Folha de S. Paulo


Parlamento da Catalunha discutirá declaração de independência

Forças separatistas catalãs convocaram para a próxima segunda-feira (9) uma sessão parlamentar para discutir os resultados do plebiscito de domingo, possivelmente culminando em uma declaração unilateral de independência.

O governo espanhol não vai reconhecer essa declaração, assim como a União Europeia ou outros grandes atores globais, levando a uma situação de incerteza.

A sessão foi articulada pela aliança Junts pel Sí (juntos pelo sim) e pela CUP (Candidatura de Unidade Popular). Unidos, têm 72 dos 135 assentos do Parlamento catalão.

A sessão contará com a presença do presidente catalão, Carles Puigdemont. Esse líder separatista fará um discurso nesta quarta-feira às 21h locais (16h em Brasília).

O presidente catalão já havia dito à rede britânica BBC que irá declarar a independência "no final desta semana ou no início da próxima".

O ex-jornalista Puigdemont faz parte da aliança política Junts pel Sí, que convocou a sessão parlamentar.

PLEBISCITO

A Catalunha é uma região espanhola já com alguma independência, incluindo seu próprio Parlamento e uma polícia regional, os chamados Mossos d'Esquadra.

Mas sucessivas vitórias políticas de partidos separatistas deram fôlego ao movimento nacionalista, que nos últimos anos tem mobilizado a população em torno da ideia de um Estado próprio.

Catalães votaram no dia 1º em um plebiscito separatista, em que 90% deles escolheram o "sim". Só 42% da população votou, o equivalente a 2,2 milhões de pessoas.

O governo central espanhol, sediado em Madri, considera que esse plebiscito foi ilegal, assim como será ilegal uma eventual declaração de independência da Catalunha. Não há nenhuma possibilidade de que a ruptura seja aceita pelo Estado.

A baixa participação no plebiscito —causada em parte pela ação policial espanhola, que deixou quase 900 feridos— será um dos argumentos para desqualificar a declaração de separação.

A lei espanhola, ademais, não reconhece esse tipo de consulta. Só estão previstos plebiscitos consultivos, ou seja, não vinculantes. O voto, nesse caso, precisaria ser feito em todo o território.

O governo de Madri, chefiado pelo conservador PP (Partido Popular) do premiê Mariano Rajoy, conta com o apoio das principais forças políticas do país para evitar a separação da Catalunha.

O partido de centro-direita Cidadãos, por exemplo, vem insistindo nas últimas semanas em que o Estado acione o Artigo 155, que pode revogar temporariamente a autonomia catalã e impôr eleições antecipadas na região.
Os Cidadãos têm 25 cadeiras no Parlamento catalão, e contestaram na quarta-feira a convocação do plenário.

Aprofundando a crise entre Estado espanhol e governo regional catalão, a Audiência Nacional convocou o chefe da polícia catalã para depôr na sexta-feira em uma investigação de sublevação.

A Audiência Nacional é um tribunal espanhol especial com jurisdição em todo o território do país, julgando casos como os de terrorismo e de crime organizado.

Josep Lluís Trapero, chefe dos Mossos d'Esquadra, teria se recusado a cumprir as ordens do Estado para impedir o plebiscito separatista de domingo. Trapero afirma, no entanto, ter agido com profissionalismo.


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