Folha de S. Paulo


Governo Trump anuncia novas sanções à Venezuela e a petroleira

Ronaldo Schemidt/AFP
A man pulls a mobile travel cart loaded with bags of foodstuff, as he leaves one of the food distribution centers called CLAP (Local Committees for Supply and Production), which are run by community leaders, in Caracas on August 16, 2017.
Homem puxa carrinho com alimentos básicos distribuídos pelo governo venezuelano

Os EUA proibiram nesta sexta-feira (25) que pessoas físicas e empresas americanas comprem títulos da dívida pública da Venezuela e da petroleira estatal PDVSA, na sexta —e mais rígida— rodada de sanções econômicas contra o regime de Nicolás Maduro em 2017.

Estas punições são as primeiras a atingirem diretamente a economia venezuelana, e, portanto, supostamente mais efetivas, já que interrompem canais de financiamento do regime. Até então, os alvos do governo de Donald Trump haviam sido indivíduos, como Maduro e seus aliados.

O decreto impede a compra de títulos da dívida venezuelana com vencimentos maiores que 30 dias e da PDVSA com vencimentos maiores que 90 dias. Também corta o pagamento de dividendos ou participação de lucros a empresas controladas direta ou indiretamente pelo regime venezuelano.

Em comunicado, a Casa Branca afirma que as sanções foram desenhadas para não "prejudicar drasticamente" a economia americana e não aprofundar a crise humanitária no país caribenho.

"Estas medidas estão cuidadosamente calibradas para negar à ditadura de Maduro uma fonte crítica de financiamento para manter seu governo ilegítimo, proteger o sistema financeiro dos EUA da cumplicidade na corrupção da Venezuela e no empobrecimento do povo venezuelano e permitir a assistência humanitária", diz a nota.

O principal ativo do chavismo a ser atingido é a Citgo, petroleira controlada pela PDVSA e sediada nos EUA. Além de não poder pedir empréstimos a bancos americanos, a companhia também está impedida de enviar seus dividendos à Venezuela.

As principais exceções à regra serão o financiamento de produtos humanitários, transações envolvendo a Citgo nos EUA, e a compra e a venda de certos títulos da dívida venezuelana já existentes.

Se interrompesse totalmente a compra do petróleo venezuelano, que perfaz 10% do total importado e consumido pelos EUA, o preço da gasolina dispararia até se encontrar uma alternativa.

O corte também agravaria a crise humanitária da Venezuela, pressionando os países latino-americanos vizinhos, como a Colômbia e o Brasil, e poderia levar à radicalização do regime.

Antes de atingir a economia venezuelana, o governo Trump já havia punido Maduro e outras 30 pessoas ligadas a seu regime pela violência nos protestos da oposição, pela convocação da Assembleia Constituinte e pela corrupção na PDVSA e nos órgãos de comércio exterior.

Dentre eles, estão dez constituintes, oito juízes do Tribunal Supremo de Justiça, as quatro reitoras chavistas do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e o procurador-geral designado pela Constituinte, Tarek William Saab, além de chefes militares e policiais.

A exceção é o vice-presidente, Tareck El Aissami, acusado de tráfico de drogas. As sanções são anunciadas na véspera de um exercício militar venezuelano com mais de 900 mil pessoas, entre militares, policiais e civis.

MADURO

Após seu regime sofrer a sexta rodada de sanções americanas do ano, Nicolás Maduro acusou o presidente da Assembleia Nacional, o opositor Julio Borges, de ser o mentor das punições econômicas.

Em cadeia nacional de rádio e TV, o ditador citou como provas de sua acusação as reuniões de seu adversário com investidores estrangeiros para demovê-los da ideia de comprar títulos venezuelanos.

"Os vendilhões da pátria quase choram no telefone ao pedir as sanções a esses mafiosos para queimar a Venezuela", disse.

Ele pediu ao Tribunal Supremo de Justiça e à Assembleia Constituinte que abra um julgamento contra os opositores por traição à pátria por terem promovido as punições.

Borges, porém, já é alvo de um processo na comissão da verdade da Constituinte por crime econômico. Como prova, a presidente da Casa chavista, Delcy Rodríguez, anexou uma carta do opositor ao banco Goldman Sachs.

Maduro também convocou os investidores americanos para uma reunião na próxima semana para definir o que se fará com aqueles que têm títulos venezuelanos e da PDVSA.

Disse ainda que o país saiu vitorioso e que, com as sanções, a Venezuela poderá consolidar o que chamou de "liberação econômica" dos americanos.

"Tudo o que tentam fazer contra a Venezuela é uma loucura. Com o esforço do nosso povo tudo isso fracassará e a Venezuela sairá fortalecida, mais livre e independente. Não nos humilharão. Estamos de pé e assim ficaremos."


Endereço da página:

Links no texto: