Folha de S. Paulo


Venezuelano busca 'terceira via' opositora

Reprodução/Instagram
Roderick Navarro participa de manifestação contra regime de Maduro, em junho, em Caracas
Roderick Navarro participa de manifestação contra regime de Maduro, em junho, em Caracas

O cientista político venezuelano Roderick Navarro, 29, pousou na quarta-feira (23) em Brasília, mesmo dia em que sua conterrânea Luisa Ortega Díaz, procuradora-geral deposta pela Assembleia Constituinte, acusava o ditador Nicolás Maduro e seus aliados de se beneficiar no caso Odebrecht.

Assim como ela, Navarro veio ao Brasil para denunciar a perseguição que sofre do regime. Ele também aparece na lista de foragidos para os quais o chavismo pediu captura internacional à Interpol.

Navarro é acusado de coparticipação no ataque a uma base do Exército no dia 6. A ação, que teve dois mortos e mais de 80 armas roubadas, foi o primeiro levante militar em cinco meses da onda de protestos contra Maduro.

À Folha ele disse ter sido alvo por ter parabenizado a ação. "Acusam-nos porque saudamos que militares tenham se envolvido na defesa à Constituição e à luta cívica do povo venezuelano."

Quando foi decretada a prisão, no dia 13, ele e seu colega, Eduardo Bittar, 30, já estavam na Colômbia. Dirigentes do movimento de direita ultraliberal Rumbo Libertad, eles afirmam ser parte de uma missão internacional do que chamam de A Resistência.

O termo apareceu sendo usado pelos adeptos da tática 'black bloc' que enfrentavam as forças de segurança. Depois, saiu da boca de Óscar Pérez, que sobrevoou Caracas em 27 de junho com um helicóptero roubado, e de Juan Caguaripano, líder do ataque à base militar.

Eles, porém, não têm uma ligação aparente entre si. Navarro define A Resistência como "muitos grupos organizados em função do discurso e do objetivo político": a queda do regime de Maduro, que chama de "narcoditadura".

"Estamos todos juntos, mas através das redes sociais, da discussão da nossa mensagem. Pode-se ver que há uma coalizão espiritual e patriota em função da liberdade de nosso país."

Foi também pela internet que Navarro disse ter sido escolhido para representar A Resistência no exterior e que viu a insatisfação dos venezuelanos com a Mesa de Unidade Democrática (MUD), coalizão que organizava os protestos e liderava a denúncia do regime no exterior.

"Estamos representando o desejo da população que protesta lá, que precisava de uma canalização e, agora de dentro d'A Resistência, estamos cumprindo essas funções que não foram cumpridas pela classe política tradicional."

INTERVENÇÃO

Assim como a MUD, Navarro diz que A Resistência usa a desobediência civil e a pressão internacional para derrubar Maduro. Mas não se opõe a um levante ou a uma intervenção dos EUA. "Qualquer ação que ajude o povo venezuelano a se salvar da opressão destes criminosos no poder [] é bem-vinda."

Também descarta pegar em armas, embora parte d'A Resistência avente a possibilidade. "A Resistência não se tornará uma guerrilha porque conta com um apoio muito grande da população."

Navarro foi um dos líderes do Movimento Estudantil de 2007, onda de protestos contra Hugo Chávez (1954-2013) que o levou a perder o plebiscito em que desejava aumentar seus poderes.

O cientista político chegou a entrar na MUD, mas saiu anos depois. "Eles defendem uma convivência que permita a estabilidade do sistema político."

Outra diferença é em relação ao programa de governo. "Eles propuseram aprofundar o socialismo por meio das políticas assistencialistas que eram feitas pelo ditador Chávez. O que A Resistência defende é que o país passe por um processo de liberdade."

Segundo Navarro, o objetivo é liberar a economia, dar "uma participação importante" à iniciativa privada na exploração do petróleo e a racionalização do Estado. Isso inclui acabar com os programas sociais quando o país sair da crise humanitária.

Questionado sobre o apoio d'A Resistência à medida, principalmente dos jovens pobres que são a maioria dos 'black blocs', ele diz que a população se beneficia porque o governo "gerou pobreza para que esse benefício seja constante". "Consideramos que uma pessoa vive melhor e feliz quando ela mesma limita suas expectativas de riqueza e pobreza."


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