Folha de S. Paulo


Governo polonês soube usar nacionalismo, diz ombudsman

Wojtek Radwanski/AFP
Os manifestantes mantêm velas e gritam slogans enquanto participam de uma manifestação em frente ao Parlamento polonês enquanto os senadores poloneses decidem sobre o novo projeto de lei que altera o sistema judiciário, em Varsóvia, em 21 de julho de 2017. Os legisladores poloneses adotaram uma polêmica reforma do Supremo Tribunal apesar da ameaça de sanções da UE sem precedentes. A câmara baixa do parlamento, controlada pelo partido conservador do direito e da justiça (PiS), votou 235 a 192 - com 23 abstenções - a favor do poder do governo para selecionar candidatos para o tribunal.
Manifestantes contra a reforma do judiciário em frente ao Parlamento polonês

O atrito entre o governo polonês e a União Europeia está relacionado a como o bloco econômico foi apresentado pelo partido governista PiS, segundo Adam Bodnar, "como uma força externa se impondo".

Bodnar é o ombudsman oficial polonês desde setembro de 2015. Nomeado pela Câmara Baixa do Parlamento para um mandato de cinco anos, chefia 300 funcionários públicos para pressionar o governo a respeitar os direitos humanos.

Nacionalista, o Partido Lei e Justiça baseia seu discurso político na memória dos heróis poloneses e em seus conflitos históricos com a Alemanha. Esse uso da história é uma das chaves do sucesso do governo atual, diz Bodnar.

"O país foi modernizado, mas faltava algo. E esse algo foi encontrado pelo PiS: o nacionalismo, a busca por heróis, laços patrióticos", diz. "Os governos anteriores não souberam fazer isso."

Bodnar foi o único membro do governo que aceitou conversar com a reportagem da Folha —e também o seu personagem mais crítico. Mas seu mandato pode ser abreviado, ele confessa.

"Estou numa situação em que a qualquer dia podem me demitir. Há garantias, mas podem ser violadas."

A Câmara Baixa do Parlamento pode substituir o ombudsman se tiver maioria de três quintos dos votos.

Para Igor Janke, líder do think tank conservador Instytut Wolnosci, "os setores liberais estão chocados em ver como, depois de 25 anos, um governo conservador foi eleito". "Não entendem", afirma ele.

Janke concorda com a crítica de que "algumas das reformas são muito ruins", mas discorda da conclusão apresentada pela União Europeia. "Não há uma ameaça à democracia, e sim uma disputa política."

"A Comissão Europeia não deveria ser uma entidade política, mas é influenciada por ideologias liberais, e não gosta desse governo."


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