Folha de S. Paulo


Análise

Expulsar diplomatas era a resposta possível de Putin aos EUA

Longe de ser uma resposta à altura do estrago potencial aos interesses do setor energético russo na Europa, a retaliação de Moscou contra as novas sanções americanas inaugura um novo capítulo na disputa política entre o governo de Vladimir Putin e o Ocidente.

Do ponto de vista econômico, havia pouco ou nada que a Rússia pudesse fazer.

Mladen Antonov/AFP
Bandeira russa é hasteada ao lado da embaixada dos EUA em Moscou; 755 diplomatas são expulsos
Bandeira russa é hasteada ao lado da embaixada dos EUA em Moscou; 755 diplomatas são expulsos

O trabalho aqui ficará para a União Europeia, incomodada por ver empresas de seus países sob ameaça de sanções por terem negócios com gigantes russos de gás e petróleo, que são vitais para a segurança energética do continente.

A limitação ao número de pessoal a serviço do Departamento de Estado na Rússia se insere em outra disputa.

Desde o fim da Guerra Fria, os EUA incentivaram com financiamento e apoio ONGs e entidades na Rússia e em países da antiga esfera de influência soviética.

Embora neguem, os americanos estiveram ativamente envolvidos nas "revoluções coloridas" que derrubaram regimes pró-Moscou nos anos 2000 em países como a Geórgia e a Ucrânia —neste último, houve uma contrarrevolução, cuja deposição em 2014 levou à guerra civil que segue congelada no país.

Na Rússia, leis progressivamente mais duras limitaram o trabalho das ONGs estrangeiras. Para a oposição a Putin, isso foi apenas autoritarismo, até porque nunca houve influência real delas na política russa, e em média elas tratavam de temas espinhosos para o Kremlin, como direitos humanos ou liberdade de expressão.

Um analista russo que trabalha para uma das entidades remanescentes contou recentemente à Folha que recebe visitas periódicas de oficiais de forças de segurança.

Com a redução de pessoal americano a menos da metade da força de trabalho atual, empatando com o número a serviço do Kremlin nos EUA, Putin deu a resposta possível às sanções.

De quebra, obrigará uma reorganização que efetivamente limitará as capacidades operacionais americanas no seu país, já que não será possível dispensar apenas os trabalhadores russos na Embaixada e consulados —exceto que diplomatas comecem a dirigir seus carros e trabalhem como recepcionistas.

O objetivo, além da esgrima política, é reduzir a atividade de espiões, que tradicionalmente operam sob o manto da diplomacia no mundo todo.


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