Folha de S. Paulo


Partido radical cortejado por Theresa May para aliança teve laço paramilitar

Librado Romero-9.set.69/"The New York Times"
FILE â€Ãî The Rev. Ian Paisley speaks to reporters on the steps of City Hall in New York, Sept. 9, 1969. Paisley, Northern Ireland's hardline Protestant leader whose acceptance of a power-sharing compromise with Catholic nationalists helped bring to a close decades of civil strife, died on Sept. 12, 2014 in Belfast. He was 88. (Librado Romero/The New York Times) ORG XMIT: XNYT64 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O reverendo ultraconservador Ian Paisley dá entrevista em Nova York em setembro de 1969, dois anos antes de fundar o DUP

O Partido Democrático Unionista (DUP, na sigla em inglês), agremiação política da Irlanda do Norte que pode garantir que a primeira-ministra britânica Theresa May continue no poder, é tido como um dos mais conservadores do Reino Unido.

Sua política assegura que a Irlanda do Norte seja a única região do país onde o aborto é ilegal, mesmo em casos de estupro e anormalidade fetal. Também são contra o casamento gay e já lutaram contra a descriminalização da homossexualidade.

O partido também se posicionou a favor da saída do Reino Unido da União Europeia e contra a aplicação da Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias, da qual o país é signatário, em defesa da língua irlandesa, além de se opor à ideia da mudança climática e a benefícios extras para aposentados.

Esse perfil mostra-se coerente com a origem do partido, fundado em 1971 pelo reverendo ultraconservador Ian Paisley no contexto do ressurgimento do conflito regional.

A disputa entre os unionistas, que desejam que a região permaneça no Reino Unido, e os nacionalistas, que lutam pela reunificação da Irlanda sob um governo independente, precede a independência da República, mas ganhou um novo contorno a partir do final de 1969.

Naquele ano, na sequência de uma campanha pelos direitos civis dos católicos que foi duramente reprimida, grupos paramilitares unionistas, como a Associação de Defesa do Ulster (UDA), e nacionalistas, como o Exército Republicano Irlandês (IRA), iniciaram uma escalada de violência que levou a mais de 3.500 mortes em três décadas.

Dessas, 52% foram de civis, a maior parte dos quais católicos, mortos em ataques aleatórios de paramilitares unionistas ou pelas Forças Armadas britânicas.

Paisley e o DUP surgiram nesse cenário político como uma alternativa ao partido unionista majoritário UUP (Partido Unionista do Ulster), originário dos primeiros grupos antinacionalistas do final do século 19. Alguns de seus membros foram ligados a organizações paramilitares, como seu atual líder no Parlamento britânico, Peter Robinson, antigo membro da Ulster Resistance.

Durante o conflito, eles se opuseram continuamente a qualquer forma de colaboração com os nacionalistas ou com o governo da República da Irlanda. O DUP foi o único dos grandes partidos a se opor ao Acordo da Sexta-Feira Santa, assinado em 1998, que pôs fim ao conflito.

No entanto, após superar o UUP como maior partido unionista, em 2004, o DUP acabou por mudar sua posição e concordou com a divisão de poder com o Sinn Féin, principal partido nacionalista da Irlanda do Norte, conforme estabelecia o Acordo.

Pelos termos deste, o partido majoritário tem o cargo de premiê e divide o poder em termos igualitários com o vice-premiê, pertencente ao segundo maior partido.

Clodagh Kilcoyne - 6.mar.2017/Reuters
FILE PHOTO: Leader of the Democratic Unionist Party (DUP) Arlene Foster speaks to media outside Stormont Parliament buildings in Belfast, Northern Ireland March 6, 2017. REUTERS/Clodagh Kilcoyne/File Photo ORG XMIT: SMN512
Arlene Foster, líder do Partido Democrático Unionista, discursa diante de prédio do Parlamento em Belfast

LIDERANÇA ABALADA

Arlene Foster, atual líder do DUP, tornou-se primeira-ministra da Irlanda do Norte em janeiro de 2016, tendo o então líder do Sinn Féin, Martin McGuinness, como vice.

O DUP apoiou o "brexit", enquanto o Sinn Féin liderou a oposição à saída da União Europeia. Em meio ao temor de que a retirada signifique a imposição de uma fronteira "dura" com o restante da Irlanda, 56% da população da área votou pela permanência.

Adicionalmente, a liderança de Foster foi abalada no final do ano por acusações de seu envolvimento num escândalo relacionado a um esquema de energia renovável que ela aprovara quando ministra de Empreendimento, Comércio e Investimento.

Como consequência, McGuinness renunciou ao cargo, o que levou à queda de todo o gabinete. Na eleição que se seguiu, pela primeira vez na história, os partidos nacionalistas atingiram o mesmo número de cadeiras dos unionistas, indicando que o "brexit" pode ter feito os nacionalistas avançarem entre a população protestante.

Esse voto aumentou a expectativa de que a realização de um plebiscito, previsto no Acordo da Sexta-Feira Santa, poderia levar a uma reunificação da ilha num futuro próximo, enfraquecendo a posição pró-britânica do DUP.

Embora fortalecida na eleição nacional, a posição do partido é incerta. Por um lado, o Sinn Féin ainda se recusa a indicar o vice-premiê enquanto Foster continuar como líder do DUP, impedindo o reestabelecimento do governo compartilhado.

Por outro, tanto o Sinn Féin quanto o governo da Irlanda denunciaram o acordo com o Partido Conservador de Theresa May como uma ofensa ao Acordo, que prevê que o governo britânico se mantenha neutro na disputa de poder norte-irlandesa.

Editoria de Arte/Folhapress
RESULTADO DAS VOTAÇÕES NO REINO UNIDO
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