Folha de S. Paulo


Embargo é para proteger Qatar de atos impensados, diz embaixador saudita

A Arábia Saudita e outros países árabes impõem desde 5 de junho um embargo ao Qatar para preservar os qatarianos "das consequências de atos impensados".

Em entrevista à Folha por e-mail, o embaixador saudita no Brasil, Hisham Alqahtani, diz que seu país "faz questão de resguardar a segurança e integridade do Qatar".

Karim Jaafar - 5.jul.2017/AFP
Barcelona football club fans wait for the arrival of Barcelona players at the Qatar mall in Doha on July 5, 2017. / AFP PHOTO / KARIM JAAFAR
Clientes caminham por um mercado de Doha, capital do Qatar, no dia 5

Além de cortarem relações diplomáticas, os países fecharam as fronteiras terrestres e proibiram aviões qatarianos de sobrevoar seu espaço aéreo. Cidadãos do país foram expulsos de Arábia Saudita, Emirados Árabes e Bahrein, e os nacionais desses países não podem ir ao Qatar.

Os países justificaram o embargo dizendo que Doha apoia o terrorismo e fizeram uma lista de exigências para suspender o bloqueio –entre elas, o fechamento da Al Jazeera, vista como uma emissora que divulga conteúdo favorável a grupos terroristas.

O prazo prorrogado para cumprimento das exigências venceu na terça-feira (4), e a resposta do Qatar foi considerada insatisfatória.

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Folha — A Arábia Saudita, os Emirados Árabes, Bahrein e Egito vão ampliar as sanções econômicas contra o Qatar?
Hisham Alqahtani — Até o momento, não há novas punições econômicas. Os países estão estudando a resposta do Qatar [às exigências] e se manifestarão no tempo oportuno. O perigo real está no apoio do Qatar a atividades radicais e terroristas que visam a desestabilizar a Arábia Saudita, Bahrein ou outros. Isso é, infelizmente, o que as autoridades de Doha fazem. A decisão de cortar relações vem para acabar com esses excessos.

O governo do Qatar diz que não vai, sob nenhuma circunstância, fechar a Al Jazeera. Por que os srs. exigem o fechamento da rede?
Os canais e meios de imprensa dirigidos pelas autoridades de Doha, pública ou secretamente, não podem ser chamados de informação livre, e os sauditas conhecem perfeitamente o perigo do conteúdo que os apoiadores do terrorismo tentam promover.

Nosso país corta qualquer site em que seja provada sua promoção da violência sem considerar sua origem e pátria. Lamentavelmente, as autoridades de Doha são o patrocinador maior dessas estações e sites na região e na Europa. Cortar as plataformas radicais de informação não é uma política restrita à Arábia Saudita. A França, por exemplo, proibiu transmissão de canais de TV e sites como Al- Manar, que pertence ao Hizbullah [grupo radical libanês].

O embaixador do Qatar afirmou à Folha que os sauditas é que vêm patrocinando o terrorismo desde sempre.
Nosso país foi alvo de atentados e não o contrário, entre os quais ataques apoiados e financiados pelo Qatar, como a tentativa de assassinar o rei da Arábia Saudita em 2003, em colaboração com Muammar Gaddafi [ditador da Líbia, morto em 2011]. Nosso país comanda a atividade regional de combate ao terror. Perdemos mais de 240 pessoas e tivemos 1.055 feridos em mais de 50 atentados, enquanto o Qatar e o Irã não são alvos.

Os qatarianos afirmam que é ridículo dizer que eles patrocinam o Estado Islâmico, a Al Qaeda e o Hizbullah, grupos que estão em guerra entre si.
As autoridades do Qatar estão envolvidas em patrocínio aos grupos terroristas sectários, entre os quais o Estado Islâmico, Frente de Al-Nusra, os Livres do Bahrein, Hizbullah, a Irmandade Muçulmana, Legiões de Defesa de Benghazi e outras. Além disso, apoiam atividades de grupos terroristas apoiados pelo Irã na Arábia Saudita e as milícias houthis no Iêmen.

A Arábia Saudita e os outros países que participam do embargo haviam apresentado ao Qatar listas com os nomes de procurados envolvidos em atos terroristas, mas o Qatar, apesar de prometer parar suas atividades, recebeu mais indivíduos e lhes permitiu tramar contra seus próprios Estados, concedendo nacionalidade a alguns deles, entre os quais dirigentes e membros de grupos terroristas, proporcionando-lhes proteção e total apoio em seu território e fora dele.

Autoridades em Doha argumentam que, na realidade, a Arábia Saudita quer controlar a política externa independente conduzida pelo Qatar.
Nossas exigências a Doha não são imposição de tutela, e sim preservação da segurança dos Estados que participam do embargo. Vemos tentativas sérias de ameaçar a tranquilidade no Golfo e apoio evidente a grupos radicais. Fazemos questão de resguardar a segurança e integridade do Qatar, e essas atitudes visam a preservá-lo das consequências de atos impensados.

A maior base dos EUA na região fica no Qatar. O Departamento de Estado exortou a Arábia Saudita a apresentar exigências razoáveis, que possam ser cumpridas pelo Qatar.
O próprio presidente americano, Donald Trump, havia afirmado que o Qatar tem histórico de financiamento de terrorismo. Dizer que as exigências são impossíveis de se cumprir não condiz com a realidade. A reiteração dessa desculpa por parte do Qatar deixa claro que o país não quer atender às exigências.

Países que romperam relações com o Qatar

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