismo", disse Bergman.

"Está bem, assine a autorização e vamos começar."

"OK."

A operação demorou a manhã toda, e quando terminou Bergman foi levada à sala de recuperação, onde logo despertou, ao fim da anestesia, com ataduras em torno da região genital e um técnico cirúrgico dizendo: "Tudo correu ótimo, querida".

No corredor, os funcionários do hospital limpavam e esterilizavam os instrumentos cirúrgicos, enquanto Stiller enxugava um pouco de suor. Ele tirou uma pausa de 45 minutos e ligou para a mulher de Bergman.

Comeu um sanduíche, depois voltou ao centro cirúrgico, porque logo teria de trabalhar de novo. Tinha mais uma por marcada para a tarde, e uma terceira na manhã seguinte.

*Chico Harlan faz cobertura de economia pessoal como parte da equipe de Finanças de "The Washington Post"

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES


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