Folha de S. Paulo


Após Las Vegas, democratas fazem nova ofensiva por controle de armas

Um dia após o maior ataque a tiros da história dos EUA, o presidente da Câmara, o republicano Paul Ryan, disse nesta terça (3) que não está em seus planos avançar com a votação de um projeto de lei que tornaria mais fácil a compra de silenciadores.

"Não está programado para [ser votado] agora, não sei quando será", disse Ryan, diante da pressão que os parlamentares republicanos vêm enfrentando desde o massacre perpetrado pelo aposentado Stephen Paddock, 64, durante um festival de música country em Las Vegas.

Lucy Nicholson/Reuters
Outdoor anuncia feira de armas perto do Mandalay Bay, hotel de onde Stephen Paddok atacou show
Outdoor anuncia feira de armas perto do Mandalay Bay, hotel de onde Stephen Paddok atacou show

Mesmo com poucas chances de sucesso, os parlamentares democratas querem mais do que o adiamento da votação. A líder opositora na Câmara, Nancy Pelosi, pediu a Ryan a criação de uma comissão para discutir a violência com armas.

Os democratas —que nesta quarta (4) protestarão nas escadas do Congresso— querem ainda que seja discutido na Casa um projeto da senadora Dianne Feinstein para proibir os chamados "bump stocks", dispositivos que transformam armas semiautomáticas em automáticas —e que foram usados por Paddock.

O histórico de qualquer lei sobre controle de armas no Congresso, porém, mostra que é pouco provável que esse tipo de discussão avance.

Em 2016, após um atirador matar 49 pessoas numa boate em Orlando, na Flórida, o projeto "não voe, não compre", que propunha a proibição de venda de armas para as pessoas que estão na lista de risco de terrorismo do FBI (polícia federal americana), por exemplo, foi barrado no Senado, mesmo com 86% de apoio entre os eleitores.

Em anos anteriores, textos que previam o limite ao tamanho de pentes de munição e a extensão das checagens de antecedentes criminais em vendas de armas on-line e em feiras também naufragaram em uma das casas legislativas.

"Eu não vejo o Congresso agindo em nenhuma medida de controle de armas, apesar de evidências estatísticas que mostram que as altas taxas de porte de armas explicam por que países como os EUA têm tantos assassinatos em massa", diz Adam Lankford, professor do Departamento de Criminologia e Justiça Criminal da Universidade do Alabama.

Gary Kleck, especialista em Justiça criminal da Universidade Estadual da Flórida, discorda do argumento de que um controle maior sobre a venda ou o porte garantiria menos mortes.

"Esse assassino, em particular, usou algo que já é ilegal no país. Além do mais, há indicação que o único registro criminal do atirador era uma infração de trânsito, que não é o tipo de crime que faria com que ele, pelo controle que defendem, fosse proibido de comprar armas."

O apoio recebido de lobistas pró-armas por parlamentares da maioria republicana também não contribui para que o debate sobre um maior controle avance.

Segundo o think tank Center for Responsive Politics, que monitora o financiamento a legisladores, grupos que defendem o direito ao porte de armas, como a NRA (Associação Nacional do Rifle) e a Gun Owners of America, doaram US$ 5,9 milhões para campanhas republicanas em 2016. Para os democratas, o valor foi de US$ 106 mil.


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