Folha de S. Paulo


Militar que evitou uma guerra nuclear em 1983 morre aos 77 anos na Rússia

Ivan Sekretarev - 9.mai.2005/Associated Press
ORG XMIT: 571101_1.tif Levando bandeiras do Exército Vermelho, russos vestidos com uniformes da URSS na Segunda Guerra marcham na praça Vermelha durante as comemorações do 60º aniversário da vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial. Russian soldiers dressed in Soviet WWII uniform march along the Red Square carrYing Soviet Army's flags during a parade in Moscow Monday, May 9, 2005. World leaders whose countries fought each other in World War II paid tribute to the fallen soldiers and millions of civilian dead, joining Russian President Vladimir Putin on Red Square for a lavish military parade celebrating the 60th anniversary of the Allied victory over Nazi Germany. (AP Photo/Ivan Sekretarev)
Levando bandeiras do Exército Vermelho, russos com uniformes da URSS na 2ª Guerra marcham

O homem que ajudou a evitar uma guerra nuclear morreu perto de Moscou, aos 77 anos.

Então um tenente-coronel das forças estratégicas soviéticas, Stanislav Petrov era o oficial responsável por uma estação de rastreamento de mísseis balísticos nos arredores da capital do império comunista em 26 de setembro de 1983. De repente, a tela do radar indicou que havia cinco foguetes Minuteman norte-americanos voando em direção à União Soviética.

As sirenes de alarme tocaram e a palavra "lançamento" surgiu na tela. Petrov manteve o sangue frio e esperou. Calculou que nenhum ataque norte-americano envolveria apenas cinco mísseis, e não deu o telefonema de alerta para seus superiores —o que, dado os protocolos de urgência nesses casos, levaria quase certamente a um ataque retaliatório.

A tensão entre a União Soviética e o Ocidente estava em seu maior nível desde a crise dos mísseis de Cuba, de 1962. A retórica belicista do presidente Ronald Reagan, que chamava o regime comunista de "império do mal", dava o tom da confrontação. Três semanas antes do incidente de Petrov, os soviéticos derrubaram um Jumbo da Korean Airlines que havia invadido seu espaço aéreo.

O episódio só foi revelado sete anos depois do fim da União Soviética, em 1998, quando o antigo comandante das forças nucleares soviéticas o relatou em um livro de memórias. Petrov nunca teve o feito reconhecido, ao contrário: foi repreendido pelos superiores por ter tomado a decisão sozinho.

Desde então, ele recebeu diversas honrarias, e foi objeto de um documentário. Em entrevistas, ele afirmou que só teve noção do que havia ocorrido quase meia hora depois do alarme. "Se fosse um ataque real, então eu já saberia. Foi um enorme alívio", disse em 2013 ao serviço russo da BBC.

O problema que gerou o alarme falso foi revelado também depois do fim da União Soviética. Os satélites do sistema de alerta antecipado do país identificaram o reflexo do sol sobre nuvens de alta altitude como se fossem rastros de foguetes.

A causa da morte de Petrov, ocorrida em 19 de maio mas só divulgada nesta segunda (18), não foi revelada. Ele tinha um filho e uma filha.


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