Folha de S. Paulo


Após plebiscito informal da oposição contra o governo Maduro, o que muda na crise política na Venezuela?

Mais de sete milhões de pessoas aderiram neste domingo à consulta popular organizada pela oposição na Venezuela num sinal de contínuo desgaste do governo de Nicolás Maduro.

O plebiscito informal consultou a população, entre outras questões, sobre a iniciativa de Maduro de convocar uma Assembleia Constituinte para reformar a Constituição venezuelana.

Ao todo, 98% rejeitaram a proposta do governo e apoiaram a antecipação de eleições diretas para presidente, que oficialmente está prevista para 2019. Apenas pouco mais de um terço dos eleitores registrados votaram na consulta.

A Venezuela enfrenta uma grave crise econômica, que se intensificou com a queda do preço do petróleo, responsável por 95% das receitas de exportação do país e usado para financiar os programas sociais do governo.

Corte de gastos e desabastecimento de alimentos e remédios têm levado Maduro a perder apoio, embora o país esteja polarizado entre oposição e seus partidários.

Segundo os organizadores do plebiscito, 6.492.381 pessoas votaram no país e outras 693.789 em centros de votação no exterior. Entretanto, a votação não tem peso legal.

Quase 15 milhões de pessoas votaram na Venezuela nas últimas eleições presidenciais, sendo que mais da metade apoiou Maduro.

AS TRÊS PERGUNTAS DA CONSULTA POPULAR

  • Se rejeita e ignora a realização de uma Constituinte proposta sem a aprovação prévia do povo da Venezuela.
  • Se quer que a Força Nacional Boliavariana odedeça e defenda a Constituição de 1999 e respalde as decisões da Assembleia Nacional.
  • Se aprova a renovação dos poderes públicos, como a realização de eleições libres e a formação de um governo de união nacional.

Após a meta alcançada, a oposição garante que a pressão contra o governo entra agora numa nova etapa. "Com esta contundente manifestação pacífica, constitucional e democrática, o que Maduro deveria fazer é cancelar a Constituinte nas próximas horas", afirmou o líder da oposição, Henrique Capriles, no domingo.

Enquanto isso, as declarações do governo mostram que ele não reconhece a demonstração popular. O deputado governista Héctor Rodríguez classificou de "fracasso" o plebiscito. O ministro da Informação, Ernesto Villegas, a chamou de "pesquisa de opinião"; e o presidente Maduro, de "consulta interna".

Como as tentativas de negociações parecem pouco realistas, a oposição planeja ativar a chamada "hora zero", ou seja, a fase decisiva de protestos contra o governo Maduro. Ainda não está claro o que isso representa na prática e mais detalhes devem ser divulgados em anúncios nesta segunda-feira.

Nos últimos três meses, no entanto, quase cem pessoas morreram em protestos, que podem se tornar mais violentos a partir de agora.

A vítima mais recente morreu neste domingo: uma mulher foi atingida num local de votação supostamente por disparos de motociclistas que a oposição qualifica como "paramilitares do governo", embora a polícia não tenha confirmado a informação.

"É de se esperar uma escalada de conflito político no nível mais alto dos últimos 18 anos: a hora zero", afirmou na televisão na noite deste domingo Edgard Gutiérrez, pesquisador e consultor político próximo à oposição.

"A hora zero não é fácil e poderia provocar a radicalização do lado oficial. Serão dias difíceis", acrescentou Gutiérrez, sem dar mais detalhes.

"A hora zero é a rua defendendo um mandato popular, defendendo a vontade soberana, que é do povo", disse o deputado Olivares, sem precisar qual é a diferença dos atuais protestos que ocorrem desde o final de março, depois que duas sentenças do Tribunal Supremo de Justiça retiraram os poderes da Assembleia Nacional, o parlamento, de maioria da oposição.

Desde as últimas eleições presidenciais não há na Venezuela um processo eleitoral: o Comitê Nacional Eleitoral (CNE) suspendeu o referendo para revogar o mandato de Maduro no ano passado. As eleições regionais, que deveriam ter sido realizadas em dezembro de 2016, foram suspensas até o próximo mês de dezembro.

MAIS PRESSÃO

"Parte do que vem agora é aumentar a pressão nas ruas, além da institucional e internacional", afirmou Miguel Pizarro, um dos jovens líderes da oposição que vem ganhando popularidade.

A oposição enxerga na reforma da Constituinte uma estratégia de Maduro para aumentar seu poder, uma vez que ela poderia dissolver a atual composição da Assembleia Nacional, de maioria opositora, para colocar partidários do governo.

A votação para a Assembleia Constituinte está marcada para 30 de julho


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