Folha de S. Paulo


Iraque se aproxima do Irã e rejeita oferta curda de 'congelar' plebiscito

Reuters
O premiê iraquiano, Haider al-Abadi, se encontrou com o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei

O primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, reiterou nesta quinta-feira (26) que não aceitará a oferta da liderança curda de "congelar" o resultado do plebiscito de independência realizado no fim de setembro.

Na quarta-feira (25), além da suspensão dos efeitos do plebiscito, o Governo Regional do Curdistão (GRC) propôs um imediato cessar-fogo e o início de um "diálogo aberto com o governo federal baseado na Constituição iraquiana".

"Não aceitaremos nada menos que o cancelamento [do plebiscito] e o respeito à nossa Constituição", afirmou o premiê em um comunicado.

Em 17 de setembro deste ano, 92% dos curdos que vivem no Iraque e em áreas que estão sob o domínio do GRC votaram a favor da independência.

O governo central em Bagdá considera a causa separatista ilegal e tem adotado medidas retaliatórias, como a suspensão de voos internacionais a aeroportos da região autônoma curda e a decretação de prisão do presidente e de dois membros da comissão responsável pela organização do pleito.

Com a escalada de tensões, tropas iraquianas e milícias ligadas a Bagdá e ao Irã iniciaram uma campanha militar e avançaram sobre a província de Kirkuk no dia 15 de outubro.

Apesar de não integrar a região autônoma curda, grande parte de Kirkuk estava sob o domínio curdo desde o meio de 2014, quando combatentes da milícia terrorista Estado Islâmico perderam batalhas na região e foram expulsos pelos soldados curdos, chamados de peshmerga.

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A capital da província, assim como vários poços de petróleo, foram tomados por Bagdá, cujas tropas avançaram até a fronteira que separa a região curda do resto do território iraquiano.

O primeiro-ministro do Iraque viajou na quarta (26) à Turquia e visita nesta quinta-feira o Irã, ambos importantes aliados do governo central no conflito contra o movimento separatista. Eles também têm uma significativa população curda vivendo em seus territórios.

ALIADOS

Em um encontro em Teerã nesta quinta, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse ao primeiro-ministro iraquiano que ele não deveria contar com os Estados Unidos no combate contra o Estado Islâmico.

"Unidade foi o fator mais importante nas suas conquistas contra os terroristas e seus apoiadores", disse Khamenei. "Não confie nos Estados Unidos. Eles te prejudicarão no futuro."

O Iraque é um dos poucos países no mundo que mantêm relações próximas tanto com o Irã quanto com os Estados Unidos.

Os americanos, que levaram o atual governo xiita ao poder após derrubarem Saddam Hussein em 2003, têm atualmente 5.000 soldados no Iraque e fornecem apoio aéreo, treinamento e armas para o Exército iraquiano.

O Irã, também xiita, financia e treina tropas paramilitares no Iraque conhecidas como Forças de Mobilização Populares (FMP), que lutam ao lado do Exército.

Nos últimos anos, Bagdá tem conduzido cuidadosamente suas relações internacionais para evitar indispor qualquer um dos dois países.

Porém, o conflito entre o governo central e os curdos tende a aproximar mais o Iraque do Irã, rompendo esse equilíbrio.

Teerã é um dos maiores opositores do movimento separatista curdo. Ao apoiar a repressão do movimento no Iraque, busca mandar uma forte mensagem à comunidade curda que vive em seu território.

Nesta semana, o Secretário de Estado americano, Rex Tillerson, pediu ao Iraque que enviasse "para casa" os milicianos iranianos que lutam contra os curdos.

O gabinete do premiê Abadi afirmou em um comunicado que nenhum país deveria dar ordens ao Iraque e chamou os paramilitares de "patriotas".

A crise de independência do Curdistão é especialmente delicada para os Estados Unidos, que são aliados tanto dos curdos quanto de Bagdá. O país armou e treinou tropas dos dois lados para combater o Estado Islâmico.

Além disso, os americanos financiam e treinam milícias na Síria que lutam contra o regime de Bashar al-Assad, cujo Exército é apoiado pelo Irã.

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