Folha de S. Paulo


Vítimas por bombas de fragmentação mais que dobraram em 2016, diz ONG

As mortes ou ferimentos causados por bombas de fragmentação (cluster) –armas proibidas e que matam indiscriminadamente– mais que dobraram em 2016 em relação ao ano anterior, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (31) pela ONG Landmine and Cluster Munition Monitor.

O Brasil é um dos países que produz e exporta o armamento. O país não é signatário de uma convenção de 2008, assinada por 119 nações, que proíbe a fabricação, venda e uso de armas e munição de fragmentação.

As bombas de fragmentação contêm explosivos menores que, ao serem lançados, se espalham, com potencial para atingir uma grande área. Além disso, muitas dessas bombas menores não explodem com o primeiro impacto, permanecendo com potencial explosivo por anos, como minas terrestres.

Em 2016, a ONG identificou 971 pessoas mortas ou feridas por bombas de fragmentação –número bem acima dos 419 registrados em 2015. De acordo com a instituição, o número é "certamente inferior ao total real".

O número do ano passado se aproxima da quantidade de vítimas em 2013, quando a ONG apontou 1.047 pessoas atingidas por bombas de fragmentação –o maior da série que começou em 2009.

"Os civis representam quase todas as vítimas", disse Jeff Abramson, coordenador da ONG Landmine and Cluster Munition Monitor.

De acordo com o relatório, 98% das vítimas identificadas em 2016 eram civis. Membros das forças armadas e do esquadrão anti-bombas constituem os outros 2%.

O aumento das vítimas é creditado, em grande parte, ao conflito na Síria. Segundo a ONG, forças do governo começaram a usar munição de fragmentação contra rebeldes em julho do ano passado com o apoio da Rússia.

"O uso contínuo de munições de fragmentação na Síria é uma afronta que deve ser condenada", disse Mary Wareham, da ONG Human Rights Watch.

Vinte mortes ou lesões foram atribuídas ao bombardeio da coalizão liderada pela Arábia Saudita contra as milícias xiitas houthis e forças leais ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh no Iêmen, e mais de 50 pessoas morreram em explosões de bombas que, em um primeiro momento, não haviam sido detonadas no Laos.

Outras mortes foram registradas na Bósnia-Herzegóvina, Iraque, Líbano, Líbia, Sérvia, Sudão do Sul e Vietnã.

Para Abramson, a única maneira para acabar com o uso das bombas de fragmentação é convencer todos os Estados a aderirem a proibição internacional do armamento.

Além do Brasil, países como Estados Unidos, Rússia, China e Índia também não assinaram convenção que proíbe fabricação, venda e uso da munição.

Em 2016, relatório divulgado pela Human Rights Watch afirmou que bombas de fragmentação fabricadas no Brasil pela Avibras foram usadas no conflito do Iêmen e teriam causado a morte de civis.

Para a diretora do escritório no Brasil da Humans Rights Watch, Maria Laura Canineu, o Brasil tem responsabilidade em relação à vítimas por bombas de fragmentação.

"A responsabilidade permanece a medida que, ao produzir e exportar referidas munições, o Brasil não se compromete, como grande parte dos países do mundo, a dar um fim nessas fatalidades", disse Maria Laura Canineu à Folha. "Ao não se comprometer com o tratado internacional e continuar a produzir e exportar referidas munições, o Brasil vai na contramão do resto do mundo", disse.

Bombas de fragmentação


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