Folha de S. Paulo


Governo Trump é um dos mais lentos da história na nomeação de pessoal

O processo de preencher postos vagos no governo Trump e no Judiciário dos Estados Unidos vem avançando lentamente tanto no Executivo quanto no Legislativo, com apenas um em cada cinco dos indicados pelo presidente Trump para postos civis recebendo confirmação no Senado, e comitês do Senado ainda aguardando documentação sobre mais de duas dúzias de indicados.

Novos números do Serviço de Pesquisa do Congresso, uma organização apartidária, apontam para uma desaceleração acentuada no ritmo de indicação e confirmação de pessoal, ante governos anteriores. Trump submeteu 242 indicações civis ao Senado, até 30 de junho, número inferior ao de seus quatro predecessores. E no mesmo período, apenas 50 delas foram confirmadas, proporção inferior à registrada em administrações anteriores.

A pesquisa sugere que o número significativo de posições vagas no governo Trump –e as preocupações administrativas que isso causa– devem persistir a menos que a Casa Branca e o Senado acelerem bastante seu ritmo. E embora os democratas do Senado venham trabalhando para retardar o processo, parece que parte do problema é causada pelo lentidão do governo Trump em providenciar a documentação necessária.
Republicanos e democratas acusam uns aos outros pela demora.

Os dados "parecem demonstrar um padrão de obstrução pelos democratas que só se intensificou este ano", disse Don Stewart, porta-voz do líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, senador pelo Kentucky. "Os primeiros indicados do governo Trump enfrentaram obstruções sem precedentes".

O líder da minoria democrata no Senado, Charles Schumer, de Nova York, que ressaltou a incapacidade de Trump para implementar projetos de lei importantes, até o momento, disse que os republicanos realizaram pouco porque abordaram o processo "de maneira completamente partidária". O senador afirmou em comunicado que "se eles trabalharem com os democratas, podem conseguir realizar alguma coisa".

Um porta-voz de Schumer, Matt House, apontou para dados recolhidos pelo gabinete do senador que demonstram que o governo não submeteu documentação completa para pelo menos 25 indicados –outra possível causa de atraso.

A Casa Branca não respondeu a pedidos de comentário.

O Senado está se preparando para dedicar boa parte da semana que vem às indicações.

Há 33 indicações à espera de votação pelo plenário do Senado, entre as quais a de Patrick Shanahan como secretário assistente da Defesa; William Hagerty como novo embaixador dos Estados Unidos ao Japão; e diversos nomes para ocupar postos vagos no Pentágono e nos departamentos de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Tesouro, Transportes, e Saúde e Serviços Humanos.

Na segunda-feira, o Senado deve confirmar Naomi Rao, professora de direito na Universidade George Mason, como diretora de questões regulatórias na Casa Branca. E na quarta, o Comitê Judiciário do Senado vai realizar uma audiência de confirmação com Christopher Wray, apontado para a direção do Serviço Federal de Investigações (FBI). A expectativa é de que os republicanos pressionem pela confirmação de Wray antes do início das cinco semanas de recesso de verão, em agosto.

Também na semana que vem, os senadores devem votar a confirmação de David Nye como juiz federal de recursos em Idaho.

Desde a posse de Trump, os democratas vêm ocasionalmente tentando retardar o trabalho dos comitês do Legislativo em protesto contra a agenda do presidente ou, antes da indicação de Robert Mueller como procurador especial, pela falta de uma investigação independente sobre a interferência russa na eleição presidencial de 2016.

No final de janeiro, os democratas boicotaram uma audiência no Comitê de Finanças do Senado sobre a indicação de Steven Mnuchin e a do deputado federal Tom Price, republicano da Geórgia, para comandar, respectivamente, os departamentos do Tesouro e Saúde e Serviços Humanos. Ao negar aos republicanos quórum no comitê, os democratas os forçaram a adiar a votação. Eles também conseguiram bloquear a votação em comitê sobre a indicação do senador Jeff Sessions, republicano do Alabama, como secretário da Justiça.

Até esta semana, diversos comitês continuavam esperando documentação adicional para o prosseguimento dos processos de confirmação de diversos nomeados. Entre os nomeados com documentação incompleta, de acordo com House, estão Jessica Rosenworcel, apontada como comissária da Comissão Federal de Comunicações (FCC); George Nesterczuk, apontado como diretor do Serviço de Administração de Pessoal; e Thomas Bowman, apontado como secretário assistente de Questões de Veteranos de Guerra.

Adicionalmente, alguns comitês foram notificados sobre a intenção do governo de nomear alguém mas não receberam a nomeação em si, disse House.

Os quatro governos norte-americanos precedentes têm histórico melhor quanto a confirmar indicações até 30 de junho, de acordo com o Serviço de Pesquisa do Congresso. Ante as 50 indicações aprovadas no governo Trump, o presidente Barack Obama obteve 186 confirmações, o presidente George W. Bush obteve 133 confirmações, o presidente Bill Clinton obteve 198 confirmações, e o presidente George Bush (pai) obteve 148 confirmações.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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