Folha de S. Paulo


Análise

Pobreza e falhas separam Harvey de Katrina

Eric Gay/Associated Press
Homem empurra sua bicicleta em Nova Orleans, após furacão Katrina, em 2005

Em 2005, o furacão Katrina causou a morte de 1.833 pessoas, prejuízo de US$ 81 bilhões e deixou 80% da cidade de Nova Orleans submersa. O Katrina chegou à Louisiana como um furacão de categoria 3 e o volume máximo de chuva na região de Nova Orleans foi de 431,8 mm entre os dias 24 e 30 de agosto daquele ano.

Isso é bem menos do que já choveu em certas áreas de Houston por causa da tempestade tropical Harvey em apenas 24 horas –635 mm. E o Harvey chegou ao território americano como um furacão da categoria 4 (a segunda mais forte), sendo posteriormente rebaixado para uma tempestade tropical.

Por que o Katrina foi, então, tão mais letal do que o Harvey, pelo menos por ora?

A grande diferença é que o furacão Katrina causou uma elevação de 8,5 metros no nível do mar, e essa coluna de água gigantesca rompeu o conjunto de barreiras contra inundação que protegiam a cidade. Como resultado, bairros inteiros ficaram completamente debaixo d'água. Muitos acusam falhas no funcionamento das contenções.

Já no caso da tempestade Harvey, o maior problema não é a elevação do nível do mar, que deve ficar entre 1 a 2 metros (ainda está em cálculos). Trata-se de um fenômeno diferente: os ventos enfraqueceram, mas meteorologistas esperam que as fortes chuvas causadas pelo Harvey fiquem estacionadas sobre Houston por três a quatro dias, então os danos por inundações devem aumentar gradualmente.

Houston é uma cidade com histórico de enchentes, agravados pela grande urbanização que resultou em muito piso pavimentado, que dificulta a absorção da água.

Mas um dos motivos para o Katrina ter sido uma das maiores catástrofes dos EUA foi socioeconômico. O índice de pobreza em Nova Orleans chegava a 28%. A população de baixa renda se concentrava em bairros como Lower Ninth Ward, abaixo do nível do mar, que ficaram completamente inundados. Um ano depois do furacão, quando esta repórter esteve na cidade, a maioria das casas do bairro estavam abandonadas, continuavam cheias de lama, com a marca do nível da água próxima do telhado.

Parte dos moradores de Nova Orleans não deixou a cidade mesmo após advertências do governo. Muitos simplesmente porque eram pobres e não tinham carro. Não houve um esquema de transporte público para retirá-los. Cerca de 40% das 1.577 mortes na Louisiana foram por afogamento.

Em Houston, o índice de pobreza é de 14,6% e não há dependência de um sistema de barreiras contra inundações. Mas preveem-se mais mortes porque as chuvas continuarão por alguns dias e o governo não decretou retirada obrigatória dos residentes.

Editoria de Arte/Folhapress
O PERIGO DAS INUNDAÇÕES - Harvey se tornou tempestade tropical, mas volume recorde de chuva põe Houston em alerta máximo

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