Folha de S. Paulo


Marcela Temer visitou escola no Japão, mas problemas persistem

Quando acompanhou o marido, o presidente Michel Temer, na visita oficial ao Japão, no final de 2016, Marcela fez apenas uma visita "semioficial".

Pegou o trem-bala para conhecer o Instituto Educacional TS Recreação, em Kamisato-machi, Saitama, a cerca de 40 minutos de Tóquio.

A primeira-dama viu ali a face positiva da educação dos filhos de imigrantes brasileiros: conveniada pelo governo japonês e pelo MEC, a TS dá aulas em português, japonês e inglês do berçário até o ensino médio a cerca de 100 alunos.

A visita de Marcela procurou responder a críticas de parte da comunidade brasileira de que o governo não se preocupa com o futuro de seus cidadãos que moram no Japão.

A embaixada do país em Tóquio e entidades não governamentais têm alertado para o alto número de crianças sem escolarização (que acabam analfabetas nos dois idiomas) ou diagnosticadas como autistas (o que as retira do ensino regulamentar).

A TS é um ponto fora da curva porque, como é conveniada, os pais de alunos recebem subsídios do governo. É como se estivessem matriculando seus filhos numa escola pública, diz a diretora, Carmem Yasue.

As mensalidades de escolas particulares, que podem chegar a 50 mil ienes (o equivalente a R$ 1.500), são caras para a maioria dos imigrantes brasileiros, que trabalham nas indústrias japonesas.

O convênio também dá à escola recursos para contratar nutricionistas que cuidam do almoço —um requisito legal— e professores japoneses com salários competitivos e contornar a evasão de imigrantes que ocorreu desde a crise global de 2008.

Com a perda de clientela, muitas instituições de educação precisaram encolher ou mesmo fechar.

SEM MEDO DA ESCOLA
Filhos de decasséguis que voltaram ao Brasil em atividade do projeto Kaeru

A própria TS chegou a ter o dobro do numero de alunos na época de pico.

Outro problema é que, por falta de recursos, muitas instituições não conseguem atrair professores proficientes em japonês ou especialistas, o que reduz as chances dos alunos entrarem na universidade no Japão.

O presidente da Associação de Escolas Brasileiras no Japão, Toshio Saito —também dono da TS—, diz que as escolas são uma necessidade porque é difícil para brasileiros que chegam ao Japão com seis ou sete anos acompanharem a escola japonesa.

"Os alunos são colocados nas turmas de acordo com a idade, não com o nível de conhecimento. Como eles não falam japonês, não conseguem acompanhar a alfabetização", diz Saito.

Outros aspectos particulares da escola japonesa levam ao fracasso dos estudantes japoneses. Um dos principais é o de que são os pais (quase sempre a mãe) que corrigem as lições de casa, e não os professores.

A escola também manda avisos diários sobre deveres para os pais, em japonês. Em ambos os casos, a família é impotente para ajudar a criança, já que também não sabe o idioma local.

Saito diz que a prioridade do setor no momento é melhorar a formação dos professores.

MUDAR O MODELO

Para o pesquisador Maurício Burgari, no entanto, a melhor opção tanto para a as escolas quanto para os alunos seria mudar o modelo de ensino.

O professor da UnB desenvolveu, de 2015 a 2017, uma pesquisa sobre os custos, riscos e benefícios envolvidos na escolha de quatro sistemas de educação para os filhos de imigrantes: o japonês, o brasileiro, os bilíngues e o complementar —"after schools", em que o aluno tem um reforço para conseguir seguir no ensino japonês.

A conclusão foi que as "after schools" seriam mais baratas para as famílias brasileiras e permitiriam que seus filhos conseguissem, no futuro, entrar me boas universidades japonesas, o que é fundamental para seguir uma carreira no país.

Ao mesmo tempo, não perderiam os laços com o idioma e a cultura de seus pais, como acontece com as crianças que fazem apenas a escola japonesa.

DIVERSIDADE OLÍMPICA

Carmem Yasue diz que a integração da comunidade estrangeira com os moradores da região de Saitama, onde fica a escola, melhorou bastante. A TS faz eventos como festas juninas, em que procura apresentar a cultura brasileira para os japoneses.

A propaganda pró-diversidade promovida pelo governo por causa da Olimpíada de Tóquio, em 2020, também ajuda, diz ela.

Além de brasileiros, a TS tem alunos indianos, filipinos, tailandeses e de Bangladesh.

Uma vez por semana, tocam o hino japonês, que é obrigatório por lei. A partir do primeiro ano, os alunos aprendem a cantar também o brasileiro.

No almoço, feito na própria escola, também há presença brasileira: mandioca, feijão, maxixe e quiabo fazem parte do cardápio.

"As crianças gostam muito e ainda aprendem sobre os vegetais."
p(wideVideoPlayer). Escola brasileira no Japão

Escola brasileira no Japão


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