Folha de S. Paulo


Direita radical alemã avança para se tornar principal oposição a Merkel

John MacDougall/AFP
Display rotativo em Berlim exibe parte de cartaz de Merkel acima de pôster anti-islâmico da AfD

O ato de encerramento de campanha do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) reuniu líderes regionais e candidatos ao Parlamento diante de 120 pessoas, em Magdeburgo, segunda maior cidade do Estado de Saxônia-Anhalt e reduto da legenda, na quinta (21).

"Não tem esse papo de integração [com imigrantes]. Não somos nós que precisamos mudar. Este é nosso país, são nossas regras", disse um representante da agremiação, sob aplausos da plateia.

"O destino da Alemanha está em jogo. Está em jogo se milhões de pessoas vão continuar chegando. Precisamos dizer não, e o único partido que diz não é a AfD. Não vamos dar mais nenhum centavo a esse experimento 'multiculti' esquerdista!".

Vieram aplausos de pé e assobios. "Se dizer a verdade é ser de extrema direita, então eu sou extremista de direita!"

A Saxônia-Anhalt integrava a antiga Alemanha Oriental e está entre os Estados que não se adaptaram à reunificação alemã, em 1991. Sem crescimento em 2015, seu PIB é o quarto pior, e o desemprego, o terceiro maior do país.

Mas pelas regras de distribuição populacional, o Estado recebeu menos de 3% dos cerca de 1,5 milhão de refugiados que chegaram à Alemanha no auge da crise.

Nas eleições estaduais de abril de 2016, a AfD obteve aqui seu melhor resultado: 24,2% dos votos. Pesquisas agora indicam que no âmbito nacional o partido pode alcançar 10% dos votos, podendo obter 70 vagas no Bundestag. Hoje, não tem nenhuma.

Nas eleições de 2013, a AfD havia acabado de ser criada. Chegou a concorrer, mas não superou a cláusula de barreira segundo a qual quem obtém menos de 5% dos votos fica de fora do Parlamento.

XENOFOBIA

Quando foi fundada, em 2013, a AfD tinha como principal bandeira a oposição ao resgate de membros da União Europeia, como a Grécia. Mas com o tempo se tornou essencialmente um partido islamofóbico e anti-imigração.

Dividem a liderança nacional da legenda Alexander Gauland, um advogado e jornalista de 76 anos que já foi filiado à CDU de Angela Merkel e é tido como radical, e a economista Alice Weidel, 38, que vive parte do tempo na Suíça com a mulher e dois filhos, vista como moderada.

Segundo projeção da Forschungsgruppe Wahlen, a AfD tem 11% dos votos, atrás apenas dos dois maiores partidos, CDU (36%) e SPD (21,5%), e tecnicamente empatada com o tradicional FDP (10%) -a margem de erro é de três pontos percentuais.

Dependendo do tipo de coalizão que o partido vencedor (provavelmente a CDU) forme e dos resultados finais, a AfD pode se tornar o principal partido de oposição no país. Não é pouca coisa para uma legenda que há menos de cinco anos não existia.

"Vamos levar os grandes partidos ao chão!", disse o líder regional da AfD, André Poggenburg.

Parte desse desempenho é culpa da própria CDU, avalia a analista Ulrike Franke.

"O avanço da AfD se deve em parte a Merkel ter aberto espaço na ala à direita de seu partido. Historicamente, a CDU é conservadora de centro-direita, mas sempre tomou medidas para impedir que emergissem novas forças à sua direita", disse à Folha.

"Isso é algo que Merkel negligenciou ao mover seu partido em direção à centro-esquerda, especialmente com o debate sobre a imigração."


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