Folha de S. Paulo


Movimento 'alt-right' é grupo de ódio e desumaniza outros, diz pesquisador

Após entrevistar 447 adeptos do "alt-right", o professor de psicologia Nour Kteily, da Universidade Northwestern, em Illinois, considera que, apesar de pouco organizado, o movimento pode ser considerado um "grupo de ódio".

A explicação está no comportamento que desumaniza outros grupos e pela motivação dos entrevistados em expressar preconceito, ofender e perseguir os outros devido à sua raça.

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Folha - Como o sr. define o movimento "alt-right"?

Nour Kteily - Como um grupo de indivíduos com visões de extrema direita que se opõem fortemente às normas liberais de justiça e igualdade social, e que se opõem à defesa de direitos de grupos tradicionalmente desfavorecidos, como minorias raciais e mulheres. Essa visão parece vinculada à ideia de que, hoje, a discriminação é maior contra brancos e homens.
O "alt-right" também parece ter uma profunda desconfiança do establishment mainstream, o que estaria intimamente ligado à visão de que a mídia mainstream e a maioria das instituições governamentais estão promovendo as normas liberais de justiça social que eles contestam.

Como é a organização do movimento?

O "alt-right" é pouco organizado. A maior parte de sua organização é na internet. Alguns adotam a visão do "alt-right" sem reconhecer esse termo, afinal é um julgamento individual que leva a determinar se esses indivíduos poderiam ou não ser considerados membros do "alt-right".

Mas me inclino mais a chamar aqueles indivíduos de adeptos da ideologia "alt-right", ao invés de membros, da mesma forma que outras pessoas podem ser simpatizantes de uma ideologia sem estarem ativas num grupo para alcançar metas específicas. No caso do "alt-right", essas definições estão pouco claras.

Como o sr. vê a relação entre racistas, neonazistas e o "alt-right"?

Isso não está claro. Na nossa pesquisa, parece que muitas das pessoas que se auto-identificam como "alt-right" têm opiniões alinhadas com o que se poderia classificar como supremacia branca. Mas suas preocupações se estendem para além de apenas defender os brancos: eles parecem fazer mais oposição a uma ordem social na qual grupos historicamente desfavorecidos estão ganhando aquilo que, na sua visão, são favores injustos.

Por exemplo, descobrimos que os adeptos do "alt-right" também menosprezam as mulheres, não apenas as minorias raciais. Acredito que há distinção de graduação entre o que defendem os supremacistas brancos, os neonazistas e o "alt-right". Dito isso, na prática, essas ideologias podem se manifestar de maneiras que tornam difícil fazer uma distinção entre os grupos, já que adeptos do "alt-right" também mostram disposição de tomar medidas extremas para defender seus pontos de vista.

O sr. classificaria o "alt-right" como um grupo de ódio?

Essa é uma pergunta complexa, em que não há uma resposta fácil. Como o "alt-right" ainda está pouco organizado e definido, pode haver pessoas que se identificam com o movimento mas não compartilham do mesmo sentimento de ódio que caracteriza outros adeptos.

Ainda assim, eu diria, com base na maioria dos dados que coletamos, que o "alt-right" é um grupo de ódio, por desumanizar outros grupos, por sua percepção de que certos grupos são inerentemente inferiores e, especialmente, por sua motivação em expressar preconceito e perseguir os outros devido à sua raça.

E o movimento conhecido como "antifa", ou os antifascistas? Pode ser classificado como grupo de ódio?

Não examinei empiricamente os "antifas". De acordo com a definição do FBI, o propósito principal de um grupo de ódio é promover animosidade ou hostilidade contra pessoas de uma raça, religião, deficiência, orientação sexual ou origem que difere da dos membros da organização.

Acho que há poucas evidências até agora de que os "antifas" estão explicitamente buscando promover animosidade contra outros ou fazê-lo por causa de sua raça ou alguma dessas outras categorias. A evidência para esses dois critérios parece muito mais clara em relação ao "alt-right".

Editoria de Arte/Folhapress
'ALT-RIGHT' DECIFRADOPesquisadores entrevistaram 447 pessoas que se identificam com movimento

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