Em uma recente visita a Washington, para um simpósio de pesquisa, Michelle Beermann visitou uma loja de presentes da cidade, atraída pela perspectiva de aumentar a sua coleção de bustos.
Beermann, 24, contemplou os produtos exibidos na White House Gifts, considerando cuidadosamente as escolhas disponíveis, em mármore e falso bronze –entre as quais imagens dos presidentes John Kennedy e Barack Obama–, antes de escolher um busto de Abraham Lincoln, seu presidente favorito, que se uniria a William Shakespeare, George Washington e a diversas figuras da mitologia grega, em sua coleção.
| Tom Brenner/The New York Times | ||
 |
||
| Meias estampadas com o rosto do presidente Donald Trump em loja de suvenires da Casa Branca |
E embora Beermann, aluna da Universidade do Illinois, no futuro planeje adicionar os bustos de Kennedy e Obama à coleção, ela diz que um busto do presidente Donald Trump não fará parte dela de maneira alguma.
"Não sou fã dele, por motivos políticos", disse Beermann. "Não o quero me encarando".
NA CABEÇA
Os sentimentos dela refletem um dilema incomum para alguns distribuidores de mercadorias presidenciais: depois de apenas seis meses de governo de Trump, como comercializar com sucesso produtos associados a um presidente divisivo?
"É difícil para nós, como varejistas, determinar o que vender", disse Jim Warlick, dono da White House Gifts. A demanda pelo que ele descreve como mercadorias anti-Trump frequentemente se equipara a, ou supera, a demanda por produtos que retratam o 45º presidente –com uma notável exceção.
"O boné vermelho é o boné mais vendido que já tivemos", ele disse, rindo, em referência a um boné com o slogan "Make America Great Again". O boné, um símbolo duradouro da campanha presidencial de 2016, é popular nas barraquinhas de suvenires da capital dos Estados Unidos. "Nossas famílias estão tão divididas que pessoas os compram para os dois lados", disse Warlick. "Como piada ou como presente".
Embora a White House Gifts ofereça uma combinação de lembranças presidenciais, da Casa Branca e da capital, a maioria dos produtos associados a Trump está na frente da loja, de camisetas com o slogan "Make America Great Again" a bonecos satíricos com longos cachos loiros. Mas para cada pessoa que compra um boné, diz Warlick, existe um cliente potencial em busca de outra coisa que não um suvenir do 45º presidente.
"Se quero comprar alguma coisa aqui?", comentou uma jovem com uma amiga, encarando com sarcasmo os produtos comemorativos da posse de Trump exibidos em um mostruário de vidro logo adiante da entrada da loja. "Lá quero apoiar o cara que apoia Trump?"
QUEDA NAS VENDAS
As vendas gerais nos seis primeiros meses da presidência de Trump estão 13% abaixo das registradas nos seis primeiros meses do segundo mandato de Obama, em 2013, disse Warlick. Ele atribuiu o declínio em parte à perda de popularidade do novo presidente, especialmente junto à clientela estrangeira da loja, que prefere gastar dinheiro em mercadorias associadas a Obama. Mas mesmo desconsideradas as diferenças políticas e de atrativos, é difícil comparar Trump com a importância histórica do primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
"A paixão por Obama era diferente de qualquer coisa que eu tenha visto", disse Warlick, que vende e desenha mercadorias associadas aos presidentes dos Estados Unidos desde 1980, antes de abrir sua loja, durante o governo Obama. "As vendas nunca caíram, e aumentaram ainda mais em seu ano final de governo".
Na Cafe Press, uma loja online de presentes sediada em Louisville, Kentucky, o presidente-executivo Fred Durham diz que a nostalgia pelos antigos presidentes vêm sendo surpresa. Até agora este ano, cerca de 30 mil produtos associados a antigos governos foram vendidos; a venda de produtos associados ao presidente Bill Clinton subiu em 40% ante os resultados de 2016, e a de produtos associados a Lincoln subiu em 20%.
CONSERVADORES
O tipo de produto vendido também mudou, com o governo Trump. Os itens se referem mais à vitória conservadora do que ao candidato. No caso do presidente George W. Bush, as mercadorias tendiam ao comentário satírico; e os suvenires sobre Obama se referiam à esperança e ao aspecto histórico de seu mandato.
"Muitos dos produtos são menos sobre Trump do que afirmações do tipo 'Trump venceu, aceite o fato'", ele disse. "É um tanto rude, e mais uma mensagem aos vizinhos do que uma referência ao candidato".
A dinâmica entre os partidários de Trump e seus críticos é o motivo para que Debbie Turcio, artista radicada em Cleveland, tenha evitado mensagens políticas, inicialmente, em seus desenhos para cartões comemorativos. Mas em março ela desenhou um cartão de aniversário para seu pai, partidário do presidente, com Trump como tema, e desde então vendeu milhares de exemplares dele, online e através de revendedores.
O cartão de US$ 4,50, que parodia o estilo oratório de Trump –"Todo mundo sabe que compro os melhores cartões de aniversário, pode acreditar. Você jamais vai encontrar um cartão de aniversário melhor que este cartão de aniversário aqui", diz o texto, por sobre um desenho do presidente– é de longe o item mais procurado na página de Turcio no Etsy. Ela vendeu cerca de 100 cartões semelhantes com um desenho de Hillary Clinton, nos últimos meses.
"Eu diria que a maioria dos meus compradores detesta o presidente", disse Turcio sobre o cartão com a imagem de Trump, acrescentando que ela também discorda das políticas do presidente. "Para mim, em termos pessoais, é um jeito de ganhar dinheiro à custa de Trump, e por isso é meio terapêutico".
Tradução de PAULO MIGLIACCI