Folha de S. Paulo


Google gastou milhões de dólares para influenciar políticas públicas, diz ONG

Nos últimos anos, o Google gastou milhões de dólares financiado pesquisas acadêmicas nos EUA e na Europa para tentar influenciar governos e a opinião pública, segundo um relatório publicado nesta semana.

A ONG Campaign for Accountability (CfA), autora do estudo, identificou 329 artigos publicados de 2005 a 2017 sobre assuntos de interesse do Google ligados à área de políticas públicas que em alguma medida foram financiados pela empresa.

Em mais da metade dos casos (54%), os pesquisadores receberam dinheiro diretamente do Google. Os demais trabalharam, ou estavam afiliados, a grupos ou instituições financiados pelo Google. Na maioria dos casos (66%), os autores dos artigos, que receberam de US$ 5 mil a US$ 400 mil da empresa, não revelaram o financiamento corporativo. Mesmo quando os trabalhos foram financiados diretamente pelo Google, os acadêmicos omitiram esse informação em mais um quarto (26%) dos casos.

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O CEO do Google, Eric Schmidt, em evento da empresa
O CEO do Google, Eric Schmidt, em evento da empresa

Os artigos acadêmicos examinados tratam de um conjunto amplo de questões políticas e legais de importância crucial para o Google, como antitruste, privacidade, neutralidade da rede, neutralidade de pesquisa, patentes e direitos autorais.

"O Google usa sua imensa riqueza e poder para tentar influenciar os formuladores de políticas públicas em todos os níveis. No mínimo, os reguladores deveriam estar conscientes de que os estudos favoráveis ao Google foram pagos pela companhia", disse o diretor-executivo da CfA, Daniel Stevens.

Entre os exemplos da atuação da gigante da internet, o relatório revela que o número de artigos financiados pelo Google aumentou durante os períodos em que seu modelo de negócios estava sob ameaça de medidas regulatórias e quando surgiram oportunidades para impulsionar novos leis contra seus concorrentes.

Segundo o documento, os estudos financiados pelo Google foram publicados por uma grande variedade de institutos e universidades, e muitas vezes obscurecem a linha entre pesquisa acadêmica e advocacia paga.

Os artigos foram assinados por pesquisadores de algumas das mais importantes universidades americanas, como Stanford, Harvard, MIT, Berkeley, Rutgers e Columbia, e europeias, como a Universidade de Oxford, no Reino Unido, e Universidade de Leuven, na Bélgica.

Em sua resposta, o Google afirmou que o relatório é "altamente enganador", pois incluiu qualquer trabalho apoiado por qualquer organização que já tenha recebido financiamento.

"Nosso apoio aos princípios subjacentes a uma internet aberta é compartilhado por muitos acadêmicos e instituições que têm uma longa história de pesquisa sobre esses temas –em áreas importantes como direitos autorais, patentes e livre expressão", disse a diretora de políticas públicas da companhia, Leslie Miller. "Nós fornecemos apoio para ajudá-los a realizar mais pesquisas e aumentar a consciência sobre esses temas ".

Miller afirmou que a empresa espera que os pesquisadores divulguem seu financiamento e mantenham sua independência. Alguns dos artigos listados no relatório contém críticas às políticas do Google em tópicos como privacidade e neutralidade da rede.


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