Folha de S. Paulo


Análise

Sem território e dinheiro, Estado Islâmico deve priorizar atentados

Erik de Castro/Reuters
Combatente das Forças Democráticas da Síria comemoram tomada de Raqqa, ex-bastião do EI
Combatente das Forças Democráticas da Síria comemoram tomada de Raqqa, ex-bastião do EI

Em seu apogeu, em 2014, o Estado Islâmico chegou a controlar uma área de pelo menos 90 mil quilômetros quadrados —território equivalente ao tamanho de Santa Catarina—, onde viviam 10 milhões de pessoas, praticamente a população da Suécia.

Desde então, a facção vem encolhendo. Em junho deste ano, o EI havia perdido 60% do território que controlava e 80% de sua receita, segundo estimativas da consultoria britânica IHS Markit.

A queda das duas "capitais" da facção terrorista —a iraquiana Mossul , em julho, e a síria Raqqa , agora— enterra de vez as ambições do líder Abu Bakr al-Baghdadi de ser o califa de uma grande nação islâmica.

O "modelo de negócios" do Estado Islâmico dependia do controle de vastos territórios.

Diferentemente de facções terroristas como a Al Qaeda, o EI não obtinha parte significativa de suas receitas por meio de doações.

Os extremistas se financiavam cobrando impostos, propinas, saqueando antiguidades e vendendo petróleo. Com a perda de território, o faturamento do EI acabou despencando.

Segundo estudo do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização, localizado em Londres, a receita da facção terrorista, que chegou a ser de US$ 1,9 bilhão (R$ 6 bilhões) em 2014, caiu para menos do que US$ 870 milhões (R$ 2,7 bilhões) em 2016.

Com o faturamento menor, caiu também a capacidade do EI de atrair combatentes estrangeiros e de manter a lealdade de seus soldados.

Quando esteve na Síria em 2016, a reportagem da Folha conversou com um comandante local do EI.

Ahmad Derwish contou na ocasião que o grupo estava cortando salários e que havia diminuído muito o fluxo de combatentes islâmicos estrangeiros que entravam pela Turquia para se unir à facção terrorista.

Isso não significa que o EI esteja morto. A expectativa é que os extremistas deixem de lado o objetivo de criar um califado e voltem a ser uma facção terrorista mais "tradicional", apostando em um número cada vez maior de ataques no Ocidente, muitos deles de autoria de "lobos solitários" ou grupos inspirados vagamente na ideologia dos extremistas.

Só neste ano, o EI reivindicou autoria de sete ataques em países como Reino Unido, França e Austrália.

Segundo a IHS, a queda de faturamento e território não necessariamente vai diminuir a capacidade do EI de executar ataques clássicos.

Durante essa transição, de insurgentes fixos em um território para adeptos do terrorismo clássico, os comandantes do EI devem investir em suas franquias remanescentes, na Líbia, no Afeganistão e no Iêmen, de onde podem intensificar ataques a países ocidentais, como já vem ocorrendo.


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