Folha de S. Paulo


Prefeito opositor pede novas sanções financeiras contra chavistas

Juan Manuel Herrera - 17.out.17/OEA/Divulgação
O oposicionista David Smolansky durante sessão da OEA em Washington (EUA)
O oposicionista David Smolansky durante sessão da OEA em Washington (EUA)

O prefeito oposicionista David Smolansky, 32, deixou a Venezuela após a Justiça decretar sua prisão por não impedir protestos contra o ditador Nicolás Maduro em El Hatillo, um dos cinco municípios que formam Caracas.

A ordem saiu após ele ter sido uma das principais vozes de seu partido, o Vontade Popular (direita), a chamar os manifestantes às ruas.

"Todos nós que pensamos diferente de Maduro temos uma senha para esperar quando eles vão passar a guilhotina. A minha saiu em 9 de agosto", disse à Folha.

Ele ficou quatro semanas se esquivando do regime até decidir sair. Com os portos fechados para permitir a chegada às ilhas do Caribe e o grande fluxo na divisa com a Colômbia, escolheu o Brasil.

Para o périplo terrestre, disfarçou-se tirando a barba que usava há dez anos e pôs óculos. Passou por 35 pontos de controle até conseguir entrar ilegalmente em Roraima em 14 de setembro.

Smolansky diz que, antes da viagem, contatou diplomatas brasileiros. Procurado, o Itamaraty não quis revelar com quem o venezuelano fez as tratativas.

Em Brasília, recebeu oferta de refúgio do chanceler Aloysio Nunes, mas seu plano é seguir em Washington, nos EUA. "Por lá tenho mais facilidade de contribuir politicamente para o meu país."

Ele passou o último mês e meio conversando com líderes internacionais, como o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, o ex-premiê britânico Tony Blair e o ex-presidente e Fernando Henrique Cardoso, com quem se encontrou na terça-feira (31) em São Paulo.

O prefeito elogia a atuação da comunidade internacional em relação à crise, mas defende que os governos latinos façam mais contra Maduro. "É muito importante que comecem a sancionar os altos funcionários do regime, seus laranjas e suas redes financeiras."

Enquanto viajava pela região, a coalizão oposicionista Mesa de Unidade Democrática (MUD) se preparava para as eleições de 15 de outubro para governador —com as quais não concordou.

A frente perdeu em 18 dos 23 Estados. E o racha interno cresceu quando quatro de seus vencedores se sujeitaram à Assembleia Constituinte, que o grupo considera uma fraude, para tomar posse.

Por isso, Smolansky defende que a coalizão seja refundada "com quem prioriza o fim do regime" e tendo como objetivo eleições livres. "É a luta que devemos ter para uma saída do regime menos traumática e mais pacífica."

NARCOPETROESTADO

Assim como a maioria da oposição, o prefeito considera que só um motim das Forças Armadas derruba o regime de Maduro, que chama de "um narcopetroestado administrado por militares".

"Hoje o regime da Venezuela controla o negócio lícito mais importante do mundo, mas também supostamente controla o negócio ilícito mais importante do mundo. É algo sem precedentes."

Assim como outros oposicionistas, ele foi alvo da praxe chavista de corte de recursos dos governos rivais. Também foi agredido e teve a casa invadida e pichada em fevereiro de 2016.

Chegou a ser convocado para depor na prisão do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência), mas, por considerar uma armadilha, não foi e passou duas semanas preso.

Mesmo com a falta de recursos e as ameaças, diz ter conseguido ampliar o atendimento de saúde em El Hatillo e manter a farmácia com todos os remédios mesmo em tempos de escassez.

Smolansky atribui o sucesso à ajuda de moradores e de doadores no país e no exterior. Questionado sobre como fez para driblar a barreira do regime à entrada de ajuda externa, diz: "Só meu padre sabe como conseguimos".


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