Folha de S. Paulo


Receitas do Estado Islâmico caem 80% em relação a 2015

Stringer/Reuters
Tropas paramilitares iraquianas disparam contra militantes do EI durante uma batalha no sul de Mossul
Tropas paramilitares iraquianas disparam contra militantes do EI durante uma batalha no sul de Mossul

O autoproclamado califado do Estado Islâmico não existe mais, segundo um porta-voz militar iraquiano, e um novo relatório sobre a grande redução das receitas do grupo sugere que ele pode estar certo.

"O Estado fictício deles caiu", disse na televisão estatal o brigadeiro-general Yahya Rasool.

O aparente colapso do grupo é confirmado por um estudo divulgado na quinta-feira (29) de manhã, segundo o qual três anos depois de o Estado Islâmico (EI) ter declarado um califado em partes do Iraque e da Síria ele perdeu 80% de suas receitas e aproximadamente dois terços de seu território. O relatório, preparado pelo grupo de informação e análises IHS Markit, sediado em Londres, descobriu que a renda mensal média do EI caiu drasticamente, de US$ 81 milhões no segundo trimestre de 2015 para US$ 16 milhões no mesmo período de 2017 –uma queda de 80%.

A receita está em declínio em todas as fontes de renda do grupo terrorista: taxação da populações sob seu controle, confisco de bens, contrabando e produção de petróleo e comércio ilegal de antiguidades. A IHS descobriu que a receita mensal do petróleo caiu 88% e a renda de impostos e confiscos diminuiu 79% em relação às estimativas iniciais, de 2015.

"As perdas territoriais são o principal fator que contribui para a perda de receitas do EI", disse Ludovico Carlino, analista sênior de Oriente Médio na IHS Markit. "A perda do controle da populosa cidade iraquiana de Mossul e de áreas ricas em petróleo nas províncias sírias de Raqqa e Homs teve um impacto especialmente significativo na capacidade do grupo de gerar renda."

Ao adquirir poder, o EI tornou-se um gigante financeiro. Segundo um estudo de 2014 da Thomson Reuters, o grupo terrorista tinha mais de US$ 2 trilhões em ativos sob seu controle, com um faturamento anual de US$ 2,9 bilhões. Outras estimativas variam, mas todas mostram que o grupo tinha bolsos profundos.

Grande parte desse dinheiro é levantado por meio de "impostos" que o grupo aplica aos habitantes de seu território. Isso incluía uma taxa de US$ 800 por caminhão que entrasse no Iraque vindo da Jordânia e da Síria, um imposto de 5% coletado para benefícios sociais e salários, um imposto rodoviário de US$ 200 para os motoristas do norte do Iraque, outro de 50% pela autorização para saquear os sítios arqueológicos de Raqqa e um de 20% em locais semelhantes em Aleppo, segundo o estudo da Thomson Reuters. Mohamed Ali Alhakim, embaixador do Iraque na ONU, disse que o EI ganha até US$ 100 milhões por ano com o comércio ilícito de objetos antigos.

Além disso, a coleta de lixo, o óleo para aquecimento e os geradores de eletricidade eram taxados. Esses pagamentos geravam até US$ 30 milhões por mês, segundo a Thomson Reuters. Um relatório de 2015 de "The New York Times", baseado em dados da Rand Corp., situou mais alto a renda anual de extorsão e impostos em 2014: US$ 600 milhões.

A perda de receitas e de território combinada significa que "é evidente que o projeto de governança do grupo fracassou", disse Columb Strack, analista sênior para o Oriente Médio na IHS Markit.

Mas o EI ainda é poderoso, advertiu a IHS. A firma disse que a perda de território na Síria e no Iraque aumenta a probabilidade de que o grupo tente atacar no exterior, como já fez em toda a Europa, disse o relatório. Ele também determinou que ataques ao grupo no Ocidente poderão levar a mais violência fora da Síria e do Iraque.

"Os riscos de terrorismo de grupos islâmicos provavelmente aumentarão antes de diminuírem", disse Firas Modad, analista sênior para o Oriente Médio na IHS Markit.


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