Folha de S. Paulo


Presidente do Irã frustra reformistas com gabinete mais conservador

O presidente iraniano, Hasan Rowhani, reconduziu seus ministros do Exterior e do Petróleo para seu novo gabinete, mas decepcionou os reformistas que apostaram nele na eleição deste ano e esperavam mudanças em seu governo.

Em uma lista de nomes apresentada para a aprovação do Parlamento, o mandatário conservou Mohammad Javad Zarif como seu chefe de diplomacia e Bijan Namdar Zanganeh na pasta do Petróleo, segundo a mídia estatal iraniana.

Ahmad Halabisaz - 5.ago.2017/Xinhua
O presidente do Irã, Hasan Rowhani, discursa ao tomar posse para seu segundo mandato em Teerã
O presidente do Irã, Hasan Rowhani, discursa ao tomar posse para seu segundo mandato em Teerã

Mas frustrou os reformistas que o conduziram a uma vitória por maioria grande, em maio, ao não incluir em seu gabinete nenhuma mulher nem qualquer integrante da minoria sunita do Irã, cujos membros foram às urnas em grande número para votar nele.

"A falta de qualquer ministra mulher é muito decepcionante, depois de as mulheres terem passado dias e noites fazendo campanha por sua reeleição", comentou um professor de política que não quis ser identificado. "A presença de pelo menos uma mulher e um sunita no gabinete teria tido importância simbólica para as mulheres e as minorias religiosas."

Político pragmático que, em seu primeiro mandato, fechou o acordo nuclear do Irã com as potências mundiais, Rowhani vem sofrendo pressão de setores de linha dura no regime da República Islâmica.

Isso provocou especulações de que ele teria evitado efetuar grandes mudanças em seu governo para evitar um estremecimento de relações com o aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo, e o clero conservador.

"Não teria sido sensato desestabilizar a economia e a política nacionais com a introdução de figuras controversas", opinou um analista político próximo ao governo.

Os clérigos se opõem a ideia de mulheres serem ministras, já que isso violaria sua interpretação das leis islâmicas. O populista de linha dura Mahmoud Ahmadinejad, o predecessor de Rowhani, teve uma mulher em seu gabinete durante seu segundo mandato presidencial —a única mulher a ocupar um cargo dessa natureza desde a Revolução Islâmica de 1979.

O ex-presidente e reformista destacado Mohammad Khatami disse na segunda-feira (7) que o consentimento do líder supremo é o critério mais importante para determinar a composição do gabinete.

A declaração surpreendeu as pessoas que votaram em Rowhani depois de ele basear sua campanha numa plataforma reformista. Alguns analistas indagaram se isso seria um sinal de que os reformistas estariam tentando suavizar as tensões com a linha dura.

"Rowhani recebeu votos suficientes e possui a legitimidade popular suficiente para poder enfrentar as pressões. Se ele não puder, quem mais é que vai poder?", indagou o professor de política.

Durante a campanha eleitoral, o presidente prometeu acelerar o esforço ainda incipiente de reaproximação do Irã com o mundo externo, visando atrair mais investimentos estrangeiros e reduzir as restrições impostas às liberdades sociais.

Mas seu segundo mandato está começando no momento em que o Irã sofre pressão crescente do presidente americano Donald Trump, que já criticou reiteradamente o acordo nuclear e avisou Teerã que está colocando o país "sob aviso".

A paisagem política também foi complicada por facções rivais no regime que querem influenciar a sucessão eventual de Ali Khamenei, que tem 78 anos.

Entre os novos nomes indicados para o gabinete, que tem 18 membros, estão Masoud Karbasian, um tecnocrata que assume o Ministério das Finanças. Rouhani promoveu o general Amir Hatami a ministro da Defesa, o que significa que um membro do Exército regular ocupará um cargo que há anos era controlado pela Guarda Revolucionária.

Durante sua campanha eleitoral o presidente fez críticas surpreendentemente abertas à poderosa Guarda, aludindo especialmente a seu império comercial.

Rowhani não indicou um nome para a pasta do Ensino Superior, um dos cargos mais delicados no gabinete, na medida em que os estudantes iranianos exercem há anos um papel em mobilizar a população contra ou a favor dos políticos.

Todos os nomes indicados ao gabinete precisarão ser aprovados pelo Parlamento.

Tradução de CLARA ALLAIN


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