Folha de S. Paulo


Ex-procuradora-geral encobriu caso Odebrecht, diz prefeito de Caracas

Ricardo Rojas - 14.set.2017/Reuters
Mayor of Caracas Jorge Rodriguez (L), his sister Delcy Rodriguez (C), president of Venezuela's National Constituent Assembly, and former Venezuelan ambassador to the OEA Roy Chaderton (R), talk to the media, after participating in a meeting to resume brokered talks between Venezuelan government's and the opposition in Santo Domingo, Dominican Republic September 14, 2017. REUTERS/Ricardo Rojas ORG XMIT: SDQ07
Jorge Rodriguez, ligado ao chavismo, foi vice-presidente da Venezuela durante o ano de 2007

O ex-vice-presidente da Venezuela e atual prefeito de Caracas, Jorge Rodríguez, 51, um dos homens fortes do chavismo, disse à Folha que as investigações sobre o escândalo Odebrecht foram "detidas e encobertas" pela ex-procuradora-geral Luisa Ortega Díaz.

"Quando ela deixou o cargo, descobrimos que havia na Procuradoria uma máfia da extorsão. Empresas e funcionários que deveriam estar sendo investigados ou presos pagaram milhões e milhões de dólares em contas em paraísos fiscais para que seus crimes fossem encobertos pela procuradora", disse, em entrevista à Folha em seu gabinete, no centro de Caracas.

Indagado porque, entre os países da região, a Venezuela é o país que menos avançou em investigações sobre o caso Odebrecht, Rodríguez voltou a colocar a culpa em Ortega Díaz.

"Descobrimos que ela fez o possível para deter e manipular essa investigação. Desde que ela deixou o cargo, em agosto, o novo procurador-geral, Tarek William Saab, tem feito avanços muito rápidos e profundos. Caia quem caia, será a Procuradoria quem indicará a responsabilidade de cada um", afirmou.

Pedro Ladeira/Folhapress
A procuradora-geral deposta da Venezuela Luisa Ortega Díaz participa de reunião em Brasília em agosto
A procuradora-geral deposta da Venezuela Luisa Ortega Díaz participa de reunião em Brasília em agosto

NOVA FASE

Rodríguez afirmou que, a partir desta segunda-feira (16), a Venezuela entrará num período de mais "paz e diálogo". E crê que isso se deve à Assembleia Nacional Constituinte, que, segundo ele, regularizou o calendário eleitoral e tranquilizou o país.

"Creio que a Constituinte conseguiu deter essa loucura da violência que vinha sendo praticada por setores da oposição venezuelana. Vínhamos de uma situação perigosa, que causou a morte de 130 venezuelanos, e depois da instalação da Constituinte, as coisas se acalmaram", acrescentou.

Quanto às críticas internacionais que o país vem recebendo, Rodríguez afirmou: "esta é a eleição de número 22 em 18 anos de governo, e com a oposição participando em peso, ou seja, somos a ditadura mais curiosa do mundo."

E acrescentou que o país sofreu "um golpe" com sua suspensão do Mercosul e que continua havendo ma campanha midiática internacional contra a Venezuela.

Ricardo Rojas - 13.set.2017/Reuters
President of Venezuela's National Constituent Assembly Delcy Rodriguez (L) and her brother Mayor of Caracas Jorge Rodriguez talk to the media in Santo Domingo, Dominican Republic September 13, 2017. REUTERS/Ricardo Rojas
Delcy Rodriguez, presidente da Constituinte, e seu irmão, Jorge Rodriguez, prefeito de Caracas

"Afirmam que a Assembleia Nacional eleita em 2015 foi substituída. Isso não é certo. Ambas estão funcionando. O que vem ocorrendo é que a Assembleia não vem obtendo quórum para suas sessões, creio que andam muito preocupados em fazer campanhas fora. Mas hoje há uma convivência entre ambas."

Também acrescentou que existe uma data para que a Constituinte deixe de atuar, que seria daqui a dois anos, quando o cronograma estipula que a nova Carta fique pronta.

Quanto aos diálogos que estão sendo realizados entre governo e oposição, na República Dominicana, Rodríguez diz que "nunca se avançou tanto" e que uma prova disso é que se chegou a um acordo quanto à data das eleições para prefeitos e presidentes, que deve acontecer em 2018, e que a "situação de desacato" dos atuais deputados está sendo corrigida. "Hoje já há uma aceitação destes com relação à Constituinte."

Sobre a existência de presos políticos, como o opositor Leopoldo López, Rodríguez respondeu: "Imagine se nos EUA um político democrata convocasse a população a matar Trump. Imagine se num país da Europa um dirigente político chamasse à sedição e ao enfrentamento violento, seguramente a Justiça atuaria."

E acrescentou que, com relação aos distúrbios vividos pelo país em 2014 —quando houve mortos e feridos em manifestações e López foi preso— e no primeiro semestre de 2017, deve haver uma Comissão da Verdade que investigue e repare as vítimas da violência política, "para evitar que esses episódios se repitam no futuro."


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