Folha de S. Paulo


Líder de Mianmar cria comitê para atuar na crise da minoria rohingya

Aung Shine Oo/AP
Peoples watch a televised speech by Myanmar's State Counsellor Aung San Suu Kyi, by a roadside Thursday, Oct. 12, 2017, in Naypyitaw, Myanmar. (AP Photo/Aung Shine Oo) ORG XMIT: XAS102
Aung San Suu Kyi pediu união em discurso transmitido pela emissora estatal

A líder de fato do Mianmar, Aung San Suu Kyi, anunciou na quinta-feira (12) a criação de um comitê para coordenar os esforços de ajuda humanitária internacional e de apoio local ao Estado de Rakhine, no norte do país.

A região está sob tensão desde que ataques de grupos rebeldes da minoria rohingya contra delegacias provocaram uma campanha de repressão do Exército de Mianmar, que a ONU descreveu como "limpeza étnica". Vilarejos inteiros foram queimados.

Mais de 500 mil pessoas fugiram para o vizinho Bangladesh desde o dia 25 de agosto.

Em um discurso na emissora de televisão estatal, ela reconheceu que o país enfrenta duras críticas da comunidade internacional por causa da crise de refugiados e clamou por união.

Suu Kyi anunciou que o novo comitê, que se chamará "União para Assistência Humanitária, Reassentamento e Desenvolvimento de Rakhine", irá coordenar os esforços para a criação de um Estado "pacífico e desenvolvido".

Ela informou que está dialogando com Bangladesh sobre o retorno "daqueles que estão nesse país", sem dar maiores detalhes. Autoridades de seu governo sugeriram que os refugiados deverão comprovar residência em Mianmar para serem aceitos de volta.

Os rohingyas não têm direito à cidadania birmanesa. Como apátridas, eles não têm acesso a serviços básicos, como educação e saúde, e são proibidos de votar. A grande maioria não possui documentos oficiais, o que torna a exigência de comprovação de residência um impeditivo para seu retorno.

Segundo Suu Kyi, seu governo convidou agências das Nações Unidas e instituições financeiras como o Banco Mundial para ajudarem no desenvolvimento de Rakhine. Desde o início do conflito, Mianmar tem restringido o acesso de grupos de ajuda internacionais e jornalistas à região.

Em nenhum momento em seu pronunciamento Suu Kyi se referiu à minoria muçulmana usando o termo "rohingya". Porém, chamou as demais etnias do país por seus nomes.

Em maio de 2016, ela esteve no centro de uma polêmica por recomendar ao recém chegado embaixador americano no Mianmar que evitasse o termo.

U Kyaw Zay Ya, porta voz do Ministério de Relações Exteriores, justificou à época que os rohingya não deveriam ser chamados por esse nome porque não são um dos 135 grupos étnicos reconhecidos por lei.

"Nossa posição é que o uso desse termo polêmico não contribui para o processo de reconciliação nacional", afirmou.

Muitos birmaneses alegam que os rohingya são uma etnia implantada durante a colonização britânica, que trouxe milhares de trabalhadores muçulmanos de Bangladesh.

Com maioria budista, o país é marcado pela influência de monges radicais que denunciam os rohingya, que são muçulmanos, como uma ameaça.

Suu Kyi recentemente cancelou sua ida à Assembleia Geral da ONU —uma decisão vista como uma tentativa de evitar as críticas internacionais que vem sofrendo desde o início da onda de violência contra a minoria.

Críticos já pediram a revogação de seu prêmio Nobel da Paz, concedido por sua atuação política pacifista em 1991.


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