Folha de S. Paulo


Ex-senador boliviano asilado no Brasil morre após acidente de avião

Sergio Lima/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 26-03-2015: Entrevista exclusiva do senador boliviano Roger Pinto Molina, num café do setor hoteleiro norte de Brasília. Molina não quis fazer fotos no apartamento funcional do Sen. Sérgio Petecão (PSD/AM), onde está hospedado em Brasília. (Foto: Sergio Lima Folhapress - PODER)
O ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, no centro de Brasília, cidade em que passou a morar

O ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, 58, que recebeu asilo no Brasil após alegar perseguição do governo de Evo Morales, morreu na madrugada desta quarta-feira (16) em Brasília. Ele estava em estado grave no Hospital de Base desde sábado (12), após sofrer um acidente de avião em Goiás.

Segundo a Secretaria de Saúde, Molina teve uma parada cardiorrespiratória e morreu às 4h43. Por se tratar de um acidente aéreo, o corpo foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal).

O ex-senador pilotava o próprio avião, de pequeno porte, quando caiu em Luziânia (GO). De acordo com o Corpo de Bombeiros de Goiás, a queda aconteceu após a decolagem no aeroclube da cidade, no entorno de Brasília.

Único ocupante da aeronave, Molina ficou preso nas ferragens. Após ser estabilizado pelos bombeiros, ele foi levado para a UTI do Hospital de Base.

Corpo de Bombeiros de Goiás
Destroços do avião monomotor pilotado pelo ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, que caiu em Luziânia (GO)
Destroços do avião pilotado pelo ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, que caiu em Luziânia (GO)

ASILO

Molina pediu asilo ao Brasil em maio de 2012, afirmando ser alvo de perseguição política do governo Evo Morales, que o acusava de vender terras em Pando, departamento que governava, e de ser o mandante de uma ação em que 20 índios foram mortos.

O pedido foi aceito, mas a Bolívia não deu o salvo-conduto para que ele saísse do país. Ele ficou 454 dias em uma pequena sala de representação na embaixada brasileira em La Paz, até fugir em agosto de 2013 para o Brasil com a ajuda de Eduardo Saboia, encarregado de negócios, que o levou de carro até Corumbá, em uma viagem que durou mais de 22 horas.

De lá, o boliviano partiu para Brasília, onde morava. A operação provocou uma crise diplomática entre Evo Morales e a então presidente Dilma Rousseff, que terminou com uma suspensão a Saboia no Itamaraty.

Em 2013, Molina afirmou que voltar à Bolívia seria "sentença de morte".

"Retornar à Bolívia é pouco menos que um suicídio para mim. Se você escuta Morales, como ele fala, o pouco respeito que tem pelas pessoas, tenha a plena segurança de que voltar à Bolívia [para mim] é uma sentença de morte", disse Molina à época.

O ex-senador também foi citado na época do acidente com o avião que levava o time da Chapecoense a Medellín, na Colômbia, que deixou 71 mortos. Ele era sogro de Miguel Quiroga, piloto e dono da empresa LaMia.

Nos últimos anos, Molina tentava se reerguer financeiramente e revalidou sua habilitação para pilotar no Brasil, relata seu advogado, Fernando Tibúrcio. "Ele estava começando a fazer alguns voos privados", afirma. No sábado (12), estava em uma aeronave que usava para treinamento.

Segundo Tibúrcio, o desejo do ex-senador era passar os últimos dias de vida na Bolívia. A possibilidade de tentar levar o corpo ao país chegou a ser discutida junto à família de Molina, mas acabou descartada devido a possíveis "dificuldades políticas" neste processo, relata.

Agora, de acordo com o advogado, o corpo do Molina será cremado. As cinzas devem ser jogadas em um lago na região de Cobija, que fica em Pando, na Bolívia.

ITAMARATY

Em nota, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, se disse consternado com a morte de Molina.

"Morre hoje longe de sua terra, mas rodeado pelo respeito e pela estima que sua trajetória política e humana lhe garantiram", disse.

A nota chama Molina de "concliliador" e diz que ele denunciava no senado boliviano o crescimento da influência do narcotráfico.

"De caráter generoso e afável, ajudava outros refugiados e recebeu apoio e amizade de muitos políticos brasileiros, de diversas colorações ideológicas."


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