Folha de S. Paulo


Líderes emblemáticos da oposição na Venezuela voltam para a cadeia

Boris Vergara - 9.jul.2017/Xinhua
O opositor venezuelano Leopoldo López acena para seus seguidores em sua casa em Caracas
O opositor Leopoldo López acena para apoiadores em sua casa em Caracas no último dia 9

O serviço de inteligência da Venezuela levou de volta à cadeia na madrugada desta terça-feira (1º) Leopoldo López e Antonio Ledezma, dirigentes da oposição ao presidente Nicolás Maduro e que cumpriam prisão domiciliar.

O retorno dos dois à reclusão é a primeira medida do chavismo contra seus adversários desde a eleição da Assembleia Constituinte. Antes da votação, no domingo (30), Maduro ameaçou usar a Casa para punir os rivais pelos protestos contra o governo.

Em sentença divulgada horas depois da captura, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), dominado pelos governistas, afirmou, citando "fontes de inteligência", que havia um plano para levar López e Ledezma para o exterior. Os juízes, porém, não apresentaram provas.

Os advogados dos opositores negaram as alegações. Na decisão, o TSJ também considerou que os políticos violaram a determinação de que deveriam "abster-se de fazer proselitismo político".

Ambos, de fato, romperam a regra. Além de votarem no plebiscito não oficial da oposição que rejeitou a Constituinte, em 16 de julho, os dois fizeram vídeos e mensagens de apoio aos protestos e contra o governo chavista.

Em gravação na semana passada, López pediu às Forças Armadas que "não sejam cúmplices do aniquilamento do Estado". Ele também usou uma rede social pediu a seus seguidores que se mantivessem nas ruas "até conseguir o retorno da democracia".

O opositor ainda telefonou para autoridades internacionais para pedir que condenassem a Constituinte —dentre eles, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, e o presidente Michel Temer.

Ledezma pediu resistência ao que chamou de "regime autoritário", na primeira declaração antigoverno desde que entrou em prisão domiciliar, em maio de 2015.

Ex-prefeito metropolitano de Caracas, Ledezma, 62, foi preso em fevereiro de 2015 e acusado por conspiração e associação criminosa por um suposto complô para derrubar Maduro —ele nunca foi condenado oficialmente.

Já López, 46, foi condenado a 13 anos e nove meses de prisão por incitação à violência na onda de protestos antigoverno em 2014. Detido desde fevereiro daquele ano, ele foi posto em prisão domiciliar em 8 de julho último.

Os dois foram levados para a prisão militar de Ramo Verde —mesmo lugar onde López estava recluso até o início de julho. Antes de ser capturado, López disse que era preso "de consciência, por minhas ideias, por querer uma Venezuela melhor". Também anunciou que sua mulher, Lilian Tintori, está grávida.

A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) disse que a volta de seus dirigentes à cadeia "é uma clara demonstração da ditadura que vem se impondo com a violência e a violação dos direitos humanos".

"Nem Ledezma nem López cometeram crime algum. Seu único crime é pensar diferente ao regime, lutar pela democracia e a liberdade, mas, acima de tudo, contar com o apoio da imensa maioria dos venezuelanos", diz a nota.

A medida foi repudiada internacionalmente. Em nota, a Casa Branca exigiu a libertação de todos os opositores presos, que chama de presos políticos, e colocou Maduro como "pessoalmente responsável pela saúde e pela segurança" de López e Ledezma.

Países como Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai também rejeitaram a medida. Para o governo brasileiro, trata-se de "uma nova demonstração da falta de respeito às liberdades individuais e ao devido processo legal".

FORÇAS ARMADAS

Nesta terça, o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, reiterou seu apoio a Maduro após o chavista ser punido com sanções econômicas dos EUA.

Em nota, criticou que o líder seja chamado de ditador pelos americanos, disse que ele está fazendo "um esforço superlativo para preservar a paz " e considerou que as sanções "violam os princípios do direito internacional".

"Ao tentar injustamente manchar as credenciais democráticas [de Maduro] com argumentos facciosos e ilegais, ofendem também a majestade e a boa reputação de seus concidadãos."


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