Folha de S. Paulo


Primeiro-ministro Abe ressurge forte e vence eleições antecipadas no Japão

Kim Kyung-Hoon/Reuters
Japan's Prime Minister Shinzo Abe, leader of the Liberal Democratic Party (LDP), looks on as he puts a rosette on the name of a candidate who is expected to win the lower house election, at the LDP headquarters in Tokyo, Japan, October 22, 2017. EUTERS/Kim Kyung-Hoon ORG XMIT: DEL74
O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe durante as eleições gerais de seu país

A chuva intensa e os fortes ventos trazidos pela passagem do tufão Lan não atrapalharam os planos da coalizão governamental do primeiro-ministro Shinzo Abe, que conquistou uma vitória ressonante nas eleições legislativas antecipadas de domingo, dia 22, no Japão.

Com isso, o político conservador no poder desde 2012 deve ganhar um novo mandato de quatro anos e se tornar a pessoa que mais tempo ficou no cargo desde a Segunda Guerra (1939-1945).

Com a apuração quase terminada, faltando os resultados de quatro distritos eleitorais, o Partido Liberal Democrata (PLD) e o aliado Komeito garantiram dois terços das 465 vagas para a Câmara Baixa, que equivale à Câmara dos Deputados no Brasil.

A rede de televisão NHK projetava na manhã desta segunda (23, noite de domingo no Brasil) que a aliança ficaria com 312 cadeiras –hoje o grupo tem 321, mas 310 já são suficientes para aprovar qualquer proposta do governo.

É praticamente certo que Abe conquiste seu terceiro mandato, entrando assim para a história como o líder mais duradouro do país após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), podendo continuar até 2021. Antes, ele tivera uma rápida e desastrosa passagem como premiê em 2006 e 2007.

Com maioria ampla na Câmara, analistas políticos preveem que o primeiro-ministro deva pôr como pauta prioritária uma ambição antiga, rever a Constituição pacifista do Japão. A Carta só permite que o país, derrotado na Segunda Guerra, tenha forças de defesa, e não de ataque.

A situação, no entanto, pode não ser tão encorajadora para as forças pró-Abe.

Pesquisas divulgadas neste domingo pelas mídias japonesas mostraram um paradoxo: grande parte da população tem uma frustração acumulada com o governo do primeiro-ministro justamente por causa da ideia irredutível de Abe de querer mudar o Artigo 9 da Constituição, onde é afirmado que o Japão renuncia à guerra.

Uma das pesquisas, realizada pelo jornal liberal Asahi, apontou que 51% dos entrevistados não queriam que Abe continuasse à frente do país. O contraste em relação aos resultados das urnas é justificado na pesquisa pela falta de uma melhor opção.

RIVAL DESINFLADA

O Partido da Esperança , legenda de direita criada no final de setembro pela governadora de Tóquio, Yuriko Koike, surgiu como uma grande ameaça no começo da campanha eleitoral.

Mas as propostas pouco concretas e a decisão de Koike de não concorrer fizeram o partido perder força e, de acordo com a boca de urna, o partido deve ver sua bancada de 57 lugares ocupados por candidatos recém-convertidos cair para 49.

Koike, que está em Paris em compromisso político, fez uma declaração à TV se desculpando pelo fracasso. "Tentamos por as propostas políticas em primeiro lugar, mas acabamos com um resultado duro. Eu me desculpo profundamente por isso."

A surpresa é o também oposicionista Partido Democrata Constitucional do Japão, de centro-esquerda, deve avançar de atuais 16 assentos para 54 ou até 58, apontam os resultados parciais.

Este é um notável momento para Abe, cujo controle do poder começou a escorregar de suas mãos no final do primeiro semestre, quando uma série de acusações de favorecimentos, gafes e encobrimentos de erros derrubaram sua popularidade.

Acusado pela oposição de ignorante para continuar no cargo, o primeiro-ministro conseguiu reverter a situação após assumir uma atitude mais rígida contra as ameaças da Coreia do Norte —que chegou a disparar dois mísseis que sobrevoaram o território japonês em testes nos últimos meses.

A promessa de usar o dinheiro arrecadado com o imposto sobre o consumo na educação e na previdência, ao invés de pagar a dívida interna como previsto também o ajudou nas urnas.

"Nós não podemos mais nos deixar enganar pela Coreia do Norte. Não podemos sucumbir às suas ameaças. Temos que garantir que os norte-coreanos não tenha outra opção senão mudar sua política e retornar à mesa de negociações", disse Abe no último discurso político antes das eleições.

ABSTENÇÃO

As eleições legislativas, nas quais cerca de 100 milhões de japoneses estão habilitados a participar, foi baixa devido à passagem do tufão. O voto não é obrigatório no país.

Classificado como "super forte", muitas cidades emitiram aviso de retirada, e os moradores foram encaminhados para abrigos.

Pouco antes das 20h locais (9h em Brasília), quando se encerrou o pleito, a participação dos eleitores era de apenas 30% em todo o país.

No entanto, não estavam sendo computados os votos antecipados, o que é permitido no Japão alguns dias antes da eleição oficial. Um total de 21,4 milhões de japoneses já haviam depositado seus votos nas urnas.

O comparecimento total ficou em 53,68%, apenas 0,1 ponto percentual a acima do recorde negativo registrado em 2014.

A apuração atrasou, segundo o governo, por que em algumas ilhas o serviço de balsas foi suspenso por causa do tufão.


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