Folha de S. Paulo


Brasileiro na ONU denuncia mortes de civis em campanha contra EI na Síria

Fabrice Coffrini - 16.set.2013/AFP
Chairman of the United Nations (UN) Commission of Inquiry on Syria, Paulo Sergio Pinheiro of Brazil, holds a press conference following the presentation of the commission's report before the Human Rights Council's members in Geneva on September 16, 2013. UN-mandated rights investigators said they were probing 14 alleged chemical attacks in Syria, but said they were still unable to pin the blame on either side. AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI ORG XMIT: FAB442
Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da comissão que investiga as violações de direitos humanos na Síria

Os ataques aéreos intensificados da coalizão em apoio a uma ofensiva de forças terrestres aliadas aos Estados Unidos contra a cidade de Raqqa, bastião da milícia terrorista Estado Islâmico na Síria, estão causando "perdas de vidas civis em número assombroso", informaram investigadores de crimes de guerra da ONU (Organização das Nações Unidas) nesta quarta-feira (14).

As Forças Democráticas Sírias (FDS), um grupo de milícias curdas e árabes que conta com o apoio da coalizão liderada pelos Estados Unidos, começaram seu ataque a Raqqa na semana passada, para tomar a cidade dos jihadistas. As FDS, com apoio de fortes ataques aéreos da coalizão, conquistaram território a oeste, leste e norte da cidade.

"Gostaríamos de apontar, especialmente, que a intensificação dos ataques aéreos, que abriu caminho para o avanço terrestre das FDS contra Raqqa, não só resultou em perdas assombrosas de vidas civis mas levou 160 mil civis a fugirem de suas casas e a se tornarem refugiados dentro de seu próprio país", disse Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da comissão que investiga as violações de direitos humanos na Síria, ao Conselho de Direitos Humanos do ONU.

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Pinheiro não mencionou números sobre as baixas civis em Raqqa, onde forças rivais estão envolvidas em uma corrida para capturar território detido pelo Estado Islâmico. O exército sírio também está avançando na região desértica a oeste da cidade.

FÓSFORO

A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch expressou separadamente sua preocupação com o uso de armas incendiárias contendo fósforo pela coalizão sob liderança norte-americana que está combatendo o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, afirmando que elas colocam civis em risco quando usadas em áreas povoadas.

Em discurso ao Conselho de Direitos Humanos, formado por 47 países, em Genebra, a delegação norte-americana não fez referência a Raqqa ou aos ataques aéreos. O diplomata norte-americano Jason Mack classificou o regime sírio como "principal perpetrador" de violações gritantes dos direitos humanos em seu país.

Pinheiro disse que se a ofensiva da coalizão internacional tiver sucesso, poderá libertar a população civil de Raqqa, que inclui mulheres e meninas da minoria yazidi, "a quem a facção manteve como escravas sexuais por quase três anos, como parte de um genocídio continuado e contra o qual nada foi feito", ele acrescentou.

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"O imperativo de combater o terrorismo não deve, porém, ser empreendido à custa dos civis que se veem vivendo a contragosto em áreas nas quais o Estado Islâmico está presente", disse Pinheiro.

Ele afirmou também que 10 acordos entre o governo sírio e facções armadas para a retirada de combatentes e civis de áreas sitiadas, entre as quais a região leste da cidade de Aleppo, em dezembro passado, "em alguns casos podem ser considerados como crimes de guerra", porque os civis "não tiveram escolha".

O embaixador da Síria para a ONU em Genebra, Hussam Edin Aaala, denunciou violações "cometidas pela coalizão ilegal liderada pelos Estados Unidos, que toma a infraestrutura por alvo e matou centenas de civis, entre os quais 30 civis em Deir al-Zor".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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