Folha de S. Paulo


Maioria dos catalães aprova antecipação de eleição, diz pesquisa

Mais de metade dos catalães aprova a dissolução do Parlamento regional e a antecipação das eleições —dois gestos forçados pelo primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, na sexta-feira (27).

Uma pesquisa realizada pelo Metroscopia e publicada pelo jornal local "El País" neste domingo (29) aponta que 52% dos catalães estão de acordo com essas eleições e 43% estão contra.

Também neste domingo, Barcelona, capital da Catalunha, é palco de uma grande manifestação contra a independência e a favor da unidade espanhola. Segundo os organizadores, 1,1 milhão de pessoas participam da marcha —para a polícia local, são 300 mil pessoas.

As entrevistas foram feitas na terça-feira (24), antes que o Parlamento Catalão aprovasse um processo constituinte visto como declaração de independência.

A pesquisa ouviu 500 pessoas e tem uma margem de erro de 4,5 pontos percentuais, em ambas as direções.

A opção de eleições antecipadas —a princípio previstas ao fim de 2019, serão realizadas em 21 de dezembro— é apoiada mesmo por um terço dos eleitores do PDecAT (Partido Democrata Europeu Catalão), sigla do presidente catalão destituído, Carles Puigdemont.

Chegou-se a supôr que ele próprio fosse antecipar as eleições na quinta-feira (26), evitando a destituição de seu governo. Mas, pressionado pelas siglas separatistas que sustentavam seu mandato, Puigdemont não cedeu e foi adiante com a votação no Parlamento —feito pelo qual pode ser acusado de rebelião nesta segunda-feira (30).

A declaração unilateral de independência não atendia à maioria da população, segundo a pesquisa Metroscopia: 55% dos catalães recusava essa alternativa, enquanto 41% a defendiam.

A expectativa do governo conservador de Rajoy é de que, convocando eleições tão próximas, evitará as acusações de autoritarismo por ter dissolvido o Parlamento catalão e destituído o governo.

Ele também espera que os eleitores escolham partidos anti-independência, em vez dos separatistas que estavam no poder.

É a aposta também do partido de centro-direita Cidadãos, a segunda maior força na Catalunha, hoje na oposição. À Folha na semana passada seu líder, Albert Rivera, se disse confiante nos resultados do pleito.

"Eles têm perdido força", afirmou Rivera. "Confio no eleitorado que não é nacionalista. As pessoas têm saído às ruas para dizer 'basta'."

Uma pesquisa publicada pelo jornal "El Mundo" também no domingo (29) sugere que os partidos independentistas PDeCAT, ERC e CUP receberão no máximo 65 assentos nas eleições de 21 de dezembro, três a menos dos 68 necessários para governar e sete a menos do que têm hoje.

Houve manifestações a favor da unidade territorial na Espanha no sábado em Madri (28), e há protestos convocados ao domingo (29) em Barcelona, a capital catalã.

Quando começar, a campanha eleitoral na Catalunha contará com apoio externo. O ex-premiê francês Manuel Valls, nascido em Barcelona, deve ir ao território para apoiar sua permanência na Espanha. Outros dirigentes europeus foram convidados.

ASILO POLÍTICO

A dúvida para os próximos dias é o que fará o governo destituído de Puigdemont. Caso insistam em permanecer no poder, do qual já foram oficialmente destituídos, seu vice e conselheiros podem ser punidos.

Puigdemont corre o risco ele próprio de ser acusado de rebelião, pelo voto no Parlamento, e de usurpação de cargo público, por não aceitar sua remoção. Ele discursou no sábado (28), sem dar mostras de planejar aceitá-la.

O ministro belga de Migração, o nacionalista Theo Francken, afirmou neste domingo (30) que seu governo pode oferecer asilo político a Puigdemont, caso seu julgamento seja injusto. A Bélgica é um dos poucos países europeus que ainda não ofereceram apoio incondicional a Madri.

Em um sinal positivo para Madri, a polícia regional catalã, os Mossos d'Esquadra, não fizeram manifestação contra a ordem do governo central que destituiu no sábado o chefe da força, de Josep Lluís Trapero.


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