Folha de S. Paulo


Mortes por armas de fogo nos EUA crescem 37% no governo Trump

As mortes causadas por armas de fogo nos EUA cresceram 12% em um ano. Os ferimentos por armas também subiram 8%. O número de crianças com menos de 12 anos que levaram tiros aumentou 16%, enquanto os casos de uso defensivo de armas aumentaram quase 30%.

Citando "o crime e os bandos e as drogas que roubaram tantas vidas e roubaram de nosso país tanto potencial não realizado", o presidente Donald Trump prometeu em seu discurso de posse que "essa carnificina americana para aqui e para agora".

Scott Olson - 3.jul.2017/Getty Images/AFP
Policiais inspecionam corpo de homem baleado e morto em Chicago; mortes por armas crescem 37%
Policiais inspecionam corpo de homem baleado e morto em Chicago; mortes por armas crescem 37%

Mas os números acima, do Gun Violence Archive [Arquivo sobre Violência com Armas], uma organização sem fins lucrativos que acompanha os casos de tiros em reportagens na mídia e registros policiais, mostram que nos primeiros 200 dias de 2017 a carnificina só piorou.

Nos primeiros 200 dias de 2014, por exemplo, a equipe de pesquisadores do Arquivo verificou 6.206 mortes por armas de fogo, sem contar os suicídios. Três anos depois, o número saltou bem mais de um terço, para 8.539 baixas.

Desde 2014, os ferimentos totais por armas de fogo subiram 50%. Os tiros em crianças aumentaram quase 30%. Os relatos de uso defensivo de armas também duplicaram.

Pondo de lado a retórica de Trump, há pouco que um presidente possa fazer em seus primeiros seis meses no cargo para influenciar as tendências de crimes violentos em qualquer direção.

O Arquivo também não faz especulações sobre o que está conduzindo esses números. "Nós fornecemos muito pouca análise, e isso é intencional", disse recentemente o fundador do grupo, Mark Bryant, ao jornal "Lexington Herald-Leader". "Queremos que as pessoas tirem suas próprias conclusões."

Outras pesquisas descobriram que o aumento nacional de homicídios nos últimos anos esconde uma considerável variação regional. Em muitas cidades grandes, como Baltimore, Chicago e Cleveland, os homicídios estão aumentando acentuadamente. Em outras, como Nova York, eles estão de fato caindo.

Os números do Arquivo sugerem que em 2017 os homicídios por armas de fogo estão aumentando mais depressa em algumas cidades do que estão caindo em outras. Uma pequena parte desse aumento pode ser atribuída a mais atenção da mídia e melhores técnicas de medição.

Mas nos últimos anos os números de fatalidades do Gun Violence Archive acompanharam de perto os dados mais lentos e deliberados de fontes oficiais como o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) e o FBI (Agência Federal de Investigação).

O secretário da Justiça, Jeff Sessions, fez da redução dos crimes violentos uma prioridade do Departamento de Justiça. Ele criou uma força-tarefa especial para o assunto, encarregada de apresentar recomendações ao gabinete do secretário nesta semana.

Sessions deu vários passos concretos até agora com o fim de reduzir os homicídios e os crimes violentos, que incluem aumentar o uso de sentenças mínimas obrigatórias de prisão, reforçar o uso de apreensão de bens para tirar propriedades de suspeitos antes que eles sejam condenados ou acusados de crimes e ameaçar reter verbas federais das chamadas "cidades-santuário".

Nenhuma dessas intervenções deverá ter um impacto significativo sobre a violência armada. Pesquisas mostraram que as sentenças mínimas obrigatórias têm um pequeno efeito dissuasivo sobre o crime violento.

Sobre apreensão de bens, um estudo recente revelou que expandir essa prática reduzia um pouco os crimes contra propriedades, mas não tinha efeito sobre os crimes violentos. Reprimir as "cidades-santuário" pode até se tornar contraproducente, pois pesquisas mostram que elas tendem a ser menos violentas que as cidades que não adotaram essas políticas.

Pesquisas mostram repetidamente, porém, que um dos principais fatores de risco para o crime armado é a disponibilidade de armas de fogo: mais armas, mais crimes.

No governo Obama, os temores constantes de repressão à propriedade de armas (que nunca se materializou) ajudaram a produzir números recordes de vendas de armas, colocando mais milhões de armas de fogo em circulação.

Sob Trump, porém, os temores de apreensões de armas diminuíram, puxando para baixo as vendas. Se essa tendência continuar, poderá provar que tem um efeito mais concreto sobre a violência armada que qualquer política que o governo adote.

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES


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