Folha de S. Paulo


Vice-presidente do Uruguai renuncia após escândalo por uso de cartões

Philippe Huguen - 11.jun.2015/AFP
Soldiers remove the debris of a house destroyed in an earthquake that struck off the southern coast of Mexico late on Thursday, in Juchitan, Mexico, September 8, 2017. REUTERS/Edgard Garrido TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: MBZ13
Raúl Sendic, que renunciou ao cargo de vice-presidente do Uruguai neste sábado (9)

O vice-presidente do Uruguai, Raúl Sendic, apresentou sua renúncia "indeclinável" ao cargo neste sábado (9), depois de se ver envolvido em um escândalo pelo uso de cartões corporativos oficiais e um título acadêmico que não tinha.

"Apresentei ao plenário da Frente Ampla (partido do governo) minha renúncia indeclinável à vice-presidência. Comuniquei também ao presidente Tabaré Vázquez", anunciou Sendic no Twitter, depois de uma reunião com o partido.

Sendic renunciou depois de uma decisão do Tribunal de Conduta Política de seu partido, a esquerdista Frente Ampla, que destacou que "o quadro geral apresentado pelos atos descritos" do agora ex-vice-presidente "não deixa dúvidas de um modo de atuar inaceitável no uso de dinheiro público".

Sua atuação "compromete sua responsabilidade ética e política, com o descumprimento reiterado de normas de controle", afirma um comunicado.

O escândalo do uso de cartões corporativos data da época em que Sendic era diretor da petroleira estatal Ancap, entre 2010 e 2013. A nomeação foi feita pelo ex-presidente José "Pepe" Mujica (2010-2015).

A informação, que se tornou pública a partir de um recurso de acesso a dados da empresa iniciado por jornalistas, mostrou gastos de Sendic em lojas de material esportivo, produtos eletrônicos e joalherias no Uruguai e em outros países.

Mujica comparou o escândalo com a situação do Brasil. "Enquanto, no Brasil, aparecem malas de dinheiro, estamos discutindo cuecas", disse, segundo o jornal "El Observador".

Em relação ao título acadêmico, o agora ex-vice-presidente admitiu, em 2016, que não é formado em genética humana como se acreditava até então.

DECISÃO 'DESPROPORCIONAL'

Em um vídeo filmado durante a plenária, realizada a portas fechadas neste sábado na sede do partido governista em Montevidéu para abordar o caso, Sendic chamou a decisão do tribunal partidário de "desproporcional" e "infundada". Ele disse que "não há provas" de que cometeu irregularidades.

"Diante desta situação, frente a este conjunto de manobras, de deslealdades", das quais acusa os companheiros de partido, Sendic afirmou: "Venho (...) colocar à disposição de vocês a vice-presidência, venho aqui renunciar à vice-presidência da República".

Sendic, 55 anos, é filho de Raúl Sendic, um dos fundadores da guerrilha Movimento de Libertação Nacional MLN-Tupamaros, que atuou no Uruguai nos anos 1960 e 1970. Ele foi escolhido por Vázquez para integrar a chapa presidencial que venceu a eleição em 2014 e assumiu o cargo em 2015.

CARGO VAGO

Segundo a Constituição do país, Sendic deveria ser substituído pelo senador mais votado no último pleito, o próprio Mujica, que, no entanto, estaria inabilitado para ocupar o cargo porque no Uruguai não há reeleição.

Lucía Topolansky, mulher de Mujica, aparece em segundo lugar na lista. "Topolansky é uma militante antiga do partido [o MPP (Movimento de Participação Popular), parte da Frente Ampla], vai assumir o que sua organização e a circunstância pedirem", disse Mujica.


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