Folha de S. Paulo


Trump demite estrategista-chefe ligado a supremacistas, Steve Bannon

Carolyn Kaster - 29.abr.2017/Associated Press
FILE - In this April 29, 2017, file photo, Steve Bannon, chief White House strategist to President Donald Trump is seen in Harrisburg, Pa. According to a source, Bannon is leaving White House post. (AP Photo/Carolyn Kaster, File) ORG XMIT: WX103
Steve Bannon durante evento na Pensilvânia em abril

O controverso estrategista-chefe de Donald Trump, Steve Bannon, se tornou, nesta sexta (18) o oitavo nome da equipe mais próxima do presidente a cair em sete meses de governo -e o quarto só nos últimos 30 dias.

Bannon, ligado ao movimento "alt-right" -com o qual se identificam nacionalistas brancos, grupos homofóbicos e anti-imigrantes-, havia se tornado uma presença ainda mais incômoda na Casa Branca depois da marcha de grupos racistas e neonazistas em Charlottesville, na Virgínia, que terminou com uma morte no último sábado (12).

No início da noite, o site de notícias "alt-right" Breitbart anunciou que Bannon voltará como seu presidente-executivo.

Em comunicado, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, apenas disse que Bannon e o novo chefe de gabinete de Trump, o general John Kelly, "acordaram que hoje (sexta) seria o último dia" do estrategista no posto. "Agradecemos o seu serviço e lhe desejamos o melhor", completou.

Segundo um funcionário ouvido pelo "New York Times", apesar de a situação de Bannon ter se complicado após a violência em Charlottesville, Trump já pensava em demiti-lo desde a saída do chefe de gabinete anterior, Reince Priebus, há três semanas.

Os conservadores Priebus e Bannon eram bastante alinhados e batiam de frente com a ala mais "democrata" da Ala Oeste, representada pelo principal conselheiro econômico de Trump, Gary Cohn (ex-Goldman Sachs), pela vice-conselheira de Segurança Nacional para Estratégia, Dina Powell, e por Ivanka, filha do presidente, e seu marido, Jared Kushner, ambos assessores de Trump.

Entre os temas de maior divergência estavam o comércio, impostos, imigração e a guerra no Afeganistão.

Em uma polêmica e rara entrevista dada pelo estrategista-chefe à revista liberal "The American Prospect", publicada na última quinta (17), Bannon zombou de seus inimigos dentro do governo dizendo que eles estavam "se mijando" de medo de mudar radicalmente a política comercial.

Ele ainda foi contra declarações anteriores de Trump, dizendo "não haver solução militar" com a Coreia do Norte. "Até que alguém resolva a parte da equação que mostra que 10 milhões de pessoas morrerão em Seul nos primeiros 30 minutos pelo uso de armas convencionais, eu não sei do que estão falando, não há solução militar aqui. Eles nos pegaram", disse Bannon.

Para muitos dentro do governo, não havia como o estrategista se sustentar no posto depois da entrevista.

Na incendiária entrevista coletiva dada por Trump na última terça (15), na qual o presidente voltou a afirmar que os dois grupos -racistas e antirracistas- que se enfrentaram em Charlottesville tinham culpa, ele também sugeriu que Bannon estaria com os dias contados.

"Vamos ver o que acontece com o Bannon", disse Trump ao ser questionado se ele ficaria no cargo.

A indicação de Bannon para o posto de alta confiança na Casa Branca havia sido o principal aceno feito por Trump para o "alt-right" após sua eleição, em novembro, e o presidente nunca escondeu sua afinidade de pensamento com o assessor.

Trump, no entanto, se incomodava com a imagem de que era Bannon o "cérebro" por trás de suas decisões. No programa humorístico Saturday Night Live, ele representado como a Morte, que comandava um presidente idiota.

Com a saída de Bannon, a equipe mais próxima de Trump tem, neste momento, pelo menos dois grandes desfalques, junto com o posto de diretor de comunicação, ainda vago desde que Anthony Scaramucci saiu após dez dias no governo.


Endereço da página:

Links no texto: