Folha de S. Paulo


Brasil teme que protecionismo dos EUA atinja a exportação do aço

Antônio Gaudério/Folhapress
Indústria da CSN onde é feita a transformação de ferro líquido em aço líquido, em Volta Redonda (RJ)
Indústria siderúrgica CSN , em Volta Redonda (RJ)

Com a perspectiva de que os Estados Unidos adotem em breve medidas protecionistas no setor do aço, barrando as importações chinesas, o governo brasileiro se preocupa que o país possa ser a "vítima de uma bala perdida".

A expressão é de um funcionário da gestão de Michel Temer familiar às negociações. O embate entre EUA e China será um dos pontos sensíveis durante a cúpula do G20 na sexta-feira (7) em Hamburgo, na Alemanha.

Os líderes das principais economias do mundo estão reunidos até a tarde de sábado (8), quando devem emitir um comunicado conjunto resumindo o encontro. O embate comercial entre EUA e China é por enquanto um dos entraves na redação do texto.

O governo brasileiro teme que, se houver restrições gerais ao comércio de aço, essa indústria –uma das mais importantes para o país– seja afetada negativamente. O Brasil é o segundo maior exportador de aço aos EUA.

A administração do republicano Donald Trump tem se movido rumo a barreiras comerciais e ameaçado abandonar acordos de livre comércio, na contramão do defendido pelo G20 e pela OMC (Organização Mundial do Comércio). O Brasil se alinha com a frente europeia, que insiste no multilateralismo como solução às crises econômicas internacionais.

Algumas das posições americanas têm sido enquadradas como questões de segurança nacional. O aço, por exemplo, é estratégico ao país em caso de guerra.

Outros países têm recorrido a esse argumento, como a Arábia Saudita, que impôs bloqueios econômicos a seu rival Qatar no mês passado, acusando o governo de Doha de financiar o terrorismo.

Esse tipo de sanção não é inédito, diz à Folha o brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). Mas preocupa que as disputas possam chegar ao mecanismo de solução de controvérsias da entidade. "Não é saudável ao sistema", afirma.

"A OMC não vai tomar uma decisão técnica do que é do interesse nacional de um país, e não poderá solucionar o impasse", diz. "Desaconselho que essas disputas sejam trazidas a nós."

Azevêdo discursará nesta sexta-feira (7) aos líderes das principais economias do mundo na cúpula do G20.

Salvatore Di Nolfi/Keystone via AP
Brasileiro Roberto Azevêdo é reeleito diretor-geral da OMC
O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, durante entrevista

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