Folha de S. Paulo


Quatro opositores eleitos contrariam líderes e juram cargos na Venezuela

Quatro dos cinco governadores da oposição da Venezuela eleitos em 15 de outubro juraram nesta segunda-feira (23) seus cargos à Assembleia Constituinte convocada pelo ditador Nicolás Maduro e controlada por seus aliados.

A submissão à Casa chavista era uma exigência do regime para poderem tomar posse. Por outro lado, contrariaram a decisão da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) de que seus membros não deveriam acatar a ordem.

Andreina Blanco/AVN/Xinhua
Os quatro governadores da oposição juram cargos na Assembleia Constituinte nesta segunda (23)
Os quatro governadores da oposição juram cargos na Assembleia Constituinte nesta segunda (23)

Laidy Gómez, de Táchira (oeste), Alfredo Díaz, de Nueva Esparta (nordeste), Ramón Guevara, de Mérida (oeste), e Antonio Barreto Sira, de Anzoátegui (leste), se apresentaram à presidente da Constituinte, Delcy Rodríguez.

"Foi um ato muito importante com mensagens muito claras ao país sobre a necessidade da convivência democrática, pacífica, de respeito à vontade do povo que elegeu nossos governadores", disse, ao lado dos adversários.

Os quatro pertencem ao partido Ação Democrática (centro), membro da MUD. Com a posse, eles também desacatam o líder do partido, o deputado Henry Ramos Allup, que havia defendido que eles não jurassem à Constituinte.

Alguns deles, porém, sinalizavam que poderiam acatar a exigência chavista. "Nos obrigam a fazer uma coisa que não deveríamos, mas talvez tenhamos que fazer para manter e defender a vontade do povo", disse Alfredo Díaz na quarta (18).

Ao confirmar que juraria nesta segunda, Laidy Gómez declarou: "Quando o povo lhe implora para que não o abandone, a humilhação de um líder é um meio para conseguir a liberdade. Táchira, só lhe abandono quando morrer".

Os quatro cederam após as Câmaras legislativas de seus Estados, dominadas pelos chavistas, negarem a posse porque não haviam se apresentado à Casa chavista —pela legislação vigente caberia a elas empossar os governadores.

A MUD também considera que o regime fraudou a eleição e diz ter provas das irregularidades, mas não as apresentaram até o momento. Pesquisas antes da votação davam vitória à coalizão em mais da metade dos Estados, mas o chavismo venceu em 18 dos 23.

A pressão aumentou quando Maduro ameaçou na quinta (19) depor os oposicionistas eleitos, medida que se tornou um decreto constituinte. No fim de semana, o ditador afirmou que convocaria novas eleições para substitui-los.

O único governador eleito que não jurou à Constituinte, Juan Pablo Guanipa, de Zulia, manteve sua rejeição a ceder ao chavismo. "Dizemos com a convicção de que estamos fazendo a coisa certa. Não vamos nos ajoelhar."

Logo após o anúncio da decisão, ele voltou a ser ameaçado pelo chavismo. "As leis da República existem para serem cumpridas e respeitadas, de modo que haverá consequências destas ações", disse Delcy Rodríguez.

REVOLTA

Guanipa pertence ao Primeiro Justiça (centro-direita), principal sigla da MUD e um das mais ativas nos protestos contra Maduro. São seus correligionários o presidente do Legislativo, Julio Borges, e o ex-presidenciável Henrique Capriles.

A decisão dos governadores provocou a revolta da ala mais antichavista. "Nosso reconhecimento a meu companheiro de luta, Juan Pablo Guanipa, por sua posição de não se humilhar à fraude constituinte", declarou Borges.

"Em momentos como este mais admiro aqueles que jamais se ajoelham nem traem seus princípios e é quando mais detesto os traidores de seus eleitores", afirmou o comandante da campanha oposicionista, Gerardo Blyde.

"A MUD se decidiu e comunicou há tempos: não jurar perante à Constituinte. Os governadores que juraram ao cargo se afastaram", disse o vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara , do Vontade Popular (direita).

Afastada da coalizão por não concordar com a participação nas eleições, María Corina Machado , do Venha Venezuela (direita liberal), disse ter sentido nojo. "Garanto que o país que construiremos será diferente. Será decente."


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