Folha de S. Paulo


Rússia condena cinco acusados de matar rival de Putin em 2015

Pavel Golovkin - 28.fev.2015/Associated Press
Russian police investigate the the body of Boris Nemtsov, a former Russian deputy prime minister and opposition leader at Red Square with St. Basil Cathidral in the background in Moscow, Russia, Saturday, Feb. 28, 2015. Russia's Interior Ministry says Boris Nemtsov, a leading opposition figure and former deputy prime minister, has been shot and killed near the Kremlin. Nemtsov, a sharp critic of President Vladimir Putin, was killed early Saturday. His death comes just a day before a major opposition rally in Moscow. (AP Photo/Pavel Golovkin) ORG XMIT: XAZ116
Policiais examinam o corpo do líder oposicionista Boris Nemtsov, morto em Moscou em 2015

A Justiça Militar da Rússia condenou nesta quinta (29) cinco tchetchenos acusados de conspirar e executar o assassinato de Boris Nemtsov, político que fazia oposição ao presidente Vladimir Putin, em fevereiro de 2015. Quem ordenou o crime, contudo, continua sendo um mistério.

Segundo a agência de notícias estatal Tass, eles terão suas sentenças definidas na semana que vem. A seu pedido, foram julgados por um júri, e não só por um juiz, como é a praxe na Rússia. As penas vão de oito anos de cadeia à prisão perpétua.

A filha de Nemtsov, Janna, escreveu no Facebook que o "caso continua sem solução", vocalizando a crítica de ativistas segundo a qual o julgamento foi uma farsa. Apenas um dos acusados chegou a confessar o crime no começo da investigação, mas depois voltou atrás. Um sexto membro do grupo se matou durante cerco policial e um sétimo foi julgado mesmo ausente.

Nemtsov havia sido vice-primeiro-ministro no governo de Boris Ieltsin (1991-2000), e cotado como um candidato para assumir o Kremlin. De formação econômica liberal, ele era um dos principais críticos de Putin oriundos do establishment político.

Em 27 de fevereiro de 2015, Nemtsov andava à noite com sua namorada na ponte Bolshoi Moskvorestki, que liga uma ilha à Praça Vermelha. Foi baleado pelas costas, e no local do crime hoje há uma espécie de santuário em sua homenagem.

"A Prefeitura de Moscou se recusou a instalar uma placa em homenagem a ele, então ficaremos aqui para sempre", diz Lyuba, uma ativista de direitos humanos que estava no local na terça(27), antes do veredicto.

Igor Gielow/Folhapress
Memorial improvisado no ponto em que o opositor Boris Nemtsov foi morto, ao lado do Kremlin
Memorial improvisado no ponto em que o opositor Boris Nemtsov foi morto, ao lado do Kremlin

Ela conta que cerca de dez pessoas se revezam para manter fotos de Nemtsov, buquês de flores, velas e uma placa contando o número de dias desde o assassinato –851 quando a Folha lá esteve.

Já houve ataques, noturnos em sua maioria, ao memorial improvisado. "Uma vez chutaram todas as flores e nos chamaram de traidores da pátria", disse a estudante, que passa seis horas no local alguns dias por semana. À noite, as flores e velas são recolhidas para evitar vandalismo.

Durante o dia, turistas que passam no local, que fica junto à muralha do Kremlin, passam geralmente sem entender exatamente do que se trata a homenagem.

"É algo sobre a guerra?", perguntou o espanhol José Ruiz, que passeava com a mulher e a filha pequena. Como Moscou tem dezenas, se não centenas, de pontos de celebração a seus mortos na Segunda Guerra Mundial, não se tratava de uma pergunta despropositada.

Nemtsov é o mais vistoso, politicamente, opositor de Putin que foi assassinado. A jornalista Anna Politkovskaia, crítica do Kremlin, foi morta a tiros em 2006 –no seu caso, cinco tchetchenos também foram para a cadeia acusados do crime. O ex-espião Alexander Litvnienko foi envenenado com material radioativo no exílio, em Londres, em 2006, e a polícia britânica acusou diretamente o Kremlin pela morte. O ex-deputado Denis Voronenkov, baleado ao sair de um hotel em Kiev neste ano, e a investigação ainda está em curso.

O Kremlin nega qualquer envolvimento nos assassinatos.


Endereço da página:

Links no texto: