Folha de S. Paulo


Polícia da Alemanha prepara Hamburgo para protesto anti-G20

Fabian Bimmer/Reuters
Manifestantes protestam contra o G20 em frente à Prefeitura de Hamburgo, que recebe a cúpula do grupo em julho
Manifestantes protestam contra o G20 em frente à Prefeitura de Hamburgo, que receberá cúpula do grupo

Os líderes das principais economias do mundo se reúnem no final desta semana em Hamburgo, na Alemanha, para a cúpula do G20 sob a ameaça de uma tempestade de protestos.

As ruas desta cidade portuária estão repletas de cartazes repudiando o encontro dos governantes de 19 países e da União Europeia nos dias 7 e 8. Um deles resume a mensagem aos visitantes: "Bem-Vindos ao Inferno".

Um dos protestos cita o americano Donald Trump, o turco Recep Tayyip Erdogan e o russo Vladimir Putin, além do brasileiro Michel Temer, como "déspotas, mandatários e seus assistentes" pela organização BlockG20.

Cúpulas do G20 costumam atrair manifestantes anticapitalismo –incluindo os "black blocks", conhecidos por ações violentas e vandalismo. Mas o encontro em Hamburgo, segunda maior cidade da Alemanha, deverá ser especialmente tumultuado: nos anos recentes, o G20 vinha se reunindo em cidades menores ou mais afastadas, por vezes em países sem cultura de protesto.

O ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, afirmou nesta terça (4) que as autoridades preveem manifestações violentas com 8.000 pessoas na sexta e no sábado, além dos milhares que irão a passeatas pacíficas. A segurança do evento ficará a cargo de 20 mil policiais.

"São as pessoas mais poderosas do mundo, mas só querem falar sobre como fazer suas economias crescerem mais rápido", diz Jaime González, do Protestwelle ("onda de protestos"). "Não estão interessados no ambiente ou nos direitos humanos. E o resto do mundo não tem nenhuma chance de influenciar o debate."

FUNIL

Parte das manifestações é organizada no Rote Flora, um teatro ocupado por ativistas desde 1989, a centenas de metros do local da cúpula. O bairro, Sternschanze, é conhecido pela dissidência.

A reportagem não pôde fotografar o interior nem entrevistar seus membros. Um cartaz na porta era claro: "sem imprensa". Entre mesas e uma refeição comunal, ativistas acertavam os últimos detalhes dos protestos.
Panfletos distribuídos ali divulgavam o celular de um advogado e sugeriam, por exemplo, cancelar compromissos nos próximos dias, no caso de serem detidos.

Os manifestantes vão copiar as táticas da polícia, criando um funil e impedindo a passagem dos líderes rumo à cúpula. Como o encontro será realizado no centro da cidade, é fácil cortar os acessos, já em parte limitados pelos trilhos do trem.

Grupos rebeldes pretendem montar mesas de pingue-pongue e telas de cinema na rua, organizando também uma festa "rave".

A perspectiva deixa as forças de segurança atentas, segundo a mídia alemã, e já houve confrontos e uma detenção nos dias anteriores.

Em 2001, uma cúpula do mais restrito G8 em Gênova (Itália) terminou em embate entre a polícia e 200 mil manifestantes. Um ativista de 23 anos foi morto.

A cúpula do G20 deste ano se torna mais sensível a protestos também por causa da presença de líderes impopulares como o americano Trump e o turco Erdogan –os guarda-costas do segundo são conhecidos pela truculência contra manifestantes.

Em paralelo aos protestos tradicionais, um coletivo de artistas planeja uma intervenção simbólica na quarta, com a marcha de mil pessoas cobertas de argila, caladas como mortos-vivos.

"Nós nos perguntamos como fazer parte dos protestos, da resistência, de uma maneira artística", diz Rita Kohel, 39, no galpão em uma região industrial de Hamburgo onde o grupo confeccionava centenas de roupas cinzentas. "É a mesma mensagem dos outros grupos, mas não carregamos cartazes."

Em duas semanas, os artistas arrecadaram o equivalente a R$ 90 mil em contribuições para o protesto.

Uma de suas principais críticas é ao modo com que o evento é organizado, sem acesso nem participação da população –como, aliás, é comum em encontros de líderes globais.

Protestos g20

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