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Líder catalão pede diálogo a Madri, mas quer anunciar independência logo

Pau Barrena/AFP
Bar em Barcelona, com a bandeira da Catalunha, exibe discurso do presidente da região, Carles Puigdemont
Bar em Barcelona com a bandeira da Catalunha exibe discurso de Carles Puigdemont

O presidente catalão, Carles Puigdemont, abriu duas frentes com seu discurso na quarta-feira (4). Ele voltou a insistir em que vai declarar a independência da Catalunha "nos próximos dias", mas também se mostrou disposto ao diálogo e pediu mediação.

"Fizemos um plebiscito em meio a uma repressão sem precedentes", disse em relação à consulta popular de domingo, quando 90% dos eleitores escolheram se separar da Espanha. Apenas 42% do eleitorado votou. Embates com a polícia deixaram quase 900 feridos.

"As aspirações do povo catalão foram tratadas como criminosas e ilegítimas. Por isso, fazemos um apelo ao diálogo", disse o presidente.

Enquanto pede por negociação, no entanto, ele deve comparecer ao Parlamento catalão na segunda-feira (9) para declarar a independência de maneira unilateral.

A sessão foi convocada pelas forças separatistas Junts pel Sí (juntos pelo sim) e pela CUP (Candidatura de Unidade Popular). Unidos, têm 72 do total de 135 assentos no Parlamento catalão.

O ex-jornalista Puigdemont faz parte do Junts pel Sí. Há a expectativa de que ele seja detido por Madri, caso insista em declarar a sua separação.

Não está decidido ainda se a declaração de independência será votada ou simplesmente declarada pela Casa.

O governo espanhol não vai reconhecer essa separação, assim como a União Europeia ou outros grandes atores globais, levando a uma situação de incerteza.

PLEBISCITO

A Catalunha é uma região espanhola já com alguma independência, incluindo seu próprio Parlamento e uma polícia regional, os chamados Mossos d'Esquadra.

Mas sucessivas vitórias políticas de partidos separatistas deram fôlego ao movimento nacionalista, que nos últimos anos tem mobilizado a população em torno da ideia de um Estado próprio.

Catalães votaram no dia 1º em um plebiscito separatista, em que 90% deles escolheram o "sim". Só 42% da população votou, o equivalente a 2,2 milhões de pessoas.

O governo central espanhol, sediado em Madri, considera que esse plebiscito foi ilegal, assim como será ilegal uma eventual declaração de independência da Catalunha. Não há nenhuma possibilidade de que a ruptura seja aceita pelo Estado.

A baixa participação no plebiscito —causada em parte pela ação policial espanhola, que deixou quase 900 feridos— será um dos argumentos para desqualificar a declaração de separação.

A lei espanhola não reconhece esse tipo de consulta. Só estão previstos plebiscitos consultivos, ou seja, não vinculantes. O voto, nesse caso, precisaria ser feito em todo o território.

O governo de Madri, chefiado pelo conservador PP (Partido Popular) do premiê Mariano Rajoy, conta com o apoio das principais forças políticas do país para evitar a separação da Catalunha.

Editoria de Arte/Folhapress

O partido de centro-direita Cidadãos, por exemplo, vem insistindo nas últimas semanas em que o Estado acione o Artigo 155, que pode revogar temporariamente a autonomia catalã e impôr eleições antecipadas na região.

Os Cidadãos têm 25 cadeiras no Parlamento catalão, e contestaram na quarta-feira a convocação do plenário.

Rajoy tem também o apoio do rei Felipe 6º, que na véspera havia dito que o governo catalão fora "desleal".

Aprofundando a crise entre Madri e Barcelona, a Audiência Nacional convocou o chefe da polícia catalã para depôr na sexta-feira em uma investigação de sublevação.

A Audiência Nacional é um tribunal espanhol especial com jurisdição em todo o território do país, julgando casos como os de terrorismo e de crime organizado.

Josep Lluís Trapero, chefe dos Mossos d'Esquadra, teria se recusado a cumprir as ordens do Estado para impedir o plebiscito separatista.

A Bolsa espanhola caiu quase 3% durante o dia, em sua pior queda desde o "brexit", nome dado à decisão britânica de junho de 2016 de sair da União Europeia.


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