Folha de S. Paulo


Refugiados rohingya em Bangladesh passam de 500 mil, diz ONU

Segundo a ONU, 501.800 pessoas fugiram de Mianmar para Bangladesh nos últimos 35 dias.

A pé ou em embarcações precárias, o mais de meio milhão de pessoas atravessou a fronteira tentando escapar da última onda de violência contra os rohingyas.

O êxodo impressiona pelo número, que corresponde a pouco mais que a população de uma cidade como Niterói, no Rio de Janeiro.

Em comparação, no ano passado inteiro, a Europa recebeu 363.348 refugiados.

A ONU já denunciou a realização de uma limpeza étnica da minoria muçulmana que é perseguida no Mianmar, majoritariamente budista.

No dia 25 de agosto, rebeldes rohingyas atacaram cerca de 20 delegacias de polícia no Estado de Rakhine, no oeste do país, onde se concentram.

Desde então, o Exército birmanês tem conduzido o que chamou de "operações de limpeza", que afirma ter como objetivo deter "terroristas extremistas" e proteger a população civil.

Segundo os últimos dados oficiais, divulgados em 1º de setembro, 400 morreram nos confrontos entre as forças armadas e os rebeldes.

Bangladesh, que já abrigava cerca de 400 mil refugiados rohingyas antes da onda de violência, vive uma crise humanitária na região de fronteira com o Mianmar.

Sheikh Hasina, primeira-ministra bengalesa, pediu em seu discurso à Assembleia Geral da ONU que governo birmanês garanta um "retorno sustentável" dos refugiados.

Soe Zeya Tun - 19.set.2017/Reuters
yanmar State Counselor Aung San Suu Kyi walks off the stage after delivering a speech to the nation over Rakhine and Rohingya situation, in Naypyitaw, Myanmar September 19, 2017. REUTERS/Soe Zeya Tun TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: GGGMYM13
Suu Kyi deixa o palco após discursar pela primeira vez sobre a crise dos rohingya, em 19 de setembro

A líder de fato do Mianmar, Aung Suu Kyi, tem enfrentado críticas constantes da comunidade internacional, e cancelou sua ida à cúpula da ONU para lidar com a crise envolvendo os rohingyas.

Os rohingyas não têm direito à cidadania birmanesa e são vistos por muitos como imigrantes ilegais da vizinha Bangladesh, apesar de reivindicarem raízes na região. Como apátridas, eles não têm acesso a serviços básicos, como educação e saúde, e são proibidos de votar.

A embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, afirmou em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira que as ações das forças armadas birmaneses constituem uma campanha de limpeza étnica.

Ela pediu que os países suspendam o fornecimento de armas a Mianmar até que o Exército adote medidas para se responsabilizar pelos atos cometidos.

TRAVESSIA PERIGOSA

Quinze refugiados rohingyas, entre eles crianças, morreram em um naufrágio no Golfo de Bengala, ao tentarem fugir de Mianmar para Bangladesh.

Segundo testemunhas, o barco afundou não muito longe da costa.

Mohammad Sohel, que trabalha como vendedor na praia de Inani, próxima ao local do acidente, disse que "eles naufragaram diante dos nossos olhos".

"Alguns minutos depois, as ondas trouxeram os corpos até a praia", contou.

O número de naufrágios na região aumentou com o êxodo dos rohingyas de Mianmar. A grande maioria das embarcações estão em condições precárias e operam com carga acima de sua capacidade.

Fred Dufour/AFP
People come to see the boat where Rohingya Muslim refugees were found dead on the shore of Inani beach, near Cox's Bazar on September 28, 2017. On September 28, at least 10 children and four women were killed when a boat carrying Rohingya fleeing violence in Myanmar capsized off Bangladesh, as the number of new arrivals topped 500,000. / AFP PHOTO / FRED DUFOUR ORG XMIT: FD001045
Passantes e policiais observam o barco que naufragou nesta quinta (28), deixando 15 mortos

TERRITÓRIO FECHADO

Nesta quinta, o governo birmanês adiou a primeira visita prevista dos representantes da ONU ao norte do Estado de Rakhine, cenário de enfrentamentos há um mês.

"A visita organizada pelo governo birmanês foi adiada para a semana que vem devido ao mau tempo", disse o porta-voz das Nações Unidas em Mianmar, sem informar uma nova data.

Há semanas que a ONU e organizações de ajuda humanitária pedem para ter acesso à região, que está sendo controlada pelo Exército desde o fim de agosto.

Vários vilarejos foram queimados e estima-se que milhares de rohingyas estejam escondidos nas matas, sem comida nem medicamentos. Cerca de 30 mil budistas e hindus também teriam fugido da violência.


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