Tropas iraquianas tomaram o controle de pontos estratégicos da cidade de Kirkuk na manhã desta segunda-feira (16).
Poços de petróleo, indústrias, a base militar K-1 e o aeroporto da cidade estão sob o comando das Forças de Mobilização Populares (FMP), milícias apoiadas e financiadas por Bagdá.
A cidade de cerca de 1 milhão de habitantes fica fora da região autônoma curda, mas estava sob o controle dos soldados curdos peshmerga desde o segundo semestre de 2014, quando combatentes do Estado Islâmico perderam batalhas na região e foram expulsos por eles.
Desde então, o governo iraquiano exige que os curdos devolvam a cidade ao governo central.
As tensões entre o Governo Regional do Curdistão (GRC) e o governo iraquiano escalaram desde a realização do plebiscito de independência no fim de setembro.
Considerado ilegal por Bagdá, o pleito teve como resultado mais de 93% dos votos para o "sim".
Ahmed al-Assadi, porta-voz das FMP, afirmou que as tropas não entraram no centro da cidade —uma das garantias dadas pelo primeiro-ministro Haider al-Abadi. Porém, milicianos foram vistos em postos turcomanos na região oeste de Kirkuk.
Porta-voz e um dos comandantes das forças curdas, o general Bahzad Ahmed disse que os conflitos causaram "muitas mortes".
Ele afirmou que as tropas iraquianas "queimaram várias casas e mataram muitas pessoas" em Toz Khormato e Daquq, ao sul de Kirkuk, e que os peshmerga teriam "destruído um ou dois tanques" das FMP. Suas declarações não puderam ser confirmadas.
Chamada de "Operação Impor Segurança a Kirkuk", a ofensiva que começou na noite de domingo (16) levou milhares de pessoas, principalmente curdos, a abandonarem seus lares em direção às cidades de Erbil e Solimania, localizadas dentro da região do autônoma curda.
"Vivemos em paz, mas os políticos de Bagdá e de Erbil (capital da região curda) se enfrentam pelo controle do petróleo e as vítimas somos nós, os habitantes de Kirkuk" disse Himen Chuani, 65, que foge com sua família.
Soldados peshmerga também foram vistos abandonando seus postos na cidade, que tem engarrafamentos nas principais estradas.
AUTONOMIA
A região do norte do Iraque conhecida como Curdistão conquistou autonomia em 1991, com incentivo dos americanos.
Mas os curdos passaram a pleitear independência total de Bagdá e enfrentam oposição não só do governo iraquiano mas também de outros países, como Turquia e Irã, onde há minorias curdas e temor de ondas separatistas.
Para Bagdá, uma secessão curda implicaria perda de território e de boa parte da produção de petróleo do país. Os curdos reivindicam várias áreas que foram conquistadas pelos soldados peshmerga durante o combate ao Estado Islâmico (EI), entre elas Kirkuk.
Estima-se que cerca de dois terços da população de Kirkuk seja curda e que o restante seja composto por árabes, cristãos e turcomanos.
Tanto os peshmerga quanto as Forças de Mobilização Populares iraquianas recebem apoio em forma de treinamento e armamento dos Estados Unidos, seu principal aliado na luta contra o EI.
Editoria de Arte/Folhapress | ||