Folha de S. Paulo


EUA expulsam dois diplomatas cubanos após incidente em embaixada

Stringer/Reuters
Em imagem de 2015, bandeira dos EUA é hasteada na embaixada do país em Havana após 54 anos
Em imagem de 2015, bandeira dos EUA é hasteada na embaixada do país em Havana após 54 anos

Em um caso que mais parece ter saído de um relato da Guerra Fria, a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, divulgou nesta quarta (9) que dois diplomatas cubanos foram expulsos dos EUA depois que "incidentes" causaram "vários sintomas físicos" a funcionários da embaixada americana em Havana.

Nauert não quis esclarecer quantos americanos teriam sido afetados, e nem quais foram os sintomas. Os episódios começaram no fim de 2016, e os funcionários tiveram que deixar a ilha e retornar aos EUA.

Nos entanto, outros funcionários, sob anonimato, disseram à Associated Press que, entre os sintomas causados pelos "incidentes", estaria a possível perda de audição. Um deles disse que o governo está investigando se membros do regime cubano teriam colocado aparelhos sonoros que produzem sons inaudíveis nas casas de cinco funcionários da embaixada com a intenção de deixá-los surdos.

Os diplomatas cubanos tiveram sua saída ordenada pelos EUA em 23 de maio, mas a informação só foi confirmada pelo governo americano nesta quarta, depois de ter sido publicada pela CBS Radio News.

O Departamento de Estado diz que não há "respostas definitivas sobre a origem ou causa dos incidentes", mas deixou claro que o governo Trump responsabiliza o regime de Raúl Castro.

"O governo cubano tem a responsabilidade e a obrigação, sob a Convenção de Genebra, de proteger os nossos diplomatas", disse Nauert.

Segundo a porta-voz, o governo está tratando "muito seriamente" o caso e investigando as causas e os impactos dos incidentes.

"O que é preciso é que providenciemos exames médicos para essas pessoas. Inicialmente, quando eles começaram a relatar o que eu só chamarei de 'sintomas', levou um tempo até que fosse identificado o que era", disse. "Estamos monitorando isso."

Em nota, a Chancelaria cubana negou as acusações. "Cuba nunca permitiu nem permitiria que o território cubano seja utilizado para qualquer tipo de ação contra diplomatas credenciados ou suas famílias."

Como todos os diplomatas estrangeiros em Havana, os funcionários afetados –que haviam chegado na ilha no meio de 2016– viviam em casas que são propriedade do governo cubano e mantidas por ele. Por isso, os EUA estariam mais certos da participação do regime de Raúl Castro.

No fim do ano, eles e seus cônjuges teriam começado a apresentar perda de audição, e a investigação então começou, segundo a Associated Press. Nenhuma criança teve os sintomas.

A embaixada dos EUA em Havana foi oficialmente reaberta em agosto de 2015, simultaneamente à da cubana em Washington, como parte do movimento de reaproximação entre os dois países acordado entre Castro e o então presidente Barack Obama.

As embaixadas haviam sido fechadas em 1961, quando as relações entre os dois países foram rompidas.

Em 16 de junho –quando os dois diplomatas já tinham sido expulsos dos EUA, mas a informação ainda não era pública–, Trump foi a Miami anunciar que estava "cancelando" o acordo de aproximação feito por Obama.

Na prática, contudo, o que o presidente fez foi restabelecer restrições para viagens de americanos a Cuba e determinar a proibição de transações comerciais entre empresas americanas e entidades militares cubanas.


Endereço da página:

Links no texto: