Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Oito coisas que a equipe de Trump negou e depois confirmou

A Casa Branca contradisse diretamente o advogado do presidente Donald Trump, na quinta-feira (3). Confirmou que o presidente esteve envolvido na declaração enganosa de seu filho, Donald Trump Jr., sobre sua reunião com uma advogada russa, depois que Jay Sekulow, o advogado do presidente, divulgou duas declarações inequívocas negando o envolvimento do presidente.

Mas essa não foi a primeira vez que a equipe de Trump pareceu ter confirmado algo que negara anteriormente. Abaixo, outros sete exemplos.

1) Que Trump esteve envolvido no comunicado de Trump Jr. sobre a Rússia

A negação

"Quero deixar claro que o presidente não esteve envolvido na redação do comunicado e não divulgou o comunicado" –declaração de Sekulow à rede de TV CBS, 16 de julho.

"O presidente não aprovou coisa alguma... O presidente não teve envolvimento nisso" –declaração de Sekulow à ABC News, em 12 de julho.

A confirmação

"O presidente interveio, como qualquer pai faria, com base nas informações limitadas de que dispunha" - Sarah Huckabee Sanders, porta-voz da Casa Branca, depois que o "Washington Post" reportou que Trump havia alterado a declaração no último minuto para torná-la ainda mais enganosa.

2) Que Trump está contemplando usar seu poder presidencial de perdão

A negação

"Perdões não estão sendo discutidos e não estão sendo contemplados" –Sekulow, em 21 de julho.

A confirmação

"Embora todos concordemos em que o presidente dos EUA tem poder completo de perdão, por que pensar nisso quando o único crime até agora são vazamentos contra nós? Notícias falsas". - Trump no Twitter, 22 de julho.

3) Que Trump decidiu unilateralmente demitir James Comey do comando do FBI

A negação

"Ninguém da Casa Branca esteve envolvido. A decisão foi do Departamento da Justiça" –Sean Spicer, 9 de maio.

Perguntada se Trump já havia decidido demitir Comey e pedido que o secretário assistente da Justiça Rod Rosenstein e o Departamento da Justiça criassem uma justificativa para isso, Huckabee Sanders respondeu "não", em 10 de maio.

"Ele acatou a recomendação do secretário assistente da Justiça, que supervisiona o diretor do FBI. Ele tinha perdido a confiança naquele diretor do FBI e aceitou a recomendação de Rod Rosenstein" - Kellyanne Conway, 10 de maio.

A confirmação

"Eu estava pronto para demitir Comey... E o demitiria mesmo sem a recomendação" - Trump à NBC News, 11 de maio.

"Em 8 de maio, fui informado de que o presidente pretendia tirar James Comey do FBI e ele pediu meu conselho e opinião" - Rod Rosenstein, 19 de maio.

4) Que Comey foi demitido por causa da investigação sobre a Rússia

A negação

"Não foi esse –deixe-me ser bem claro a respeito– não foi esse o motivo. Não foi esse o motivo" - vice-presidente Mike Pence, 10 de maio.

O memorando de Rosenstein não mencionava a investigação sobre a Rússia e se concentrava em lugar disso em uma declaração incomum feita por Comey no final das investigações sobre Hillary Clinton, durante a campanha de 2016. "Não posso defender a maneira pela qual o diretor conduziu o encerramento da investigação sobre os e-mails da secretária Clinton, e não compreendo sua recusa em aceitar a avaliação quase universal de que ele estava errado" - Rosenstein, em 9 de maio.

"Com base em minha avaliação, e pelos motivos expressos pelo secretário assistente da Justiça no memorando anexo, concluí que precisamos de liderança nova no FBI" - Jeff Sessions, o secretário da Justiça, em carta datada de 9 de maio.

A confirmação

"E na verdade, quando decidi fazê-lo, disse a mim mesmo que todo mundo sabe que essa coisa de Trump e a Rússia é uma história inventada" - Trump em entrevista à NBC, 9 de maio.

5) Que Michael Flynn tinha discutido sanções com o embaixador russo

A negação

"Eles não discutiram coisa alguma relacionada à decisão dos Estados Unidos de expulsar diplomatas ou impor censura à Rússia... O que posso confirmar, tendo conversado com ele sobre o assunto, é que as conversações parecem ter acontecido no momento em que os Estados Unidos decidiram expulsar os diplomatas, mas nada tiveram a ver com esse assunto" - Pence, 15 de janeiro.

A confirmação

Perguntado se Flynn havia discuti sanções relacionadas à suposta interferência russa na eleição de 2016: "Certo" - Spicer, 14 de fevereiro.

"Para sermos claros, o secretário da Justiça interino informou a assessoria jurídica da Casa Branca que pode ter havido conflito com o que ele disse ao vice-presidente, em particular... A questão era de confiança, pura e simplesmente, e o presidente decidiu que não tinha mais confiança em seu assessor de segurança nacional" - Spicer, 14 de fevereiro.

"O que eu diria é que o vice-presidente descobriu tarde da noite em 9 de fevereiro, com base em reportagens da mídia, que tinha recebido informações incompletas" - Mark Lotter, assessor de imprensa de Pence.

6. Que era provável que o nome do indicado por Trump para comandar o departamento da marinha, Philip Bilden, fosse retirado

A negação

Depois que Major Garrett, da CBS, reportou que era provável que o nome do indicado para o departamento da Marinha, Philip Bilden, fosse retirado, Spicer usou o Twitter em 18 de fevereiro para afirmar que "essas pessoas estariam erradas. Acabo de falar com ele e ele está 100% dedicado a ser o próximo SECNAV, se o Senado confirmar. https://t.co/AfRZfQQCzG" - Sean Spicer (@PressSec), 18 de fevereiro.

A confirmação

"Philip Bilden me informou que tomou a difícil decisão de se retirar do processo de confirmação como secretário da marinha" - Secretário da Defesa Jim Mathis, 26 de fevereiro.

7. Que Trump revelou informações sigilosas a líderes russos no Gabinete Oval

A negação

"A história que surgiu esta noite é falsa, nos termos reportados" - H. R. McMaster, assessor de segurança nacional de Trump, 15 de maio.

A confirmação

"É totalmente apropriado que o presidente divulgue qualquer informação que considere necessária para promover a segurança do povo norte-americano. Foi o que ele fez" - McMaster, 16 de maio.

"Como presidente eu quis compartilhar com a Rússia, em uma reunião agendada na Casa Branca, e tenho pleno direito de fazê-lo, fatos referentes..." - Donald Trump, 16 de maio de 2017

8. Que agentes dos serviços de inteligência haviam informado Trump sobre um dossiê não confirmado que sugeria que a Rússia tinha informações comprometedoras sobre ele

A negação

"E [a reportagem] diz que eles jamais o informaram sobre isso, que eles anexaram duas páginas no final de seu relatório de inteligência. [Trump] declarou não estar ciente disso" - Kellyanne Conway no programa de Seth Meyers, 10 de janeiro. (A reportagem afirmava que o Trump havia, de fato, sido informado.)

A confirmação

"Acho que [Comey] divulgou o fato para que... porque havia três outras pessoa na sala e elas saíram, e ele me mostrou... Assim, em minha opinião, ele mostrou o relatório para eu saber que essas informações estavam em seu poder". Perguntado se isso havia sido usado para ganhar influência sobre ele, Trump respondeu: "Sim, acho que sim" - Trump ao "New York Times" em 19 de julho.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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