Folha de S. Paulo


Ministério Público da Venezuela pede anulação da instalação da Constituinte

O Ministério Público da Venezuela, comandado pela chavista dissidente Luisa Ortega Díaz, pediu nesta quinta-feira (3) à Justiça a suspensão da instalação da Assembleia Constituinte, a um dia da posse de seus membros.

A ação se baseia na acusação feita na quarta (4) pela empresa Smartmatic, responsável pelos sistemas usados na eleição do último domingo (30), de que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) teria inflado o comparecimento.

Boris Vergara/Xinhua
Manifestante aliada ao presidente Nicolás Maduro participa de ato em apoio ao CNE em Caracas
Manifestante aliada ao presidente Nicolás Maduro participa de ato em apoio ao CNE em Caracas

O órgão anunciou horas após o fim da votação que 8.089.320 pessoas foram às urnas. Mas, para o executivo-chefe da Smartmatic, Antonio Mugica, o número de votantes foi adulterado em pelo menos um milhão.

No recurso, o Ministério Público argumenta que, diante da suspeita de fraude, a instalação da Constituinte deve ser suspensa até a realização de uma auditoria independente dos votos com especialistas locais e estrangeiros.

A Procuradoria usa como precedente a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que impugnou a posse de três deputados acusados de fraude eleitoral na Assembleia Nacional, dominada pela oposição, em janeiro de 2016.

Como o Legislativo não obedeceu, a Casa foi declarada em desacato pelo TSJ e todas suas decisões desde então são consideradas sem efeito. No recurso, também é citada a ilegalidade da Constituinte porque sua instalação não foi submetida a plebiscito.

O Judiciário não havia avaliado o recurso até a publicação deste texto. A ação se soma à investigação anunciada por Ortega Díaz na quarta (2) contra as quatro reitoras chavistas do CNE pela suspeita de fraude na votação.

A denúncia de fraude, considerada infundada pelo órgão eleitoral, soma-se a outros fatores que puseram a eleição sob suspeita. Pesquisas apontavam que só 25% dos eleitores votariam —o número do CNE representa 41%.

A desconfiança também vem do fato de que, mesmo com o boicote opositor à Constituinte e a reprovação de 80% ao governo, o comparecimento superou em 583 mil a votação que levou Maduro à Presidência em 2013.

O CNE ainda é questionado por ter anunciado os eleitos sem revelar o número de votos de cada um, que continuam desconhecidos. O Pátria para Todos, partido da base de Maduro, pediu a divulgação do documento.

Diante das acusações, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, anunciou a expulsão do CNE venezuelano da reunião entre os órgãos eleitorais dos países-membros, em outubro.

POSSE

Nesta quinta, o governo continuava preparando a posse dos 545 constituintes, prevista para o Salão Elíptico do Palácio Legislativo. A oposição, que domina a Assembleia Nacional hoje instalada no prédio, disse que ficará no plenário, no lado oposto.

O Executivo, no entanto, não confirmou se vai retirar os opositores do local, embora Maduro e outros chavistas tenham prometido dias atrás expulsar a oposição. Os membros da coalizão Mesa de Unidade Democrática (MUD) dizem que só saem à força.

Os dois lados também convocaram manifestações para o local. Enquanto o chavismo comemorará a instalação da Constituinte, seus rivais vão às ruas em repúdio à iniciativa de Maduro e em apoio ao atual Legislativo.

O temor é que haja violência durante a cerimônia. Nos últimos quatro meses, os opositores foram agredidos várias vezes no Palácio Legislativo por membros de coletivos (milícias chavistas), com a omissão da Guarda Nacional.


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