Folha de S. Paulo


Trump compara mortes em Porto Rico com 'catástrofe real' do Katrina

Joe Raedle/AFP
 President Donald Trump and Melania Trump arrive on Air Force One at the Muniz Air National Guard Base for a visit after Hurricane Maria hit the island on October 3, 2017 in Carolina, Puerto Rico. The President has been criticized by some that say the government's response has been inadequate. Joe Raedle/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
Acompanhado pela primeira-dama, Melania Trump, presidente americano desembarca em Porto Rico

Donald Trump foi matemático em sua chegada a Porto Rico nesta terça, a ilha devastada pela passagem do furacão Maria há duas semanas.

Numa reunião com agentes de governo logo que desembarcou do Air Force One, o republicano disse que a situação havia "atrapalhado o orçamento" do país e que "milhões de dólares foram gastos". Depois comparou o número de mortes no território aos "milhares" vitimados pelo Katrina, que arrasou Louisiana há 12 anos.

Na verdade, 1.833 pessoas morreram em decorrência daquela que Trump chamou de "uma catástrofe real", comparada ao que interpretou como menos dramático na ilha. O presidente passou pelo Estado livre associado dos EUA horas antes de as autoridades locais aumentarem o número de mortos de 16 para 34.

Nas primeiras horas de sua visita a Porto Rico, que uma congressista já havia apelidado de "seu Katrina", Trump parece ter acirrado ainda mais os ânimos. Nos dias antes da viagem que, analistas dizem, demorou demais, o presidente vinha trocando farpas com locais no Twitter.

Num dos tuítes, disse que "eles querem que façam tudo por eles", falando sobre os porto-riquenhos como se fossem cidadãos de outro país. Noutro, atacou a prefeita de San Juan, Carmen Yulín Cruz Soto, que disse ter uma "habilidade ruim de liderança".

Minutos antes de deixar a Casa Branca, ele ainda disse que os porto-riquenhos "precisam ajudar mais" no local e deu um "A+", ou nota máxima, à sua própria gestão.

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Em Porto Rico, Trump tentou, no entanto, parecer mais afável. Ele cumprimentou a prefeita que havia chamado de "política ingrata", mas não deixou que ninguém crítico a ele falasse no encontro.

Ela manteve a pose, mas criticou o presidente uma hora depois em entrevista à CNN, apontando uma "falta de sensibilidade" nos comentários de Trump sobre o número de mortes e orçamento e dizendo que o republicano veio à ilha para um momento de "relações públicas" que não condiz com a realidade.

"Isso não nos faz sentir bem", disse a prefeita de San Juan. "Espero que o presidente dos Estados Unidos pare de disparar comentários que machucam o povo americano. Disse a ele que isso não é uma questão política. É uma questão de salvar vidas."

Depois, nas ruas, o presidente posou para fotógrafos e disse a vítimas do furacão que o governador e a prefeita estavam fazendo "um trabalho fantástico", tentando suavizar as más impressões.

REALITY SHOW

Houve ainda momentos que parecem saídos de um reality show, arena conhecida do ex-apresentador de "O Aprendiz". Num centro de distribuição de mantimentos, Trump distribuiu lanternas, comida e arremessou alguns rolos de papel higiênico em direção a moradores, encarnando um líder de auditório.

Entre selfies com "um pessoal ótimo", ele dizia que "há muito amor nesta sala".

Sua postura histriônica contrasta com o tom comedido de seu discurso depois do atentado que matou 59 pessoas em Las Vegas. Lendo um teleprompter no jardim da Casa Branca, ele havia frisado que "em momentos de tragédia, a América se une, como sempre fez" e que o país tem uma "união que não pode ser estilhaçada pelo mal".

Essa união parece estar sendo testada nesta semana pelo presidente, que enfrenta um dos grandes desafios de sua administração ao ter de consolar populações abaladas por duas catástrofes.

Em Porto Rico, embora números oficiais apontem 34 mortes, equipes de resgate lembram que o saldo dos que perderam a vida deve aumentar porque ainda há desaparecidos. Os sobreviventes ainda enfrentam a falta de energia, água, comida, gasolina e sinal de celular desde a passagem da tempestade duas semanas atrás.

Trump e a primeira-dama, Melania, passaram a tarde na ilha, onde se encontraram ainda com Kenneth Mapp, o governador das ilhas Virgens Americanas, também destruídas pelo Maria. Depois retornaram a Washington, de onde partem nesta quarta para uma visita a Las Vegas, que se recupera de um dos maiores atentados de sua história.


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