Folha de S. Paulo


Comemoração de formatura termina em tragédia para argentinos

Arquivo pessoal/AP
Grupo de amigos argentinos ao embarcar para Nova York
Da esquerda para a direita, Hernan Ferruchi, Alejandro Pagnucco, Ariel Erlij, Ivan Brajckovic, Juan Pablo Trevisan, Hernan Mendoza, Diego Angelini e Ariel Benvenuto no aeroporto de Rosário, Argentina, ao embarcar para Nova York; Mendoza, Angelini, Pagnucco, Erlij e Ferruchi morreram

A imagem de um grupo de oito argentinos sorridentes, entre 48 e 50 anos, todos abraçados e usando uma mesma camiseta, começou a circular na noite de terça-feira (31) e estampou os jornais e os noticiários matutinos nesta quarta-feira (1), em Buenos Aires.

Os homens eram colegas que haviam frequentado juntos o Instituto Politécnico Superior General San Martín, da cidade de Rosario, formando-se em 1987. No momento da foto, estavam embarcando no aeroporto desta cidade para São Paulo, onde fizeram escala para ir a Nova York. A inscrição nas camisetas ('Libre") remetia ao fato de estarem viajando sem as mulheres.

No total, eram dez _um embarcou em outro voo, o outro, Martín Marro, vive nos EUA e se juntou ao grupo aí. A proposta da viagem era passar alguns dias juntos e comemorar o aniversário de 30 anos de formatura do grupo no ensino médio.

A festa, porém, terminou em tragédia. Dos oito que aparecem na imagem, cinco morreram na terça-feira (31), no atentado ocorrido em Nova York. Marro está internado, em estado grave, mas fora de perigo. Os mortos são Hernán Diego Mendoza, Diego Enrique Angelini, Alejandro Damián Pagnucco, Ariel Erlij e Hernán Ferruchi.

Na manhã de terça-feira, tinham alugado bicicletas para passear pelo sul da ilha de Manhattan.

A viagem também incluiu uma ida a Boston, onde vive Marro. Alguns familiares do haviam ficado ali, e estavam voltando a Nova York logo após a tragédia.

O grupo se reunia anualmente para festejar cada aniversário de formatura. Para a data redonda de 30 anos, começaram os preparativos dessa ida aos EUA em outubro de 2016.

Quem organizou a viagem foi o mais bem-sucedido profissionalmente entre os colegas. Tratava-se de Ariel Erlij, 48, e era proprietário da empresa Ivanar, que comercializava produtos siderúrgicos na Província de Santa Fe. Erlij ajudou a pagar algumas das passagens dos colegas com menos recursos. Vivia na cidade de Funes, próximo a Rosario.

Vídeo mostra fuga de atropelador

Outro dos colegas conhecidos na região era Hernán Ferruchi, que depois de formar-se no "Poli", estudou arquitetura na Universidade de Rosario e, com seu escritório, realizou vários projetos que fizeram parte da modernização urbana do bairro de negócios da cidade, localizado junto ao porto. Local antes desvalorizado e onde, agora, há várias torres. O escritório de Ferruchi levantou algumas delas.

O Instituto Politécnico de Rosário, conhecido como "el Poli" pelos seus ex-estudantes, é tradicional na região. Inaugurado em 1907, passou por dificuldades financeiras nos últimos anos, levando os ex-alunos a organizarem-se para fazer doações e fazer leilões de objetos da instituição. Com isso, conseguiram pagar as dívidas do "Poli".

Na volta da viagem a Nova York, os colegas tinham preparada outra festa, junto aos que não haviam podido viajar com eles.

O governador da Província de Santa Fe, Miguel Lifschitz, declarou luto oficial por três dias.

O chanceler argentino, Jorge Faurie, declarou que estava "comovido com o que ocorreu em Nova York. Trabalhamos com as autoridades locais para dar assistência a nossos compatriotas".

Depois, num comunicado oficial, declarou que "a Argentina reafirma sua mais enérgica condenação a atos terroristas e à violência em todas as suas manifestações, além de reiterar a necessidade de aprofundar a luta contra esse flagelo".

MACRI

Na manhã desta quarta-feira (1), o presidente argentino, Mauricio Macri, comentou a tragédia, durante um evento com empresários no hotel Hilton, em Puerto Madero.

"Lamentavelmente tivemos mais um ataque terrorista em Nova York e as vítimas foram cinco rosarinos. Eram cinco empreendedores, protagonistas da sociedade argentina. Isso reforça que não há lugar para zonas obscuras no mundo de hoje e todos devem estar comprometidos dos pés à cabeça na luta contra o terrorismo."


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