Folha de S. Paulo


Documentário relata violência sexual contra minoria rohingya em Mianmar

Documentário sobre violência sexual contra as rohingya

Elas fazem parte de uma sociedade tradicional, mas foram vítimas de violência sexual diante de seus parentes e vizinhos, viram seus familiares sendo mortos e tiveram de fugir sem nem ao menos a roupa do corpo.

Por isso, não viram mais sentido em continuar usando o véu islâmico ao expor para o mundo a violência que seu povo, os rohingya de Mianmar, estão sofrendo.

Foi com essa cena que o documentarista e jornalista bengalês baseado em Londres Shafiur Rahman deparou na província de Teknaf, no sul de Bangladesh, em janeiro deste ano.

"Foi uma decisão das meninas. Elas tiraram seus niqabs [tipo de véu islâmico] declarando que sua dignidade havia sido tirada pelo Exército birmanês e que elas haviam sido envergonhadas e abusadas diante de suas famílias e comunidades", contou Rahman, sobre o grupo que havia fugido de Mianmar havia 12 dias.

Rahman conta que não tinha intenção de fazer um documentário sobre o problema da violência sexual contra mulheres rohingya. "Eu estava só sentindo o terreno."

Shafiur Rahman/Cortesia
Rashida viu sua filha ser morta na sua frente; seu marido foi levado pelos militares e ela não sabe se ele ainda vive.
A refugiada rohingya Rashida, entrevistada para o documentário

"Estava entrevistando Rashida [uma das mulheres] fora de sua tenda de plástico e bambu. Era uma entrevista dolorosa onde ela descrevia a morte de sua filha de 12 anos e como a criança foi enterrada em segredo à noite", conta Rahman.

Um voluntário da ONG ACF o chamou para uma reunião com outras mulheres e disse a elas: "Ele é jornalista. Por favor, digam a ele, quantas de vocês foram violentadas?".

"Eles não levantaram as mãos, mas uma a uma todas levantaram. Foi um momento avassalador. Um daqueles momentos em que trabalho não é trabalho e você sente que testemunhou algo singular. As entrevistas que se seguiram foram extremamente difíceis para mim e para meu intérprete. O que ouvimos, nós não deveríamos ter de ouvir da boca de adolescentes."

Daí nasceu o documentário "Testemunho Rohingya: Sem razão para esconder nossos rostos" (veja vídeo acima).

Rahman conta que está filmando em Bangladesh pelo menos uma semana todos os meses do ano. Seu novo projeto é sobre o vilarejo de Tula Toli, palco de um massacre em Mianmar.

"Os testemunhos que coletei parecem indicar que o massacre foi planejado bem antes de 25 de agosto. Até agora, a narrativa tem sido de que as operações do Exército birmanês foram em resposta aos ataques dos rebeldes rohingya em 25 de agosto. Meu trabalho sugere que houve um planejamento prévio, o que é assustador. O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos e outras organizações estão chegando às mesmas conclusões."


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